Bactérias, actinomicetos, fungos, protozoários e vírus. Essa é a turma, que interagindo de forma conjunta, influenciam na fertilização do solo. Controlar essa capacidade de interação, estimulando ou desencadeando novas transformações químicas, é um dos novos desafios dos produtores rurais, que buscam aumentar a produtividade, mesmo diante de condições adversas como períodos de restrições hídricas.
O assunto foi a pauta da 3ª Maratona CANABIO – Fertilidade & Microbiologia do Solo, realizado no dia 28 de julho. O webinar contou com a participação de Aloísio Meloni, gerente Técnico Corporativo da Viterra Bioernergia S/A, Antônio Marques da Silva, gerente regional de vendas da Microgeo e Renato Delarco, produtor de cana e sócio da RR Agrícola Renascer.
Ao longo de quase duas horas, sob a condução do jornalista Alessandro Reis, do JornalCana, os participantes apresentaram importantes experiências e reflexões sobre o tema. O evento on-line contou com o patrocínio das empresas Agrobiológica Sustentabilidade, AxiAgro, Microgeo, HRC e Wiser.
Em sua apresentação Aloísio Meloni da Viterra, empresa com duas unidades de processamento de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo (Rio Vermelho em Junqueirópolis e Unialco em Guararapes) com capacidade de processamento de 6,4 milhões de toneladas/safra, destacou o projeto de implementação de uma biofábrica para a fabricação de adubo.
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Segundo Aloísio, o trabalho começou com pequenos tanques experimentais, e se estruturou possibilitando o aperfeiçoamento no manejo, contribuindo para redução dos custos com tratos culturais.
“Fizemos experimentos com o pessoal da Unesp em Dracena, criamos um sistema todo automatizado, que permite saber a quantidade de cada elemento necessário e a partir daí começamos a montar nossos fertilizantes. No futuro a tendência é cada vez mais expandir a microbiologia a fim de melhorar a produtividade e a qualidade nas operações aumentando a eficiência”, contou.
Manejo biológico
Antônio Marques da Silva, da Microgeo, iniciou sua apresentação com uma questão: Como restabelecer o microbioma do solo? Segundo ele, a resposta está no manejo biológico, através do qual se pode alcançar maior eficiência produtiva e garantir aumento da lucratividade. E o Microgeo, insumo que dá nome a empresa, é uma biotecnologia que restabelece o bioma. Trata-se de um componente balanceado que nutre, regula e mantém a produção contínua do Adubo Biológico através do Processo de Compostagem Líquida Contínua.
A empresa trabalha com implantação de biofábricas onde são produzidos adubo biológico. “Trabalhamos basicamente com dois modelos: BIM-Biofábrica Inteligente de Microgeo, que atende áreas de até 5 mil hectares e a BEM – Bioestação de Microgeo para áreas maiores. Os projetos são 100% automatizados e por um aplicativo de celular se tem o controle de toda a operação”, disse.
Por conta das variações geográficas, Antonio Marques ressaltou a importância de que cada propriedade tenha sua biofábrica. “A gente tem clientes ou fornecedor usina e às vezes tem propriedade em Minas tem propriedade de São Paulo tem propriedade de outro estado, que já vão trabalhar na localidade que ali está adaptada a condição local os microorganismos e o melhor resultado vai acontecer naquele formato”.
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Ele explicou que na composição dos adubos biológicos, estão contidos: nutrientes, que favorecem a atividade microbiana nativa do solo; alta biodiversidade de microrganismos adaptados ao local de uso, com mais de 300 grupos diferentes, para cada tipo de situação. Entre as vantagens estão a agregação e descompactação do solo, maior infiltração e retenção de água e menor erosão do solo. Além da eficiência nutricional com maior enraizamento, maior eficiência dos fertilizantes, biossolubilização dos minerais e ciclagem de matéria orgânica.
Mundo invisível
O produtor de cana e sócio da RR Agrícola Renascer, Renato Delarco, afirmou que esse mundo invisível da microbiologia é muito complexo e de fundamental importância para a cultura da cana-de-açúcar. Ele informou que nos últimos anos, o grupo vem buscando uma agricultura orgânica, e o Microgeo foi uma das ferramentas de trabalho adotadas.
Como fonte de fertilizante na cultura de cana, nós estamos usando um fertilizante organomineral que a nossa composição é 600 kg de esterco de galinha poedeira com npk fechando uma forma 10 5 10.
A primeira etapa é a aplicação do Microgeo na palha da cana soca. A segunda é a aplicação de fertilizantes organominerais. E numa terceira etapa aplicação de Microgeo. Nessa terceira etapa também inclui a implementação de leguminosas. Por fim, a quarta etapa inclui a desdobra das ruas de meiose, e o uso de Microgeo no Tampador.
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Delarco também chama a atenção para a questão do nitrogênio, na sustentabilidade dos sistemas agrícolas. “A cana é a segunda maior cultura em consumo de nitrogênio no Brasil e o milho é o primeiro. E no futuro nós seremos cobrados pela quantidade de CO2 que vamos emitir na atmosfera”, alertou.
O produtor ressaltou ainda que somente 30% do nitrogênio é aproveitado em forma de fertilizante para o cultivo da cana, sendo que os outros 70% vem dessa matéria orgânica do solo.
“Nós temos três tripés na agricultura: o primeiro que foi o físico, no início do século com os equipamentos agrícolas; o segundo na década de 40/50, com o surgimento dos fertilizantes, a uréia foi um dos primeiros. Só que estamos capenga. Falamos em tripé, mas só estamos com dois pés. Cadê o terceiro?”, questionou.
De acordo com ele, o terceiro, tão importante quanto os outros e que dá o equilíbrio, é o biológico. “Esse ninguém viu porque ele é muito complexo, difícil de se lidar, difícil de se entender. Conhecemos praticamente tudo relativo à mecânica do solo, em termos de fertilizantes pouco se tem a descobrir. Agora na microbiologia nós estamos apenas engatinhando. Vamos ter que aprender muito em microbiologia sob o risco de não conseguir avançar na agricultura”, alertou Delarco.
Joacir Gonçalves