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À frente de 5 tecnologias e oportunidades, etanol avança no mercado global

Do Hidrogênio Verde à combustível de aviação, derivado da cana e do milho cresce mundo afora

À frente de 5 tecnologias e oportunidades, etanol avança no mercado global

O etanol celebra 2023 como personagem principal de pelo menos 5 tecnologias e oportunidades em fase de implementação, de desenvolvimento ou de pesquisa.

Um fato é inegável: independente da fase em que estejam, essas tecnologias atestam a estratégia dos biocombustíveis brasileiros a nível global.

E quais são essas 5 tecnologias e oportunidades que ampliam o mercado já consolidado do etanol nacional, seja ele feito de cana-de-açúcar, de milho ou de outra matéria-prima?

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1 – Ampliação de adição de etanol à gasolina na Índia

O país asiático antecipou de 2025 para este ano a ampliação de 15% para 20% na mistura do biocombustível ao derivado de petróleo

2 – Combustível sustentável de aviação (SAF)

Aqui entra principalmente o bioquerosene de aviação, feito de biocombustíveis, ao contrário do querosene hoje empregado, produzido a partir de combustíveis fósseis

3 – Diesel verde

Também chamado de diesel renovável ou HVO, é obtido de matéria-prima renovável, adequado aos motores que operam no ciclo diesel

4 – Hidrogênio verde

O H2V é produzido a partir da eletrólise da água, com baixa ou nula intensidade de carbono, utilizando energias limpas e renováveis para a sua produção

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5 – Combustível para transporte marítimo

O etanol tem portas abertas nesse transporte rumo à descarbonização

Em céu de brigadeiro?

Diante o quadro pra lá de positivo para o etanol, dá para dizer que esse biocombustível está em céu de brigadeiro?

Para responder a essa e outras questões, o JornalCana entrevista o economista Haroldo Torres, gestor de projetos do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE).

Confira a entrevista com ele, que possui experiência na área de Economia Agrícola, com ênfase no desenvolvimento de modelos e sistemas voltados principalmente para análise de projetos, valuation, análise de custos de produção e pesquisas no setor sucroenergético.

JornalCana – O etanol vive em céu de brigadeiro?

 Haroldo Torres – Sim, mas esse céu de brigadeiro ainda é projetado no médio e longo prazo. No curto prazo, infelizmente o biocombustível não vive esse céu, mas vivencia um cenário de tempestade perfeita em função de alguns vetores.

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JornalCana – Quais são eles?

 Haroldo Torres – Em especial as recentes reduções no preço da gasolina A, provocadas pela Petrobras e o aumento do ICMS para o etanol hidratado no estado de São Paulo, que [desde 1º de julho último] saiu de 9,5% para 12%.

JornalCana – E o que tem ocorrido?

 Haroldo Torres – O que estamos vendo é o aumento dos investimentos em açúcar em detrimentos de aportes em etanol, fruto da melhor remuneração do adoçante.

Sendo assim, inicialmente é importante colocar que vivemos uma dicotomia de curto prazo.

Ou seja, há um céu de brigadeiro projetado e muito promissor para o etano, porém no curto prazo quem está vivendo esse céu de brigadeiro, especificamente nos dois últimos anos, tem sido o açúcar e provavelmente o será na próxima safra (2024/25).

Em síntese, o cenário é muito positivo no médio e longo prazo, mas que infelizmente no curto prazo quem vive esse céu é o açúcar.

JornalCana – Quais os motivos da visão positiva para o etanol no médio e longo prazo?

Haroldo Torres – Em primeiro lugar, [o avanço do etanol] promove o desenvolvimento rural no Brasil. E além de ser um fator de aumento dentro de nossa segurança energética, o etanol também reduz as emissões de gases causadores do efeito estufa em até 90%, comparativamente com a gasolina.

Assim, ele contribui principalmente para a melhora da qualidade do ar nas grandes cidades, ou seja, praticamente elimina as emissões de materiais particulados, que são grandes responsáveis pelo aumento de doenças cardiovasculares e respiratórias e pela mortalidade ao redor do mundo.

É nesse contexto que se insere essa visão muito positiva de médio e longo prazo.

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JornalCana – Tem também a remoção de CO2 pelo etanol

 Haroldo Torres – [Sim] Estudo recente, produzido pela Embrapa, Unicamp e Agroicone, mostra que o plantio de cana-de-açúcar no Brasil removeu cerca de 195 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) em duas décadas.

Assim, a redução da pegada de carbono da produção de cana é parte de uma estratégia para tornar o etanol mais atrativo.

E principalmente diante da força da eletrificação como alternativa para a transição energética para veículos leves.

JornalCana – Como assim?

 Haroldo Torres – Este é o ponto fundamental sobre a oportunidade, o céu de brigadeiro [no médio e longo prazo] para o etanol.

É importante lembrar que o nosso papel é a redução na pegada de carbono, principalmente em substituição da gasolina pelo etanol hidratado e nas oportunidades que ele pode ter no mercado.

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JornalCana – Quais são essas oportunidades?

 Haroldo Torres – Uma delas é a ampliação de 15% para 20% de adição de etanol à gasolina na Índia, que pode significar até 4 milhões de toneladas a menos de açúcar disponível para exportações anuais do adoçante indiano.

Veja que interessante: essa ampliação contribui para a descarbonização, melhoria da questão da qualidade do ar na Índia e, ao mesmo tempo, contribui para a redução em especial da oferta de açúcar no mundo por esse país.

JornalCana – Haverá reflexos no mercado de açúcar?

 Haroldo Torres – Isso inclusive pode colaborar com a valorização do preço dessa commodity, contribuindo também para os produtores brasileiros.

Tanto é que a necessidade de etanol para se misturar em 20% na gasolina será de praticamente 10 bilhões de litros por ano no período de 2024 e 2026 especificamente para esse caso na Índia.

JornalCana – Seguindo as oportunidades, como o sr. avalia o etanol na transição energética?

 Haroldo Torres – Quando se olha para a transição energética, há uma série de apostas sendo feitas.

Seja em hidrogênio verde, diesel verde, combustível sustentável de aviação (SAF), são apostas para colocar o etanol no centro da transição energética.

Pegue-se o caso do SAF a partir do etanol. Até 2050, 60% de todo o combustível de aviação produzido na Europa deve vir de fontes renováveis.

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JornalCana – O SAF, assim, é uma porta de expansão no médio prazo?

 Haroldo Torres – De fato o SAF é uma fronteira. O famoso bioquerosene de aviação [como é chamado] é uma nova fronteira para o etanol de cana.

Inclusive foi feito recentemente um estudo pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) sobre a sustentabilidade do bioquerosene de aviação feito a partir do etanol de cana.

Isso mostra, também, que irá trazer oportunidades efetivas para a fabricação de combustíveis sustentáveis de aviação, o SAF, a partir da rota do etanol.

JornalCana – O que mais?

Haroldo Torres – [O SAF] é o primeiro caminho. No segundo caminho a gente pode ter o metanol para o transporte marítimo.

Já temos vários casos como o da Cargill, buscando aumentar o uso de biocombustível e de metanol em navios para reduzir as emissões.

Há também a Honeywell, que desenvolveu uma rota tecnológica para converter metanol em biocombustível renovável de aviação (SAF).

JornalCana – Isso já é realidade?

 Haroldo Torres – Este caminho, de uso do metanol para o transporte marítimo, já está acontecendo. Ou seja, nesse transporte veremos uma forte pegada para a descarbonização, e o etanol pode ser também essa oportunidade.

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JornalCana – O que mais?

Haroldo Torres – Gostaria de falar do Hidrogênio Verde. No Brasil temos um projeto inédito a partir do etanol. Ou seja, já temos uma planta dedicada para esse tipo de projeto para entrar em operação neste ano e produzir 50 metros cúbicos por hora.

JornalCana – Esse é um exemplo prático de estratégia do etanol?

 Haroldo Torres – É de fato o etanol ser o vetor da produção de hidrogênio renovável, aproveitando a logística já existente na indústria de etanol.

Ou seja, o carro movido a hidrogênio certamente é uma das apostas da indústria automobilística global no processo de eletrificação de descarbonização.

JornalCana – E onde entra o etanol?

 Haroldo Torres – Um carro movido a hidrogênio é essencialmente elétrico.

A diferença em relação ao elétrico convencional é que ele não usa uma carga externa, ou seja, ele funciona por meio de uma reação química entre o hidrogênio e o oxigênio.

O hidrogênio é armazenado em um tanque e o oxigênio vem de fora do carro. É essa mistura que causa a reação química, liberando a energia.

Já temos a Shell e a Raízen fazendo testes, trabalhando.

Sendo assim, a gente tem de fato a produção de hidrogênio via reforma a vapor do etanol, que pode ser uma oportunidade muito importante.

JornalCana – Mesmo assim, como o sr. já mencionou, há uma dicotomia?

Haroldo Torres – Há, mas de curto prazo e, neste cenário, fruto do cenário que estamos vivendo no mercado de combustíveis do Brasil. Mas o que vejo é um cenário bem positivo para o etanol no médio e longo prazo.

Esta matéria faz parte da edição 346 do JornalCana. Para ler, clique AQUI!

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