A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada das Nações Unidas (ONU) para a meteorologia, alerta para um possível retorno do fenômeno atmosférico El Niño, que pode ocorrer entre os meses de abril e junho deste ano.
Segundo a agência, há uma probabilidade de 15% de o El Niño voltar entre abril e junho. As chances sobem para 35% entre maio e julho, e são de 55% de junho a agosto.
O El Niño provoca um aquecimento fora do normal das águas do Oceano Pacífico na parte equatorial, elevando as temperaturas globais.
Nos últimos três anos, o mundo esteve sob influência do La Niña, que esfria as águas do Pacífico na mesma região e contribuiu para frear temporariamente o aumento das temperaturas no planeta.
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Os analistas são cautelosos em apontar possíveis impactos do El Niño na produção agrícola brasileira, já que ainda não é possível saber qual será a intensidade do fenômeno que pode ter início esse ano.
Mas, com base na ocorrência do evento climático no passado, é possível obter algumas pistas. Na cultura de cana-de-açúcar, o pico da safra no Brasil ocorre entre abril e agosto. “Se vier um El Niño forte, ele pode levar a um inverno mais úmido. Isso é ruim para o ritmo da safra de açúcar, porque, se chove demais, as usinas não conseguem moer”, explica Lívea Coda, analista de açúcar e etanol da HedgePoint.
“Também é ruim para a concentração de sacarose, porque, nessa etapa do desenvolvimento da cana, se chove muito, ela fica mais ‘aguada’, com menor concentração de açúcar. Então, poderia ser ruim para a safra 2023/24 do Brasil”, diz Coda.
Segundo ela, se o fenômeno se estender de dezembro a fevereiro, a precipitação no Centro-Sul pode diminuir, principalmente no norte de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, comprometendo a próxima safra.
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“Havendo um evento climático que afete a moagem, afeta tanto para o açúcar, como para o etanol. Se tiver um El Niño muito forte, que atrapalhe o ritmo da safra, pode ter um impacto na disponibilidade total de produto, e isso é uma pressão inflacionária para preços”, explica.
“Mas precisaria ter um evento muito forte, muito relevante, para isso acontecer e termos de fato um problema na safra brasileira de cana”, diz a especialista.