Mercado

Desafios à frente para os biocombustíveis

A cana-de-açúcar é realmente um fenômeno. Apesar de ocupar apenas 2% das terras aráveis do País, encerrou 2007 como o terceiro item em termos de valor bruto da produção agropecuária. Além disso, o setor sucroalcooleiro se posicionou em terceiro lugar nas exportações da agricultura brasileira, ficando atrás apenas dos complexos soja e carnes, que utilizam área muito superior à cana.

O horizonte é seguramente muito promissor para o Brasil. A Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) estima que serão construídas 86 plantas industriais até 2012, com investimentos da ordem de US$ 17 bilhões, além da geração de milhares de novos empregos no campo.

No entanto, em que pese essa euforia de investimentos é bastante preocupante o descompasso entre a oferta e a demanda. O aumento da produção, sem a respectiva resposta do consumo, gera pressões sobre os preços e a rentabilidade. Tal situação também renova a exigência de ações concretas para promover o consumo linear de produtos derivados da cana-de-açúcar.

Por exemplo: o País conta, atualmente, com cerca de 4 milhões de carros flex. É imperioso que os proprietários desta frota sejam estimulados a consumir álcool hidratado em seus veículos.

Por seu lado, os produtores de cana-de-açúcar também devem se antecipar às novas exigências da redução da queima de cana, adotando ações de sustentabilidade ambiental e estabelecendo metas para a eliminação dessa prática o mais rápido possível.

É preciso, ainda, promover campanhas junto aos governos estaduais para que, a exemplo do Estado de São Paulo, pratiquem alíquotas de ICMS reduzidas para o etanol. Minas Gerais e Goiás, por exemplo, têm recebido grandes investimentos no segmento sem que haja a merecida contrapartida em termos de renúncia fiscal.

Outro aspecto importante diz respeito à liderança mundial que o País deve assumir em relação aos biocombustíveis. O Brasil, como principal player, deve estabelecer estratégias internacionais para consolidar este mercado. É necessário lutar contra o elevado protecionismo nos mercados de açúcar e etanol.

A questão da logística também preocupa. Precisamos consolidar os investimentos por meio, por exemplo, da construção de alcooldutos, reduzindo significativamente a demanda por transporte do biocombustível do Centro-Oeste para o Sudeste-Sul e os portos do País.

O mercado de biocombustíveis é essencial e estratégico. Não podemos deixar a euforia inicial prejudicar o desenvolvimento de uma atividade de tanto potencial. Os desafios são urgentes. Precisamos enfrentá-los.

* Mauricio Sampaio é presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio e membro do Conselho Superior de Agronegócio da Fiesp. (Artigo publicado no site Última Hora News no dia 14/01/2008)

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