A participação do agronegócio na economia do Brasil é inquestionável, representando 1/4 do PIB nacional.
No entanto, quando se observa como o setor financia suas operações e mesmo a forma como ainda são realizadas a maioria das operações financeiras, percebe-se quantas oportunidades estão pela frente.
Na última reunião do Cosag, realizada no dia 7 de outubro, tivemos a oportunidade de discutir diversos aspectos relacionados à agenda de modernização e desburocratização financeira do agronegócio.
Mendonça de Barros, da MB Associados, destacou os inúmeros casos de produtos inovadores chegando aos mercados, um movimento indispensável para elevar o valor adicionado das cadeias produtivas e deixarmos de ser apenas líderes no comércio de commodities.
Concordo totalmente, mas, para isso, precisamos urgentemente de uma reforma tributária que torne o ambiente de negócios mais favorável e menos burocratizado, evitando a “exportação de impostos”.
Com a amplitude do mercado por produtos com mais valor agregado e mesmo pelas commodities, a necessidade de evoluirmos o acesso ao crédito para o agronegócio, no que há de mais moderno no setor bancário, é evidente.
Durante a apresentação de Sergio Rial, presidente do Santander no Brasil, um dado me pareceu surpreendente.
Em plena era dos apps, dos cartões virtuais e das fintechs, o setor ainda realiza 61% dos pagamentos por boleto bancário – 3% são feitos por cheque!
Se por um lado temos uma cadeia complexa – do fornecimento de insumos e maquinário para o produtor agrícola à entrega do produto final, envolvendo várias etapas de logística –, por outro há uma necessidade de simplificação nas operações financeiras.
É preciso levar novas tecnologias para o dia-a-dia do agro, com mais velocidade e menores custos, o que trará um tremendo impacto em resultado, especialmente para os produtos com margens mais baixas.
Outro produto que pode beneficiar os produtores são os seguros comprados em sistemas eletrônicos.
Outro ponto pertinente no encontro foi levantado pelo secretário-adjunto de Política Agrícola do MAPA, José Angelo Mazzillo Júnior.
Ele propôs a superação de amarras operacionais e contratuais que tanto persistem no Brasil e a utilização de papéis e títulos incentivados do agronegócio – vale destacar o CBIO, que deve aquecer o mercado de crédito de carbonos assim que o RenovaBio passar a vigorar.
A Célula de Produto Rural (CPR), por exemplo, foi modernizada com a recente assinatura da MP nº 897.
Agora, é possível emitir o título em dólar e negociá-lo em bolsas internacionais, diretamente no exterior, dando mais poder ao produtor. Mazzillo prevê que em breve as CPRs poderão ser contratadas por aplicativo no celular.
Por fim, as perspectivas com a taxa Selic no nível mais baixo desde o início da série histórica do BC (1986) acenderam o sinal verde para a B3 atrair mais interesse por parte das empresas médias e aumentar o escopo de oferta – com baixa demanda para os papéis em bolsa, as empresas médias não se sentiam encorajadas a fazer o IPO.
Com o Ibovespa passando dos 105 mil pontos, isso definitivamente deve mudar.
Muitos setores no agronegócio demandam capital intensivo para manter a competitividade e principalmente aumentar a produtividade – o que muitas vezes leva os negócios ao aumento do nível de endividamento.
O crescimento lastreado no mercado de capitais faz com o que os riscos sejam diluídos com um espectro mais amplo de investidores. Financiar a atividade agrícola com a abertura do capital pode ser uma boa opção para o produtor brasileiro. Com a vantagem de vincular ainda mais o mundo urbano – os investidores – ao rural.