Jacyr Costa Filho*
Dentre os diversos riscos que o produtor rural brasileiro tem que enfrentar, é a chamada crise climática que tem tomado contornos dramáticos.
Vivemos a oitava onda de calor e estamos no meio da primavera.
As enchentes no Rio Grande do Sul e a intensa seca e os consequentes incêndios que assolam a região Centro Sul são apenas alguns exemplos dos extremos climáticos que enfrentamos e que têm repercutido nas safras atuais e nas projeções para as próximas colheitas.
Em recente apresentação no Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Fiesp, Jean Pierre Ometto, pesquisador sênior do INPE, compartilhou dados históricos e previsões sobre o preocupante impacto das mudanças climáticas.
Segundo estudos do INPE entre 2013 e 2022, o Brasil perdeu estimados R$ 216 bilhões em sua produção agrícola e pecuária devido a eventos climáticos extremos.
A seca foi responsável por 86% dessas perdas, enquanto as chuvas excessivas resultaram em prejuízos de R$ 30 bilhões.
O impacto é particularmente grave na pecuária, onde 90% das perdas foram causadas pela falta de água, somando R$ 70 bilhões.
Reflexo de mudanças climáticas
Esses dados são reflexo de mudanças climáticas que já estão alterando profundamente o ambiente no qual o agronegócio brasileiro opera.
No interior do Nordeste, por exemplo, houve uma redução de até 40% nas chuvas nos últimos 10 anos, comparado com dados de 60 anos atrás. No Sul, a situação é oposta: o aumento de precipitação chegou a 30% na última década.
Além disso, algumas regiões já enfrentam aumento de até 3ºC nas temperaturas. O aumento das temperaturas traz uma série de problemas.
O crescimento das plantas e o conforto dos animais são comprometidos e há uma maior incidência de pragas e insetos, uma vez que o desequilíbrio climático impacta espécies aclimatadas a condições específicas.
Diante da nova realidade, o agro brasileiro precisa de uma abordagem estratégica para enfrentar os desafios do clima, adotando tecnologia, análise de dados e recursos, como bioinsumos, aprimoramento genético e uso da irrigação.
Diante desse cenário, é fundamental que todos os atores envolvidos com o agro– produtores, fornecedores de insumos, governo – adotem uma abordagem estratégica e bem planejada para enfrentar esses desafios.
O planejamento de produção precisa integrar variáveis como: disponibilidade de recursos tecnológicos, dados climáticos e financiamento para adaptações, além da necessidade de ampliação e modernização do seguro rural.
O desenvolvimento de variedades mais resistentes, por meio do aprimoramento genético, e o investimento em irrigação serão peças-chave para o setor.
Além disso, o Brasil deve continuar avançando em sustentabilidade, investindo em agricultura regenerativa, na redução do uso de fertilizantes fósseis e na adoção de combustíveis renováveis, como o biometano, nos caminhões.
Apesar dos desafios, o Brasil possui uma vantagem tecnológica em relação a muitos países.
A adaptação da soja ao clima tropical, o plantio direto, o sistema ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta) e a produção de biocombustíveis são exemplos de inovações que mostram nossa capacidade em superar obstáculos.
Mas crise climática exige esforço e renovação constantes para garantir a sustentabilidade do agro brasileiro. Essas mudanças não são uma ameaça distante; elas estão aqui, e o futuro da produção agrícola depende da nossa capacidade de adaptação.
*Presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp/Cosag e Sócio na Agroadvice