Os valores do etanol hidratado e anidro registraram novo aumento no mercado spot do estado de São Paulo na semana passada, de acordo com dados do Cepea.
Entre 20 e 24 de julho, o Indicador CEPEA/ESALQ do hidratado combustível fechou a R$ 1,6620/litro (sem ICMS e sem PIS/Cofins), elevação de 2,55% em relação ao do período anterior.
Já o Indicador CEPEA/ESALQ do anidro fechou a R$ 1,8761/litro (sem PIS/Cofins), avanço de 1,4% no mesmo comparativo.
Neste contexto, o suporte veio da demanda aquecida, especialmente devido ao retorno de compradores, alguns de grande porte, que estavam fora do mercado.
O posicionamento firme do vendedor também deu sustentação aos valores do biocombustível. Com foco na produção de açúcar neste momento da safra, algumas usinas têm participado de maneira mais esporádica do mercado spot de etanol.
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De acordo com Ivelise Rasera Bragato Calcidoni, pesquisadora do Cepea, mesmo com a cotação se elevando, os valores do biocombustível apresentam queda em comparação à safra passada, quando a demanda firme por biocombustível – devido à vantagem frente à gasolina C nas bombas – deu o tom altista aos preços do etanol.
Um levantamento feito pelo Cepea mostra que os preços médios do hidratado e anidro no estado de São Paulo fecharam o primeiro trimestre da safra (abril-maio-junho) com fortes quedas frente ao mesmo período da temporada 2019/20.
O valor médio desse trimestre (considerados os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais de abril a junho) do etanol hidratado teve recuo de 18,4% na comparação com o mesmo trimestre de 2019 em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-M de junho/20). No caso do etanol anidro, a desvalorização foi ainda maior, de 19,7% no mesmo comparativo.
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A pesquisa aponta que, do início da atual temporada 2020/21 (em abril) até os primeiros 15 dias de julho, as vendas de etanol hidratado na região Centro-Sul do País somaram 4,88 bilhões de litros, contra 6,67 bilhões de litros em igual período de 2019, ou seja, forte queda de 27%.
As vendas de etanol anidro também caíram, 14,5% no mesmo período, somando 2,12 bilhões de litros na parcial da atual temporada, conforme dados divulgados pela UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
A entrada de etanol de outros estados do Centro-Sul em bases paulistas também reforça a pressão sobre os preços do biocombustível.
O etanol, especialmente de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, chega a bases de São Paulo a preços atrativos, considerando-se os diferenciais logísticos e os custos de transferências.
Nas usinas, unidades do Centro-Sul diminuíram a alocação de cana-de-açúcar para o etanol na atual safra, tendo como foco a produção de açúcar, que registra demanda mundial aquecida. Além disso, o dólar em patamar elevado vem intensificando as exportações brasileiras do adoçante.
“Vale lembrar que algumas consultorias internacionais preveem queda de produção de açúcar na safra mundial 2019/20 (a ser encerrada em setembro de 2020) e déficit de produto por ser um alimento mais barato em meio à pandemia”, afirma a pesquisadora.
Na parcial desta safra (de abril até os primeiros 15 dias de julho), enquanto a produção de açúcar no Centro-Sul cresceu 50% em relação ao mesmo período da temporada anterior, a de etanol total caiu 5,9%, de acordo com dados da UNICA.
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Nesse cenário de menor consumo dos combustíveis, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) flexibilizou a contratação de etanol anidro para esta temporada.
Neste caso, com limite para homologação até 1º de julho e prorrogação do prazo, o volume caiu de 90% para 74% do total adquirido desse tipo de combustível por meio da modalidade dos contratos, com validade de julho de 2020 a maio de 2021.
“Essa resolução diminui a compra de anidro pelas distribuidoras por meio de contratos, deixando espaço para aquisições mais flexíveis no spot, caso sejam necessárias (apesar de ainda se manter a obrigatoriedade do percentual de 70% em contratos)”, explica Evelise.
Essa mudança de percentual ocorreu não só porque diminuiu o período para manutenção de contratos no presente ano-safra em relação aos anteriores, mas também com o objetivo de manter a compatibilidade entre demanda e oferta de anidro, de forma que os preços não sofram pressão de queda.
“Ressalta-se que o percentual estabelecido na legislação incide sobre a comercialização do ano anterior e a sua mudança visa um ajuste quantitativo em um momento de menor demanda por combustíveis”, conclui a especialista.