Eduardo Leão*
São muitas as alternativas para resolvermos o grande desafio deste século, que é o de construir uma economia de baixo carbono e uma sociedade mais verde e sustentável.
A solução é plural e vai depender das vantagens comparativas e competitivas de cada região, da velocidade das inovações tecnológicas, bem como da disposição das sociedades em adotar políticas públicas que efetivamente reconheçam esse benefício.
O transporte é uma das áreas cruciais para este esforço, visto que este setor responde por cerca de um quarto das emissões globais de CO2, principal responsável pela mudança climática em curso.
A combinação de países altamente populosos com sociedades afluentes, a exemplo da China e Índia, que juntas detém mais de um terço da população do mundo, deve resultar em um significativo crescimento da demanda por automóveis nos próximos anos e, consequentemente, por combustíveis. Segundo o Banco Mundial, a expectativa é a de que, até 2050, o número de automóveis deverá dobrar.
A grande questão é como garantir um aumento desse consumo e, simultaneamente, reduzir as emissões de carbono e do nível de poluição das grandes metrópoles, que tira a vida de mais de 200 mil pessoas todos os anos, devido a doenças respiratórias e cardiovasculares.
Uma solução, bastante exaltada pelos meios de comunicação, tem sido a eletrificação dos motores dos automóveis.
Trata-se de uma alternativa concreta, mas que traz consigo importantes desafios que precisam ser devidamente equacionados: de onde virá a energia para alimentar as milhões de baterias?
Qual o custo ambiental da produção e descarte delas? Como países em desenvolvimento vão conseguir subsidiar os carros elétricos, que atualmente atingem 10.000 dólares por veículo (mais do que o valor de um carro popular no Brasil)? E, não menos importante, qual o custo de infraestrutura de distribuição dessa energia?
Em um país com dimensões continentais como o nosso, segundo a Empresa de Política Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, a implantação de redes de recarga custaria mais de US$ 250 bilhões.
O montante é o equivalente a toda a economia que esperamos ter com a reforma da Previdência, prevista em 1 trilhão de reais nos próximos 10 anos.
Essa mesma infraestrutura para a Índia, China e Europa custaria o equivalente a um PIB anual brasileiro, ou 1,7 trilhão de dólares.
Outra opção, esta já testada e aprovada, são os biocombustíveis.
Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a combinação de eletrificação com renováveis, biocombustíveis e eficiência energética têm potencial de reduzir em 70% as emissões globais de CO2 até 2050.
O uso do etanol traz três benefícios claros e diretos: ambiental, melhoria da saúde pública e desenvolvimento econômico.
Ambiental, pois reduz em mais de 90% as emissões comparativamente à gasolina; de saúde pública, pela redução de emissões de vários poluentes deletérios à saúde nas grandes cidades, como SOx, material particulado e hidrocarbonetos; econômica, pela possibilidade de aumentar e diversificar a renda de produtores rurais em diversos países, utilizando as mais diversas matérias primas.
Atualmente, o etanol consumido no mundo representa pouco mais de 6% do total de gasolina.
Segundo o roadmap desenvolvido pela IRENA e revelado em seu estudo Global Energy Transformation (2019), seria possível quadruplicar o atual volume, e atingirmos uma mistura média global do etanol na gasolina da ordem de 25%, ainda inferior à mistura praticada no Brasil, de forma sustentável.
A expansão de área necessária para essa produção adicional utilizaria pouco mais de 1% do total de áreas agricultáveis no mundo, e daria um tom bem mais verde ao petróleo, como o conhecemos.
Além da utilização do etanol em elevadas misturas na gasolina, há ainda uma série de novas tecnologias já desenvolvidas, como o hibrído flex, cujo início das vendas começará nos próximos meses no Brasil, e outras em fase adiantada de desenvolvimento, como a célula de combustível a etanol.
Temos ainda grande potencial de aumento do uso do biometano e dos chamados biocombustíveis avançados, como o bioquerosene de aviação e o diesel renovável, que deverão contribuir para a descarbonização do transporte marítimo e da aviação nos próximos anos.
Como se vê, as rotas tecnológicas para a sustentabilidade são inúmeras e o etanol é uma alternativa disponível, efetiva e economicamente viável na maior parte das regiões. São muitos os tons do verde que tanto almejamos para as próximas gerações.
*Diretor executivo da UNICA desde outubro de 2007