Mercado

A inserção do Brasil

O Brasil chegou ao mundo globalizado do século 21 atrasado e com um bilhete de segunda classe.

Nosso comércio internacional cresceu, mas ainda somos basicamente exportadores de commodities agrícolas e minerais.

Temos cerca de 3% da população mundial, mas nossa participação no comércio internacional é de ínfimo 1% do total, muito abaixo de países bem menores, como a Coréia do Sul. Apostamos as fichas de nossa diplomacia num lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU e no êxito da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas até o momento essas aspirações não passam de miragens. Participamos de um bloco regional, o Mercosul, mas carecemos de uma estratégia para acordos bilaterais.

Esses problemas evidenciam que nos falta um projeto para orientar a inserção do Brasil no cenário mundial que corresponda ao tamanho e ao potencial econômico do nosso país. Para isso é preciso que os brasileiros estejam corretamente informados sobre as ações adotadas por nossa diplomacia, de modo a compreender suas razões e apoiá-las enquanto objetivos estratégicos nacionais, que podem e devem transcender governos e partidos. E, para se chegar a um consenso sobre os rumos a serem seguidos, devemos preliminarmente reverter o distanciamento que a maioria das pessoas sente em relação a esses temas, que julgam dissociados de seus problemas cotidianos.

Embora grande parte da sociedade ignore, a integração do Brasil no mercado mundial é uma realidade que vem do nosso passado colonial e dos ciclos econômicos baseados em monoculturas de exportação, como o café e o açúcar, até a recente inversão da mão de direção de nossa balança comercial, que passou de um déficit de R$ 7 bilhões, em 1997, para um superávit de R$ 44 bilhões, em 2005.

Outros êxitos de nosso comércio externo podem ser contabilizados neste início do século 21: a conta corrente de R$ 24 bilhões de déficit em 2000 se converteu em R$ 14 bilhões de superávit em 2005. A soma de importações e exportações hoje atinge 25% do produto interno bruto (PIB), quando era de apenas 11% no início da década de 1990.

Do ponto de vista das negociações internacionais, o Brasil também tem se destacado como articulador do G-20 na OMC e em vários painéis, como o do algodão e o do açúcar. Para além das commodities, a luta por mercado para os aviões da Embraer se tornou emblemática aqui no Brasil e lá fora. Entretanto, apesar desses avanços, o Brasil patina no inexpressivo e já mencionado 1% do comércio mundial.

Vale dizer, somos ainda parte muito pequena de tudo o que acontece. As razões desse atraso são diversas. Falta de consenso operacional sobre comércio externo, tanto no que diz respeito ao governo como no que concerne aos empresários. Outro obstáculo é a overdose de geopolítica nas relações internacionais. É óbvio que nossas relações com países como China, Argentina, Venezuela, Bolívia, Índia ou África do Sul não são de natureza apenas comercial, mas os interesses comerciais existem e devem ser igualmente considerados como objetivos estratégicos.

Nos últimos anos, o Brasil tem logrado êxitos macroeconômicos, como inflação baixa e expressivos superávits comerciais, mas a continuidade desse processo depende de um salto de qualidade em nossa estrutura produtiva. Do total das exportações brasileiras, 60% são produtos pouco ou nada elaborados, o que significa estar na contramão da tendência do comércio mundial, que tem os mesmos 60% das transações representadas por produtos que incorporam avanços tecnológicos. É fundamental, portanto, manter os esforços para salvar a Rodada Doha e, com isso, tornar menos injusto um comércio internacional distorcido pelo protecionismo dos países ricos.

Mas, até para termos êxitos em metas ambiciosas como esta, é preciso que nossa fatia no comércio mundial seja maior, pois em negociações internacionais pode mais quem compra ou vende mais. E quem, a par de seu tamanho, sabe escolher aliados e estratégias de inserção no mundo globalizado.?

*Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomércioSP) e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac, 1.º vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), é presidente do Conselho de Administração do Grupo VR e do Conselho Deliberativo da Fundação Fecomércio de Previdência Associativa

Banner Revistas Mobile