“Não há como o crédito dos Planos de Safra acompanhar o crescimento do agronegócio brasileiro. É preciso desenvolver novas operações de mercado, com maior participação do setor privado, assim como a disponibilização de novas formas de financiamento para os negócios mais sustentáveis”, afirmou na segunda-feira (08) o economista Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e atual diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra, em reunião com empresários e lideranças da agroindústria.
Além de ressaltar a crescente participação do mercado de capitais na concessão de créditos à agricultura no país, Levy, que também foi presidente do BNDES, enfatizou a importância da subvenção privada a projetos que incorporam as melhores práticas agrícolas.
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“A questão ESG, por exemplo, não deve ser antagônica ao desempenho econômico, pelo contrário”, disse o economista em referência à sigla que significa priorizar questões ambientais, sociais e de boa gestão.
A convite do COSAG – Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, presidido por Jacyr Costa Filho, Joaquim Levy abordou o tema “Financiamento para o Agronegócio” juntamente com o chefe do Departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural do Banco Central, Cláudio Filgueiras Pacheco Moreira, e demais especialistas de instituições financeiras e setores produtivos ligados ao agro.
Costa avaliou como extremamente positivo o papel do sistema financeiro na questão em análise, destacando o importante avanço na concessão de créditos rurais pela iniciativa privada desde 2019: “Nos últimos anos, o Banco Central (BC) tem feito um trabalho importantíssimo para libertar o agronegócio do crédito oficial do governo. Uma evolução que abre uma nova janela de boas perspectivas para o agro nacional, um setor cada vez mais intensivo em capital graças às tecnologias de última geração e processos aplicados na agroindústria”.
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Segundo Cláudio Filgueiras, nos últimos quatro anos o desempenho do agronegócio tem apresentado evolução maior do que o PIB nacional. Este fator motivou o BC a “trazer o mercado privado para o financiamento rural”. O executivo explica que a partir de outubro de 2020 verificou-se um salto na oferta de créditos por instituições financeiras privadas.
“Este crescimento não foi porque o governo tinha mais volume de recursos para incentivar o agro. Foi porque o mercado de capitais começou a entrar com mais confiança em função dos ajustes feitos na Lei do Agro, especificamente na resolução nº 204”, observou Filgueiras. Na prática, esta mudança na resolução facilitou o acesso por qualquer instituição financeira a dados dos produtores registrados no Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor).
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Como resultado, no ano safra 2021/22, as concessões de créditos somam R$ 305,3 bilhões, volume 24,2% maior do que o registrado no período 2020/21, que foi de RS 245,8 bilhões. De acordo com Filgueiras, levantamentos do BC mostram que muitas instituições financeiras passaram a alocar recursos próprios, que poderiam ser utilizados para diferentes fins, exclusivamente para a concessão do crédito rural. Estima-se que o crescimento na alocação destes volumes, os chamados “recursos livres”, cresceram 20,4% no período agrícola 2021/22, atingindo R$ 19,8 bilhões.
“Hoje, a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e os ‘recursos livres’ já correspondem a um quarto do crédito rural total no Brasil. Nós acreditamos que isso pode aumentar”, sublinhou Joaquim Levy. No país, os três municípios que mais receberam financiamentos rurais referentes somente ao custeio de produção no período 2021/2022 são Bebedouro (SP – R$ 2,03 bi); Piracicaba (SP- R$1,3 bi); e Rio Verde (GO-R$1,1 bi)
Investimentos em baixo carbono
No que se refere à agricultura de baixo carbono, o ex-ministro da Fazenda destacou dois focos de investimentos do Banco Safra: Plano ABC+, incentivando também a produção de energias renováveis nas propriedades, e a melhoria na infraestrutura de armazenagem. Hoje, o Brasil consegue armazenar aproximadamente 53% da sua produção agrícola total.
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Levy, que também integra o CONDES – Conselho Superior de Desenvolvimento Sustentável da Fiesp, abordou ainda a importância cada vez maior das práticas ESG na produção agropecuária: “Hoje, o tomador de crédito é valorizado quando consegue demonstrar para o cliente final que a sua produção foi examinada e qualificada como ESG”.
Jacyr Costa Filho, também sócio da Consultoria Agroadvice, lembrou que no mercado de créditos de carbono também será essencial a atuação de instituições financeiras, especialmente em apoio ao trabalho da Embrapa no desenvolvimento de uma metodologia nacional de mensuração das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) no país.
Levy concluiu apontando as boas perspectivas do Brasil neste mercado, ponderando que, para que isso ocorra, será necessário enfrentar a questão do desmatamento ilegal. “O mercado de carbono, dentro da mesma lógica de depender menos do governo na concessão de créditos, será um segmento muito importante para a expansão de várias iniciativas sustentáveis no agro brasileiro”, concluiu.