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Conheça Piero, o líder do etanol de milho do Mato Grosso

Conheça Piero, o líder do etanol de milho do Mato Grosso

Piero Vincenzo Parini é um empresário do setor sucroenergético como a maioria dos demais empresários do setor. À frente do comando da Destilaria de Álcool Libra Ltda., ele enfrenta as turbulências de um setor que após oito anos de crise, imposta em sua maioria por ações do governo federal, começa a enxergar melhorias de mercado.

As semelhanças de Piero com os demais gestores do setor sucroenergético da região Centro-Sul do País são bem parecidas. Mas ele tem mais: é empresário no Mato Grosso, estado também tradicional em usinas de cana-de-açúcar, sede da tradicional Usinas Itamarati, que acaba de completar 35 anos.

Trabalhar o setor sucroenergético em um estado com poucas unidades (são 9 em operação), logisticamente distante dos grandes centros consumidores e de portos, e com a onipresente pressão de entidades ambientais, não é tarefa simples. Faz até pensar em mudar de ramo.

Mas Piero conduz o que já é chamada a nova revolução do setor sucroenergético depois do Proálcool: a produção viável de etanol de milho. E, aos poucos, ajuda a transformar o Mato Grosso na nova fronteira do etanol do Brasil.

Em novembro, durante o 8º Congresso Nacional da Bioenergia, em Araçatuba (SP), Piero Parini conduziu, com seu jeito simples, sorridente, de fala mansa e acessível, os mais disputados painéis de discussões do evento promovido pela Udop e pela Stab.

Executivos de órgãos públicos como Finep, e de multinacionais como a americana DuPont, disputaram lugares na sala para ouvir e participar de palestras sobre os rumos do etanol feito a partir de cereais, principalmente do milho.

Os interesses pelo tema são recheados de bons motivos. Primeiro porque fazer biocombustível do milho não é apenas modismo, ou oportunidade para aproveitar as sobras de safra. Segundo porque esse segmento atrai os interesses de grandes grupos e um deles, o grupo Cevital, da Argélia, acaba de anunciar a instalação de destilaria de etanol de milho no Mato Grosso.

Leia mais: Grupo da Argélia anuncia usina de etanol de milho no Mato Grosso 

E, entre outros motivos, o cereal permite às usinas de cana atender à safra projetada, que neste 2015 foi duramente penalizada no Centro-Sul pelas chuvas, que fez unidades entrarem a moagem em janeiro, tal o número de cana bisada.

Quem está à frente de tanta discussão? O filho de italianos Piero Parini.

2010-12-10-Etanol-Cana-Milho-Luva-Boxe-Luta-Disputa-40-200x300Mas quem é essa liderança do etanol de milho?

No estado do Mato Grosso, Piero é peso-pesado em termos de liderança. Ocupa e ocupou cargos e posições em instituições das mais variadas. Politicamente, tem peso igual. Mas fora da esfera matogrossense, ele é cada vez mais requisitado e reconhecido como defensor do etanol de milho.

Não a toa, está novamente presidente do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado do Mato Grosso, o Sindalcool/MT, entidade que já presidiu entre 2003 a 2008.

Um breve relato de seu currículo: 

  • Bacharel em Agronomia pela Universidade Federal De Mato Grosso – UFMT (1985).
  • Diretor Agrícola da Destilaria de Álcool Libra Ltda., desde 1985 até 1991.
  • Diretor Comercial da Destilaria de Álcool Libra Ltda., desde 1992 até 2002.
  • Diretor Superintendente da Destilaria de Álcool Libra Ltda., desde 2002 até os dias de hoje.
  • Presidente do SINDALCOOL/MT – Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado do Mato Grosso de 2003 a 2008.
  • Diretor da FIEMT – Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso de 2003 a 2005.
  • Diretor da ASPROSMAT – Associação dos Produtores de Sementes do Mato Grosso de 1990 a 1994.

Leia mais: Etanol do MT ganha com escoamento pelo Oceano Pacífico 

Confira a seguir trechos de entrevistas de Piero ao Portal JornalCana, no evento da Udop/Stab em Araçatuba: 

Como está a produção de etanol de milho no Mato Grosso?

Piero Vincenzo Parini – “Temos três unidades sucroenergéticas produzindo etanol de milho: a Libra, a Usinat e a Porto Seguro. A Porto Seguro fica na região de Jaciara e está na primeira safra de etanol de milho. Ela é usina flex: produz etanol com cana-de-açúcar e entra com milho safrinha na entressafra.”

No todo, as três unidades de etanol de milho do Mato Grosso devem chegar a qual produção em 2015?

“Somadas, as três processam 2,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, mais 70 toneladas de milho processadas por hora, ou 1,6 mil toneladas por dia, com produção média de 400 litros as três unidades chegam a 700 mil litros por dia. As que produzem na entressafra admite-se 150 dias de safra.”

E no caso da Libra?

“Ela é flex, porém é full na produção. Ela não para. Faz em paralelo à cana. Assim, a Libra processa 35 toneladas de milho por hora, o que gera entre 750 a 800 toneladas ao dia, ou 300 mil litros de álcool por dia. Como produz 330 dias por ano, totaliza 100 milhões de litros de etanol de milho.”

As três juntas devem fechar 2015 com qual produção de etanol de milho?

“Devem superar 200 milhões de litros a partir do milho, o que é mais do que a produção de 2014, em 50%, com a entrada da Porto Seguro.”

Qual é a tendência da produção de etanol de milho para 2016?

“Essas três unidades mantém a produção. Outras unidades já estudam a sua adequação e transformação para unidade flex. Ou seja, a introdução de cereais para produzir etanol.”

Quantas devem estar nesse estágio?

“Mato Grosso possui 9 unidades sucroenergéticas. Três já fazem etanol de cereais, e das seis consta-me que três estudam a implementação.”

A conturbada situação econômica do País pode frear esses investimentos?

“O momento não converge com disponibilidade financeira. O momento é de muita prudência, as decisões são tomadas com o máximo possível de atenção, não cabe euforia nesse momento. Mas o que joga a favor é que no Centro-Oeste do País a produção de etanol atende ao mercado de consumo.”

Explique mais, por favor.

“O Mato Grosso tem uma característica importante. Nós temos uma área vocacional de mercado, que é Mato Grosso, Rondônia, Acre e todo o Amazonas. Hoje, 100% da produção de etanol do Mato Grosso já atende a essa região vocacional. Temos, evidente, um aumento no consumo de etanol e, no Mato Grosso, ele chega ao consumidor numa relação de 63%, 64% do preço da gasolina, o que ainda é bastante convidativo.”

Então a participação das três unidades com etanol de cereais foi fundamental?

“Sim. A produção das três ajudou a garantir o abastecimento do ano. Elas já participaram dessa necessidade. Ou seja, não fossem elas evidentemente a oferta estaria bastante apertada, e a entrada das três trouxe folga na oferta, e ainda há espaço para que as demais unidades sucroenergéticas do Mato Grosso entrem no mesmo escopo nos próximos dois a três anos.”

É mais barato produzir etanol do milho diante o etanol de cana-de-açúcar?

“É mais barato quando o preço do milho oferecido tem um teto que mantém essa diferença de custo. Hoje [12/11/2015] compramos milho posto na usina R$ 60 a saca de 60 quilos. Essa mesma saca custava, há três meses, R$ 15.”

Por que a diferença de valores?

“À medida que o produto é exportado e a oferta diminui, o preço sobe, conforme a regra natural do mercado. Mas mesmo com esses R$ 60 por saca, como houve o realinhamento dos preços do etanol, essa diferença fica absorvida.”

Diante os novos preços, fazer etanol de milho ainda é competitivo?

“A distância entre custo de produção de etanol de cana e de milho hoje ainda é favorável ao milho na ordem de 30%.”

Há uma tendência de redução de canaviais?

“No Mato Grosso os canaviais se mantém. Porque a ideia é implantar unidades flex porque o bagaço é insumo básico para cogerar vapor e energia para alimentar a produção a partir de cereais.”

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