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Açúcar brasileiro representará 22,8% da produção global do alimento na safra 2023/24

Produção nacional deve chegar a 45,34 milhões de toneladas

Açúcar brasileiro representará 22,8% da produção global do alimento na safra 2023/24

O panorama do mercado de açúcar, desde o final de julho, não se alterou em termos de tendência afirmou a StoneX em recente estimativa de saldo global da commodity.

O levantamento mostra que em dois meses, o contrato contínuo do NY#11 subiu mais de 200 pontos, cerca de 10,4%, e o março/24, mais líquido no momento, se consolidou acima de US¢ 27,00/lb, o maior patamar desde outubro de 2011.

Segundo a consultoria, um dos indicadores consolidados nos últimos meses foi o spread entre a segunda tela e a primeira, que operou seguramente em mais de 20 pontos, dando o tom das operações e do balanço do alimento: expectativa de estoques ainda mais apertados no médio prazo.

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“Em agosto, o clima nos mercados asiáticos não foi benéfico para o desenvolvimento das safras nos principais produtores, tensionando fortemente as cotações futuras. Nesse sentido, mesmo que o Centro-Sul brasileiro caminhe para cifras recordes (em volume de moagem e em produção de açúcar) sua contribuição para a oferta internacional não parece suficiente para frear a escalada dos preços”, explica.

A potencial ausência da Índia das exportações em 2023/24 (out-set), país cujas estimativas produtivas são cada vez mais pessimistas, somada a menor oferta na Tailândia, são fatores que já são precificados no curto prazo pelo mercado, que já começa a trabalhar com um balanço praticamente equilibrado entre oferta e demanda no próximo ciclo – após três safras seguidas de déficit entre 2019/20 e 2021/22, e uma temporada 2022/23 que se encaminha para um leve superávit, quase inteiramente trazido pela abundante produção no Brasil.

Confira as estimativas da consultoria para cada região produtora de açúcar:

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Ásia

No nordeste da Tailândia, o primeiro trimestre de 2023 foi o pior em termos de chuvas em, pelo menos, 30 anos. Com a atuação do El Niño, como já era esperado, o ciclo de monções na Índia e em território tailandês tem sido significativamente abaixo da média. O mês de agosto foi o menos chuvoso em mais de um século para os campos indianos, o que, mesmo após a melhora das chuvas em setembro, deve impactar negativamente suas safras.

Na Índia, no início de setembro, agentes do governo de Maharashtra (MH), que foi o estado que mais produziu açúcar em 2021/22, trouxeram uma estimativa de 9,0 milhões de toneladas para a região, que já seria 1,5 MMT menor que o ciclo 2022/23.

De fato, as chuvas no sul indiano vêm em déficit significativo – de 9% em MH e de 20% em Karnataka (KA), na temporada 2023 de monções – e, contando com uma possível queda de área colhida na região como um todo, é possível que MH e KA juntos tenham uma temporada de até 3,0 MMT de quebra na produção de açúcar. Ainda, os rumores de que a Índia pode barrar as exportações da commodity na próxima safra, seguindo a prática realizada em outros mercados, como o arroz, dão pistas do que pode ser o ciclo 2023/24.

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Assim, a StoneX estima que a fabricação açucareira indiana deve chegar a 30,0 milhões de toneladas (valor branco), corte de 1,3 MMT frente ao estimado em ju-lho/23. Esse volume representaria uma quebra de 8,5% frente a 2022/23, resultado de uma possível queda de 14% na produtividade dos canaviais na Índia pelos efeitos da escassez de chuvas e do El Niño.

Um ponto importante que deverá ser central para o setor sucroenergético na Índia, daqui para frente, é a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, em uma perspectiva negativa para a oferta de biomassa em 2023/24 e em 2024/25 (quando a temporada pode ser novamente afetada pela ausência de chuva, por conta da característica cíclica da cultura). Nesse sentido, muito já se discute sobre a possibilidade de que menores volumes de açúcar sejam desviados para a fabricação do etanol, interrompendo a tendência dos últimos anos de crescimento do setor.

Na Tailândia, o ciclo de monções teve um bom início no mês de junho, porém foi se dissipando com volumes de precipitações abaixo da normalidade em julho e em agosto. Além disso, a escassez hídrica vem desde o início do ano nas principais regiões produtoras de cana e, por isso, a moagem em 2023/24 deve ser negativamente impactada por quebra na produtividade.

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(Divulgação Czarnikow)

Somado ao menor rendimento agrícola, o setor vivencia um ciclo de menor área de cultivo, uma vez que muitos produtores têm trocado área de cana por mandioca, que vem desde o ano passado em forte valorização no mercado doméstico. Na próxima temporada, a Tailândia deve atingir uma moagem de cerca de 76 milhões de toneladas, cerca de 18 MMT a menos que 2022/23. Como resultado, a estimativa para a produção de açúcar no país é de 8,9 milhões de tons (valor bruto), o que representaria uma queda anual de 22%.

Outro importante player na Ásia que continua no radar do mercado e que pode causar alguma influência na dinâmica de preços é o Paquistão, onde o ciclo 2022/23 teve forte quebra por conta do excesso de chuvas nos canaviais. Em 2023/24, a produção de açúcar deve aumentar levemente para 7 milhões de toneladas, em uma temporada de recuperação.

Diferentemente da Índia e da Tailândia, os principais produtores paquistaneses (Sindh e Punjab) vivenciam chuvas de monções acima da média em 2023, embora tenham registrado um mês de agosto menos chuvoso. Nesse sentido, a fabricação açucareira deve crescer na nova safra, aliviando marginalmente a oferta asiática.

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Europa

Em 2022, as ondas de calor afetaram fortemente os campos de beterraba sacarina nos principais produtores de beterraba da União Europeia. Além disso, desde 2018/19, o bloco tem registrado queda na área de plantio, especialmente na França, onde o uso dos neonicotinoides está cada vez mais limitado, desincentivando o cultivo no país. Neste ano, as estimativas iniciais são de recuperação do setor, que vem de forte quebra em 2022/23, uma vez que os preços do açúcar e da beterraba são extremamente atrativos para o plantio da cultura.

O mercado se preocupou há alguns meses com o clima no continente europeu, que passou por algumas ondas de calor, novamente, em maio e junho de 2023, porém, o cenário se dissipou e as chuvas voltaram a patamares acima da média a partir de julho. Respondendo a essa melhora, a Comissão Europeia revisou de 73,7 para 74,5 ton/ha a produtividade da beterraba sacarina na UE27 para 2023/24, valor 3,5% acima da média de 5 anos. Portanto, a União Europeia e o Reino Unido devem, juntos, produzir 16,7 milhões de toneladas de açúcar em 2023/24, aumento anual de 6,4%.

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Na Rússia, até meados de setembro, 56 usinas já operavam no país, contra 52 unidades no ano passado. O ciclo que tem início em agosto está adiantado em 2023, e cerca de 20% da área disponível de beterraba no país já foi colhido, com uma oferta na casa de 10 milhões de toneladas de beterraba e 1,0 MMT de açúcar, até o momento.

Para 2023/24, o processamento russo do tubérculo deve ter aumento de mais de 6%, e a produção de açúcar tende a aumentar para 6,3 milhões de toneladas (+3,4%). As entidades nacionais, no entanto, têm alertado o mercado de que as safras encontram uma limitação do lado dos custos, uma vez que a Rússia tem enfrentado dificuldade no fornecimento de diesel e outros combustíveis para o maquinário agrícola.

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Américas

Assim como na Ásia, o clima tem penalizado as safras de açúcar na América do Norte e na América Central. Nos Estados Unidos, a seca tem assolado alguns estados do Sul, como o Texas e a Louisiana, importantes regiões produtoras de cana-de-açúcar no país. Nesse sentido, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) revisou, em setembro, a produção açucareira nacional, para 8,15 milhões de tons – o que seria uma leve queda anual de 3%, que seria compensada pelas excelentes condições da safra de beterraba no Minnesota.

No México, após os canaviais do país registrarem a pior produtividade desde, pelo menos, 1970, a expectativa inicial era de recuperação em 2023/24. Contudo, grande parte do território nacional se encontra em seca, o que pode prejudicar novamente a safra a partir de outubro.

A StoneX, assim, cortou marginalmente a estimativa de produção mexicana, para 6,0 milhões de toneladas (bruto), 11% acima de 2022/23, valor que viria por uma recuperação do rendimento agrícola, que deve, por outro lado, se manter abaixo da média.

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Esse volume, importante pontuar, pode não ser atingido caso as condições atuais se mantenham, com o potencial de o ciclo 2023/24 ficar próximo do que foi o anterior. O cenário de escassez hídrica é similar em diversos players na América Central (região próxima do México e do Sul dos Estados Unidos), que deve ter queda anual de 3,8%, chegando a 5,1 milhões de toneladas.

No Brasil, as expectativas para o Centro-Sul continuam excelentes. Para as safras 2023/24 (abr-mar) e 2024/25 (abr-mar), a StoneX aguarda dois recordes seguidos na moagem de cana (em 623 MMT e 629 MMT, respectivamente) e na produção de açúcar (sob mix açucareiro maximizado).

Somado ao Norte-Nordeste, que, por mais que seja prejudicado pelo menor volume de chuvas em 2023 deve manter sua produção de açúcar estável pelo maior mix açucareiro, dentro do calendário-safra 2023/24 (out-set) internacional, a produção brasileira de açúcar deve chegar a 45,34 milhões de toneladas (valor bruto), aumento de 4% frente a 2022/23.

Como já era esperado, o ciclo 2023/24 depende centralmente do desempenho climático nos players asiáticos, que foi pouco benéfico em termos de chuva na Tailândia e Índia. No Brasil, como mencionado, a safra no Centro-Sul vem registrando recordes na produtividade agrícola e o país fica como grande ofertante e praticamente único grande exportador ativo no mercado no curto prazo. Nesse aspecto, quando o Centro-Sul entrar na entressafra, a partir de novembro com menores ritmos de moagem, e os excedentes para exportação forem diminuindo, os estoques globais devem ficar ainda mais limitados, especialmente no primeiro trimestre de 2024. As expectativas para Índia e Tailândia, por sua vez, trazem uma visão pouca animada em termos de oferta para o final da temporada 2023/24.

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Estimativa de saldo global de açúcar

Em termos de balanço de O&D global, a StoneX estima, leve déficit de 0,29 milhão de toneladas de açúcar em 2023/24 (out-set), corte frente ao superávit (de 0,3 MMT) estimado em julho/23.

Os ajustes realizados na produção de alguns players (principalmente, da Ásia) vão em linha com o comportamento do clima entre os meses de julho e setembro. Para o consumo global, a estimativa é de que haja aumento de 0,9% frente a 2022/23, chegando a 192,2 milhões de tons. Com isso, os estoques finais devem cair para 74,1 milhões de toneladas (-0,4%), fazendo com que a relação estoque/uso caia para 38,6% (-0,5 ponto percentual), menor valor desde a safra 2011/12.

As principais safras internacionais para o açúcar já terminaram dentro do calendário 2022/23, muitas delas já no primeiro semestre e com os dados fechando ao longo dos meses.

Daqui para frente, ficarão no radar os fechamentos oficiais para os ciclos no Paquistão, cuja estimativa é de 6,8 milhões de toneladas (valor branco), queda de 15% frente a 2021/22 causada pelo excesso de chuvas e enchentes nos principais estados produtores; e para a União Europeia e Reino Unido, outra região que observou queda produtiva decorrente do clima. Caso haja quaisquer surpresas quanto aos números dessas regiões, o número para o saldo de 2022/23 pode mudar, o qual, no momento, segue numa perspectiva estável uma vez que, como mencionado, praticamente todas as safras já possuem números finais.

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Brasil

Neste mês de setembro, o Ministério de Abastecimento da Agricultura e Pecuária (MAPA) divulgou o fechamento da safra 2022/23 (set-ago) do Norte-Nordeste brasileiro. No período, a produção da região atingiu 61,6 milhões de toneladas de cana (maior desde 2011/12) e 3,49 MMT de açúcar, sob um mix açucareiro de 46,4%. No Centro-Sul, até agosto, dentro do calendário 2023/24 (abr-mar), a região produziu 33,5 milhões de toneladas de açúcar (tel quel) e, com a perspectiva de que se produza ao redor de 5,9 MMT em setembro, o CS deve fechar 2023/24 em cerca de 40,2 milhões de tons (valor bruto) – aumento anual de 34,5%.

Nesse final da safra 2022/23, o mercado global de açúcar se encaminha para um superávit, mas em um volume pequeno se colocado em perspectiva com as três safras anteriores de déficit e estoques internacionais extremamente limitados. No geral, o Brasil, assim como será em 2023/24, será o grande protagonista no que tange a oferta da commodity, representando 22,8% da produção global – aumento anual de 5,2 ponto percentual – ganhando share frente a queda produtiva na Índia, principalmente.

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Em termos de balanço de O&D global, a StoneX estima um superávit de 1,3 milhão de toneladas de açúcar em 2022/23 (out-set), praticamente estável frente ao estimado em julho/23. Assim, os estoques finais ficam em 74,4 milhões de toneladas (+1,8%), fazendo com que a relação estoque/uso suba para 39,1% (+0,3 ponto percentual) frente a 2021/22.