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Trocando a qualidade por quantidade

Trocando a qualidade por quantidade

Antonio C. Viesser*

Quando a comercialização de açúcar VHP /VVHP passou a ser a coqueluche do setor, o que ninguém imaginava que um produto simples para produzir, fácil para manusear, e de alta liquidez pudesse trazer alguns problemas para as unidades produtoras.

Digo isso porque junto com as facilidades vieram as dificuldades, a pior delas foram os incêndios em depósitos e terminais portuários devido à alta concentração de pó oriundo de algumas variáveis como por exemplo a baixa qualidade do produto produzido (AM e CV), manuseio com pás carregadeiras, equipamentos como roscas helicoidais etc. Vale lembrar que para ser ter um incêndio não basta ter apenas o combustível, é necessário também uma fonte de calor.

Dado a incidência dos incêndios, no final de 2015 os terminais enviaram para a Unica um comunicado com as novas exigências quanto a qualidade do açúcar a ser entregue nos terminais a partir de Abril /16 foi a partir dessa exigência que as unidades passaram a olhar o problema de frente já que até então os problemas eram apenas dos terminais.

Com isso as unidades produtoras passaram a fazer a lição de casa, que apesar das dificuldades e particularidades de cada unidade o setor vem conseguindo entregar um produto de melhor qualidade (baixo índice de pó), lembrando que guardada as devidas proporções os terminais também fizeram algumas adequações em seus sistemas de manuseio e transporte de açúcar a granel, e implantaram procedimentos de recusa de cargas com excesso de pó que apesar de não ser uma metodologia respaldada exclusivamente por dados técnicos o uso do bom senso tem feito a diferença. Com isso, hoje no Brasil a mitigação de novos incêndios passou a ser uma realidade.

Vivendo as mesmas dificuldades e sabendo das ações adotadas pelas usinas e terminais no Brasil, produtores e terminais de outros países também passaram a buscar soluções para suas dificuldades, entre eles podemos destacar o Grupo CASSA (Compania Azucarera Salvadorena) que é o maior produtor de açúcar de El Salvador e proprietário de um terminal portuário.

Em abril deste ano o Grupo CASSA, optou em contratar a empresa Viesser Consultoria, que com base na experiência de 39 anos no setor, e por ter participado desde o início das discussões e soluções dos problemas vivenciado no setor através de um Comitê formado por onze grupos produtores e apoiado pela Unica, prontamente nos disponibilizamos a visitar a empresa e verificar o processo de produção de açúcar, armazenamento interno, transporte e o processo de recepção e armazenamento no terminal portuário visando com isso identificar a origem elevada de pó no açúcar.

Após analisar as operações e conhecer a estrutura fabril do Grupo Cassa, vimos que as dificuldades encontradas não eram nada diferentes das vividas nas unidades no Brasil, o que facilitou os trabalhos da Viesser Consultoria, que colocou em prática de imediato ações que dependia exclusivamente de decisões operacionais, já as sugestões que dependiam de intervenções e adequações de equipamentos e novos procedimentos ficou como dever de casa para ser colocado em pratica na próxima safra.

Imagens mostram descarga no terminal antes da implantação de novos procedimentos.

Quando falamos em qualidade por quantidade, queremos com isso chamar atenção que no passado as usinas produziam açúcar de qualidade, e quando passaram a produzir VHP /VVHP notou-se que por se tratar de uma matéria prima e não produto final, as especificações de uma certa forma eram brandas o que induziu os produtores a forçar ao máximo suas fabricas deixando de lado alguns índices que garantiam a qualidade como p.ex. AM, CV, Passante #70% Max 0,40 etc, isso somado a instalação de alguns equipamentos como Roscas Helicoidais, Bombas de deslocamentos positivos, Redller que contribuem para destruição dos cristais, mais a falta de padronização do processo de cozimento, somado a falta de mão de obra qualificada devido ao boom dos últimos anos, os resultados não poderiam ser diferentes.

Com advento das novas exigências dos terminais , levou algumas unidades a rever seu processo produtivo, as que saíram na frente estão conseguindo atender boa parte das novas especificações, as que ainda não estão dando importância para o assunto corre um sério risco de ter seu produto NÃO aceito pelos compradores já que as novas especificações estão deixando de ser apenas uma exigência técnica e passando a ser obrigações contratuais “Comercial” o que eleva o risco de não recebimento do produto.

*Diretor Técnico da Viesser Consultoria e Treinamentos Industrial Ltda.