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Desafios e caminhos para a inovação no Brasil – um bom exemplo

Young woman in university laboratory works with microscope
Young woman in university laboratory works with microscope

Sergio Leão*

Quando observamos a velocidade das transformações trazidas pelas inovações no ambiente de negócios e empresas a partir da crise econômica de 2008, nos deparamos com enormes desafios para nos integrarmos ao conjunto de países que deram a largada para a 4ª. revolução industrial. Já se posicionam no grupo de elite com metas para os próximos 30 anos países como os EUA, Alemanha, Japão, China, Reino Unido e o conjunto da União Europeia.

A aplicação conceitos como a da internet das coisas ao setor industrial deverá transformar a indústria e os modelos de negócios em escala similar à que presenciamos em nossas vidas com o advento da internet comercial. O desenvolvimento de plataformas de experimentação como os chamados “testbeds” requer novas bases de cooperação entre empresas, centros de pesquisas e universidades.

Enquanto acompanhamos essa corrida para a liderança das novas tecnologias, vemos em nosso país a previsão de profundos cortes nos orçamentos de ciência e tecnologia que ameaçam nosso futuro, como recentemente alertaram 23 ganhadores do Prêmio Nobel em carta ao Presidente Temer. Entrevistas com professores e pesquisadores mostram que já é realidade a falta de recursos para manutenção básica de laboratórios, sem falar no avanço das pesquisas. Diante desse cenário, cresce a importância de empresas se engajarem com a comunidade acadêmica para um caminho comum de oportunidades e necessidades frente aos desafios das novas tecnologias.

A realização recente da 9ª edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável veio confirmar o que enxergamos como possíveis caminhos para nossas necessidades e desafios. O prêmio incentiva universitários de cursos de graduação da engenharia, arquitetura e agronomia a pensarem soluções para o desenvolvimento sustentável, gerando conhecimento sobre o tema. Ao longo desses anos foram 45 projetos premiados de um total de 1300 apresentados por estudantes e professores de 260 escolas e universidades.

Os projetos vencedores apresentam ideias que, com os devidos investimentos, poderão nos auxiliar na corrida da transformação tecnológica, principalmente em oportunidades relacionadas ao meio ambiente.

Na última edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável, referente ao ano 2016, estudantes da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um protótipo que usa conceitos de inteligência artificial para automação da atividade de seleção de mudas de cana de açúcar produzidas nos processos de pré-brotação, antes de serem encaminhadas para plantio. O sistema é capaz de identificar a qualidade baseada no grau de desenvolvimento da muda segundo critérios estabelecidos, e selecioná-la como “apta” ou “não apta”, aumentando a eficiência do plantio com melhor produtividade e redução de perdas.

Outro exemplo na edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável de 2015 veio de estudantes da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, que formularam um biodetergente para aplicação como dispersante de petróleo derramado em oceanos. Ambos os projetos receberam prêmios em dinheiro que permitiram aos ganhadores seguir com o desenvolvimento de seus projetos.

Em recente encontro em Nova Iorque, em evento de reconhecimento ao trabalho desenvolvido na USP, o eminente professor da Universidade de Colúmbia, Albert Fishlow, citou que o exemplo da seletora de mudas mostra que o Brasil tem o caminho para acompanhar a vanguarda tecnológica pela interação universidade-empresa de forma similar ao que acontece em outros países. Lembrou ainda que permanecemos com o imenso desafio da qualidade na educação básica sem a qual não ampliaremos as ilhas de excelência para a escala do nosso território.

Recente pesquisa que realizamos com o público universitário de candidatos ao Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável nos mostrou os estudantes motivados com a possibilidade de gerarem conhecimento e propostas úteis à sociedade e que ao mesmo tempo lhes tragam oportunidades na carreira. Cabe às empresas engajarem esse manancial de energia em parceria com as universidades, forjando as catapultas para os futuros empreendedores pela via da 4ª revolução industrial.

*Diretor de Sustentabilidade da Odebrecht S.A, responsável pelo Prêmio Odebrecht de Desenvolvimento Sustentável, Ph.D. pela Universidade da Califórnia