Rumores sugerem que a Petrobras poderá em breve ajustar os preços da gasolina para cima. “Um preço mais alto da gasolina poderia incentivar as usinas a produzir mais etanol, não açúcar”, avalia Catarina Junqueira, analista da Czarnikow, trading britânica de alimentos e serviços.
Segundo a analista, nos últimos meses, com o retorno das atividades e fim dos lockdowns, o preço do petróleo vem se fortalecendo. “Este cenário se agravou com a intensificação do conflito entre Rússia e Ucrânia. Diante das tensões geopolíticas, o preço do petróleo Brent teve um aumento ainda mais expressivo passando a ser negociado acima dos USD110/barril: subiu de 38% em 30 dias”, explicou.
No entanto, o mercado doméstico não subiu no mesmo ritmo que o mercado internacional. Pelo contrário segue sem nenhum ajuste, sendo que o último ajuste no preço da gasolina feito pela Petrobras foi no dia 12 de janeiro quando o Brent estava em US$ 85/bbl.
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Dessa forma, hoje a defasagem do preço da gasolina doméstica na refinaria se acentuou e está 20% abaixo do preço internacional.
Seguindo a Paridade Internacional
De acordo com dados publicados pela trading, caso a Petrobras faça um reajuste seguindo integralmente a paridade internacional, o preço da gasolina nas refinarias poderia chegar a BRL 4/litro. Hoje está por volta de BRL 3.26/litro
“Um aumento do preço na refinaria seria repassado para o consumidor final nos postos de gasolina, permitindo que o etanol ganhe competitividade. Isso significaria que o etanol PVU (base usina) teria espaço para subir. Mas claro, o upside para o etanol depende em como a empresa irá conduzir sua política de preços em meio a um cenário de ano de eleição e barril do petróleo em patamares acima de $100”, afirma a analista.
Com o reajuste integral de preços, o bicombustível poderia chegar em uma paridade teórica de 21/clb em base No. 11. No entanto, a paridade atual ainda coloca o açúcar como produto que melhor remunera a usina. O preço do hidratado em um base No.11 está a 17c/lb
Simulando um mix menos açucareiro
Caso o cenário de upside para etanol se concretize, o açúcar No. 11 teria que estar acima dos 21c para manter sua competitividade. Assim, se o açúcar não conseguir reagir e atingir esse patamar, o mix de produção para a safra 2022/23 começa a ficar menos açucareiro.
“Hoje estamos considerando uma safra com um mix de 46% – o que podemos chamar de max açúcar. Com um reajuste integral no preço da gasolina, e consequentemente uma reação positiva dos valores de etanol, quais os potenciais cenários para o mix das usinas?”, questiona.
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Segundo a analista, estes cenários não consideram um Max etanol, como visto nas safras de 2018 e 2019. Ao contrário destes anos, é importante lembrar que atualmente as usinas já estão mais que 60% do seu açúcar precificados e volume comprometido.
De acordo com ela, isto reduz a probabilidade de um shift brusco para etanol como visto nas safras 2018/19 e 2019/20 quando o mix de açúcar ficou em torno de 35%.
Alerta de Risco Político
Catarina alerta que é importante lembrar é que não sabemos quando nem quanto será feito o reajuste. “O encarecimento dos combustíveis é um tema chave na corrida eleitoral de 2022. Com isso existe um risco de os preços internacionais não serem repassados para as refinarias no momento ou talvez serem repassados de forma parcial. Basicamente hoje a decisão do mix das usinas não depende do mercado internacional e sim de como a Petrobras vai conduzir sua política de preços”, concluiu.