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O mau uso da informação

Messias: Criatividade sem lógica é arte, não produtividade econômica!
Messias: Criatividade sem lógica é arte, não produtividade econômica!

Altamente demandante de mão de obra e de capital e exposta a fatores complexos e de baixo controle, como clima e mercado de commodities, a atividade sucroenergética é considerada de altíssima complexidade, mais exigente do que muitas empresas industriais de alta tecnologia e dos setores automotivo e petroquímico, entre outros.

Os péssimos resultados obtidos por grupos estrangeiros que entraram na produção sucroenergética, acreditando ser essa uma atividade fácil, nos conduzem à quebra de alguns paradigmas no setor, como o conceito de que uma usina é uma empresa simples de gerir.

Para se ter uma ideia, apenas da “porteira para dentro” a gestão de uma usina tem que lidar diariamente com mais de três mil variáveis para se obter um resultado econômico positivo considerando as áreas agrícola, industrial, logística, comercial, financeira, legal, fiscal, saúde e segurança, meio ambiente…

É uma diversidade de dados que se inicia no planejamento agrícola e vai até o hedge da receita. O desafio se inicia na captação dos números, com a decisão sobre quais os critérios e fontes de medição, mas as maiores dificuldades, na minha percepção, concentram-se na nossa cultura que, de certa forma, aprendeu a respeitar muito mais o feeling humano do que os números. Fruto da cultura brasileira, que é mais ligada à criatividade do que à lógica.

É certo que a criatividade é fundamental para vencermos os enormes desafios cotidianos do setor, afinal a lógica apenas aponta os caminhos possíveis e é a criatividade que escolhe o destino e o trajeto.

Contudo, quais são os resultados quando tomamos decisões com base na criatividade, mas sem um embasamento lógico? E como é possível ter um embasamento lógico sem informações confiáveis?

Criatividade sem lógica é arte, não produtividade econômica!

Podemos dizer que o primeiro erro seria desprezar os números, mantendo um modelo de gestão baseada majoritariamente no feeling do gestor ou da equipe de gestão.

Temos diversos exemplos de como esse modelo, apesar de ser considerado conservador e bem-sucedido ao longo de décadas, não suporta ciclos longos de crise como a que o setor está sendo submetido.

Já no outro extremo, encontramos a supervalorização dos números em detrimento das pessoas e do respeito à cultura local da unidade de produção.

Os fatos demonstram que a produção sucroenergética é uma atividade quente, com forte carga emocional, que precisa ser respeitada!

A dificuldade da maioria está no meio termo, valoriza os números e as pessoas, mas não adota um sistema que garante a consistência dos números e sua aplicabilidade prática.

Um bom exemplo está numa usina que conta com uma consultoria de mercado e desprezou os números apresentados por ela, confiando no feeling dos gestores. Resultado: perdas de 17% na receita para a safra!

Não tem produtividade agroindustrial que compense o mau uso destas informações caras!

Muitos vão dizer que o mercado futuro é um mercado de apostas porque não é regido pelos fundamentos do mercado físico. Sim e não! A verdade é que o mercado futuro, em se tratando de um braço do mercado financeiro, possui suas próprias lógicas e métricas. Ou seja, fornece dados que bem interpretados servem como informações importantes para a tomada de decisão e de hedge.

Quer dizer que quem acompanha de perto os números e variáveis deste mercado consegue antecipar riscos e oportunidades com maior assertividade do quem se guia apenas pelo feeling, ainda que com muitos anos de experiência.

O que não falta são especialistas, metodologias e ferramentas para captação e aplicação dos números do setor. O desafio é integrá-los à cultura vigente, transformando dados em informações úteis, transbordadas em ações de melhorias e ganhos ou, mais simples ainda, que mitiguem as constantes perdas da atividade. Afinal, quanto das atuais perdas produtivas e econômicas do setor não são consequência do mau uso das informações?