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ARTIGO: Por que não priorizar a energia renovável?

"Plantar cana na Amazônia é descabido" (Foto: Divulgação)
"Plantar cana na Amazônia é descabido" (Foto: Divulgação)

José Inácio de Morais*

“Plantar cana na Amazônia é descabido” (Foto: Divulgação)

O automóvel causa basicamente dois tipos de problemas ambientais: contribui para o efeito estufa, ao emitir dióxido de carbono (CO2), e compromete a saúde pública, poluindo a atmosfera com gases nocivos e partículas. E por estranho que possa parecer, os carros atuais emitem, praticamente, tanto CO2 como os de há dez anos. Então o que fazer diante dessa realidade?

Qual a melhor opção e a que menos impacta o meio ambiente e a saúde da população? Tem se falado muito em carro elétrico, mas esse tipo de veículo não é de todo ecológico porque o grau de poluição provocado por ele dependerá da fonte geradora de energia e também do posterior descarte das baterias.

Diante dessa realidade, por que não priorizar uma fonte de energia renovável, não poluente e disponível no mercado?

O Brasil possui um parque industrial com potencial de suprir a demanda de álcool para o mercado interno, tem autonomia na produção de etanol e detém a tecnologia de fabricação do produto.

O que falta é mesmo uma política de estímulo à produção de etanol e a conscientização das pessoas para priorizar o uso deste produto. Atualmente, mesmo com carros flex, muita gente ainda faz a opção em utilizar a gasolina, até mesmo quando o custo x benefício do álcool é equivalente ao uso da gasolina e mesmo sabendo do alto teor poluente deste combustível fóssil.

Na última edição da revista Veja, nas páginas amarelas da publicação, o presidente do Conselho da Toyota, Jennifer Ann Thomas, lembra que em consequência das mudanças climáticas e do aquecimento global, a sociedade precisa incentivar a adoção de um veículo que respeite o meio ambiente e destaca que, no Brasil, o etanol já é uma alternativa bastante popular. Para ele, o carro do futuro terá que ser sustentável. Se não for assim, na opinião dele, desaparecerá.

Sobre o Projeto de Lei que tramita no Congresso de plantio de cana-de-açúcar na Amazônia, que foi duramente criticado por especialistas, ambientalistas e por representantes do setor sucroenergético do país, o executivo disse que a montadora não se pronunciou a respeito porque ainda não se inteirou profundamente sobre esse tema.

Esse debate sobre o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia é inoportuno, descabido e inaceitável

Por que plantar cana em uma região que não tem tradição para tal cultivo, que não dispõe de parque industrial instalado para tal, que necessitará de investimentos vultosos para operacionalizar o processo industrial e, pior ainda, que vai alterar, negativamente, o Zoneamento Agroecológico, que determina as áreas onde a cana-de-açúcar pode ser cultivada, provocando, assim, uma forte pressão por desmatamento no bioma amazônico?

Muito mais importante para o país é debater formas de reativar as indústrias do setor que estão desativadas e que poderiam voltar a atividade, sem grandes investimentos, para produzir um combustível limpo e renovável que é aproveitado de fontes renováveis, geralmente vegetal, tais como, algas, milho, cana-de-açúcar, entre muitas outras fontes que podem ser usadas para fazer o etanol.

O etanol tem sido misturado à gasolina para ajudar o país na redução de emissão de gases poluentes na atmosfera. Em 2016, essa taxa era de 26%, ou seja, 26% de cada litro de gasolina é, na verdade, etanol.

Ao contrário do petróleo, o etanol pode ser fabricado, reduzindo o impacto da extração de petróleo do meio ambiente. Precisamos ter consciência de que o futuro não terá mais espaço para combustíveis fósseis. Eles serão gradualmente substituídos por fontes renováveis, que podem ser a energia elétrica, o hidrogênio, o próprio etanol, o biodiesel, etc, e a indústria automobilística precisa acompanhar essa evolução.

*Presidente da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida) e da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan)