Com o objetivo de fomentar a discussão sobre as oportunidades de negócio do mercado de bioinsumos e apresentar um panorama atual do Brasil e do mundo, foi realizada a primeira edição do Fórum Bioinsumos no Agro, nesta segunda (16), na sede da Fiesp, em São Paulo -SP.
O evento foi promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), CropLife Brasil, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou na abertura que está pleiteando uma alteração no decreto presidencial que regulamentou os bioinsumos para incluir uma cadeira para o setor empresarial, especialmente a indústria, no Conselho Estratégico do Programa de Bioinsumos.
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“Assim poderemos, a exemplo deste evento, debater melhor o setor. Certamente os bioinsumos terão um grande papel no futuro do agro brasileiro, mas este crescimento deve ser embasado em ciência e debates. O nosso país tem competência para caminhar para um futuro e garantir cada vez mais a liderança na produção de alimentos, sempre com sustentabilidade e segurança alimentar”, disse.
Segundo o presidente do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP (COSAG), Jacyr Costa, que também preside o Conselho Consultivo do Fórum Bioinsumos no Agro, o crescimento dos bioinsumos no Brasil em uma taxa acima da registrada mundialmente mostra a posição de vanguarda do país nesse setor.
“Contamos com uma biodiversidade que poucos países têm, além de institutos de pesquisa públicos e a iniciativa privada que vêm desenvolvendo um papel fundamental na área de bioinsumos”, afirmou.
Para incentivar o crescimento, o vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato Nacional de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg), João Sereno Lammel destacou a importância da regulamentação do setor. “A regulamentação é fundamental para estimular o investimento das empresas nessa área para que possam continuar desenvolvendo novidades e produtos que garantam o crescimento continuado no futuro do segmento”.
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O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia e Nutrição Vegetal (Abisolo), Roberto Levrero, afirmou que a expansão na utilização dos bioinsumos na produção agropecuária vem contribuindo para a consolidação da produção sustentável de alimentos, proteínas, fibras e combustíveis.
“Em 2019, a Abisolo fez o primeiro levantamento mercadológico sobre biofertilizantes. Para nós era muito importante entender o que esse segmento representava para o setor. E a grata surpresa foi que os biofertilizantes e os produtos que contêm biofertilizantes nesse primeiro levantamento representaram um faturamento de R$ 2,1 bilhões”, frisou Levrero. Um segundo levantamento apontou que em 2022 o faturamento foi de R$ 4,8 bilhões e de 2019 para cá, o crescimento foi de 32 % ao ano, sendo a percepção de valor pelos agricultores a maior justificativa para esse crescimento. “Os resultados de produtividade e de qualidade são evidentes e o aumento da adoção desses produtos só vai aumentar”, projetou.
O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), Tirso Meirelles salientou que São Paulo está se consolidando como um centro de excelência de alta tecnologia de bioinsumos, com a participação de startups, para que se possa atender os produtores rurais de forma on-line com inteligência artificial.
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Panorama do mercado de bioinsumos
Segundo André Dias, diretor da Kynetec para a América Latina, em 2018, o mercado global de bioinsumos era de aproximadamente US$ 4 bilhões e as projeções indicavam um crescimento ao redor de US$ 11 bilhões em seis safras.
O mercado brasileiro movimentou na safra 2022/23 montante de US$ 20 bilhões em bioinsumos, um crescimento de 12% de faturamento, muito acima dos 4% estimados para o mercado global. O Brasil também registrou um crescimento de 9% da área tratada com bioinsumos na safra 2022/23 ante 3% registrado na safra 17/18, o que posiciona o país como altamente eficiente na produção com o uso dessas tecnologias.
Políticas públicas: aspectos atuais e perspectivas
O segundo painel teve como debatedores a diretora de Bioindústria e Insumos Estratégicos da Saúde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Cleila Guimaraes; o secretário de Defesa Agropecuária Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Carlos Goulart; e o diretor executivo de Pesquisa e Inovação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Clenio Nailto Pillon, com moderação do vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Arnaldo Jardim.
Cleila Guimaraes, do MDIC, destacou que o marco regulatório brasileiro, no que concerne ao setor de agro, é complexo e precisa ser atualizado considerando a dinâmica das inovações tecnológicas. “Seria interessante aplicar ao setor agro a reestruturação das práticas regulatórias, implementando a Guilhotina Regulatória”, defendeu.
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A Guilhotina Regulatória é um mecanismo de reforma do marco regulatório que promove a simplificação administrativa por meio da identificação e revogação de atos normativos obsoletos. Seu objetivo é retirar do Estoque Regulatório as normas que não têm mais validade por meio da publicação de um instrumento revogador único, tornando o acervo mais enxuto, organizado e acessível. Outra boa prática, citada por Cleila, seria a adoção de Análises de Impacto Regulatório (AIR) antes da proposição de novas normas.
“Considero a Guilhotina Regulatória e as AIRs boas práticas para regular o setor. É fundamental a ampliação do corpo técnico dos agentes regulatórios e sua atualização periódica. Somando-se a isso, o Estado deveria realizar com uma certa periodicidade a elaboração de roadmaps, utilizando dessas metodologias para definir estratégias, políticas e atualizar os marcos regulatórios com periodicidade definida. Isso traria mais segurança jurídica para os investimentos em inovação tecnológica”, acrescentou a diretora do MDIC.
Para Clenio Pillon, da EMBRAPA, o tema é muito desafiador, já que, nos anos 90, os biológicos não tinham a atenção necessária. “Hoje ninguém tem dúvidas de que o futuro da agricultura será pautado em uma base biológica, o que não significa o abandono dos defensivos químicos. O interessante é que possamos integrar cada vez mais as diferentes soluções para produzir com eficiência e baixo custo. Químicos e biológicos têm um papel importante e acreditamos em uma sequência de evolução, mas para isso é fundamental que sigamos investindo em ciência no Brasil”.
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Já Carlos Goulart, do MAPA, pontuou que a regulação aplicada para os bioinsumos no Brasil é saudável, visto que o país lidera o mundo em crescimento e uso de biológicos.
“Isso não seria possível se a regulação não permitisse. Hoje 100% de toda a indústria que está aqui tem uma única reclamação unânime ao Poder Executivo: o tempo de demora entre peticionamento e liberação de registro de base química. A falta de comunicação assusta a sociedade civil, que pensa existir um excesso de registros e que todos os produtos registrados estão em uso na produção de alimentos”, alertou.
Para Goulart, a questão mais urgente e que todos os elos da cadeia, Governo, produtores, usuários do produto e quem oferta concordam é a necessidade de uma regulação e o estabelecimento do rigor sobre ela.
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Biodefensivos
As novas tecnologias no mercado de biológicos foram debatidas pelo professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Paulo Arruda, que trouxe uma visão acadêmica, evidenciando que o crescimento apresentado no setor é decorrente de décadas de pesquisas realizadas independente de investimentos privados e que ajudaram o Brasil a alcançar o atual status de relevância.
“Nessa trajetória, os microrganismos surgem como elementos-chave para uma agricultura sustentável, maximizam a produtividade e a resiliência das plantas ao promover aquisição nutricional, tolerância à seca, defesa contra patógenos e hormônios vegetais”.
De acordo com o professor, entre os anos de 1950 e 2023, foram publicados 169.597 trabalhos em revistas científicas, 92% sendo nos últimos 10 anos. Até 2022, mais de 400 produtos foram registrados para uso como controle biológico no Brasil. No entanto, esse número compreende apenas 30% dos microrganismos identificados no meio. “Existem ainda uma infinidade de microrganismos importantes com potencial superior às soluções já existentes no mercado”.
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Biofertilizantes e Bioinoculantes
O quarto painel contou com a moderação do presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Caio Carvalho, e teve a presença do professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Átila Mógor, seguido pelas apresentações do diretor Executivo da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), Sólon Cordeiro de Araújo e do professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), Fernando Andreote.
Ao abordar o papel dos biofertilizantes na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, o professor Átila Mógor relembrou que o estresse abiótico, causado por elementos não vivos, como o clima e déficit hídrico, principalmente nos períodos de estiagem na fase reprodutiva, foram os principais responsáveis pelas quebras de produção de soja, ocorridas no Brasil entre as safras 2015/2016 e 2019/2020. Entretanto, a planta tem capacidade de se readaptar de algumas formas, seja pelas enzimas ou pelo acúmulo de compostos nas células.
“Os biofertilizantes também têm o potencial de mitigar os efeitos do estresse abiótico, pois contêm ingredientes ativos e/ou agentes orgânicos promotores de bioatividade, isentos de substâncias agrotóxicas e de microrganismos capazes de atuar diretamente ou indiretamente no metabolismo das plantas”, explicou Mógor.
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O diretor da ANPII, Sólon Cordeiro de Araújo abordou os ganhos econômicos da utilização de inoculantes. “Na cultura de soja, temos hoje duas formas de fornecer o elemento nitrogênio para as plantas: por meio do fertilizante químico, principalmente a ureia, e via inoculante. No caso de uso apenas da ureia, o custo adicional para o agricultor gira em torno de R$ 800,00 por hectare, no entanto, se utilizar o inoculante, o custo será aproximadamente R$ 70,00 por hectare. Se transformamos essa informação em ganho para o país os números serão absurdos”, projetou Araújo.
Atualmente, 70% do fertilizante nitrogenado usado no Brasil no cultivo de soja é importado, conforme explicou o executivo da ANPII. Neste cenário, se houver uma troca de ureia por inoculantes, a economia pode chegar a U$$ 12 bilhões anualmente para o Brasil.
Também neste painel, o professor ESALQ/USP, Fernando Andreote abordou a importância dos bioinsumos na construção e na recuperação da fertilidade dos solos.
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“O Brasil caminha ao lado do mundo para buscar maneiras de melhor empregar os processos microbianos em diversos segmentos, seja na saúde humana, no meio ambiente ou do solo e agricultura. O nosso país é muito grande e se destaca no tema biodiversidade e, exatamente por isso, precisamos revisar nossa legislação no futuro para acomodar as inovações e conceitos tecnológicos que surgem nas diversas pesquisas realizadas no mundo”. Segundo o professor, no futuro haverá maior desenvolvimento em tecnologias em bioinsumos, necessidade de uma legislação mais abrangente e os avanços em treinamento e conhecimento dos usuários para expandir o uso dessa tecnologia.
O encerramento do evento contou com a apresentação do professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues e do diretor Titular do Departamento do Agronegócio da Fiesp, Roberto Inácio Betancourt.
“Ao abordar um tema amplamente discutido em todo o mundo, o Fórum Bioinsumos no Agro nos deu a oportunidade de nos aprofundarmos nos desafios e oportunidades deste mercado que está crescendo muito. A segurança com o trabalho com bioinsumos é fundamental, por isso a legislação precisa ser completa e moderna, que nos permita avançar e garantir a segurança absoluta do trabalho realizado”, destacou Roberto Rodrigues.
“É um orgulho ver o Brasil liderando esse processo, unindo com maestria produtividade e sustentabilidade. Acredito que estamos com uma oportunidade gigante para as startups e empresas. Além disso, os bioinsumos são uma ferramenta que nos aproximam do consumidor final, no sentido de saúde, preservação do planeta e uma vida melhor. O setor está unido, procura tecnologia, sustentabilidade e quer assumir esse protagonismo em nível global”, finalizou Betancourt.