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Brasil será grande exportador de etanol para os EUA

Qual será a política externa brasileira no próximo governo? Os EUA terão maior prioridade que Cuba e Venezuela? Para falar sobre este e outros assuntos, como o das exportações de etanol, esta coluna convidou Hélio Magalhães, presidente da Câmara de Comércio Brasil-EUA.

Aqui, trechos de sua entrevista:

Qual a principal tarefa do próximo governo?

Vão ter que olhar o comércio e a inserção do Brasil no mundo de uma maneira mais estratégica, sem o viés ideológico atual. Principalmente em relação aos EUA. Temos perdido tempo com o Mercosul. A proposta seria o novo governo, seja Lula, seja Alckmin, se aproximar mais do setor empresarial e desenvolver uma estratégia global. Existe também um viés a favor de o Brasil se manter fechado. Não dá mais. Para exportar mais, você precisa importar mais, é uma via de duas mãos. Há 20 anos nossas exportações eram iguais às da China. Hoje exportamos US$ 120 bilhões e a China, US$ 600 bilhões. Por outro lado, importamos US$ 80 bilhões e a China, US$ 350 bilhões. Então temos que abrir o Brasil. O Brasil tem um papel muito importante no contexto global, mas para isso precisamos ter uma visão mais estratégica, uma visão mais comercial, menos ideológica e menos oportunista. O Brasil tem que encontrar sua vocação e o etanol é uma oportunidade enorme.

Os EUA vão importar etanol do Brasil?

Temos uma oportunidade fantástica com o etanol e a Câmara Americana tem entrado nessa discussão. Estamos inaugurando uma regional em Ribeirão Preto, na última semana de setembro, para dar foco efetivo no etanol. É a possibilidade de o Brasil se tornar um fornecedor de energia tipo o que é hoje um país árabe com o petróleo. Acredito piamente que vamos resolver as diferenças com os EUA, pois a gente produz etanol da cana e eles, do milho. E a necessidade do produto é muito maior que essa questão, que, por enquanto, está complicada. Mas será resolvida. Os EUA vão precisar do etanol.

Qual a sua expectativa em relação a um novo mandato de Lula? Há diferenças entre os programas econômicos de Lula e Alckmin?

O presidente afirmou, em recente jantar, que não vai mudar o programa. Eu acredito nisso. Ele disse que acha que o programa deu certo e que a discussão dos juros é uma discussão errada. Não acho que exista muita diferença entre o programa de um e de outro, pelo contrário. Aliás, a situação é interessante pois no caso de mais um governo Lula a gente até sabe o que vai ser feito, supondo que ele vai dar continuidade ao que aí está. Já o Alckmin não foi claro em quais seriam as mudanças que faria. As conversas que tivemos com pessoas que têm influência no governo Lula apontam que o presidente, nesse segundo governo, trabalharia mais o nível microeconômico, a Previdência, apesar de ter dito que o crescimento é a solução. Mas crescimento passa pela discussão desses dois temas. Particularmente, acho que ainda há muita coisa a ser feita no nível econômico. Um exemplo: o governo tem que fortalecer as agências reguladoras, que foi um ponto que o governo atual deixou enfraquecer. Tivemos um PIB fraco no segundo trimestre, muito abaixo das expectativas, temos uma inflação mais baixa que o esperado. Tem gente que fala em uma mexicanização do Brasil: inflação baixa, câmbio moderado e pouco crescimento. Acho que falta investimento.

O que poderia ser feito para atrair mais investimentos para o Brasil?

Precisamos de regras mais claras. Houve mudanças de regras que afetaram investimentos que haviam sido feitos no passado. A área energética é um exemplo. Das empresas que investiram aqui, algumas estão querendo ir embora e isso é muito ruim para o Brasil. Quando você olha numa perspectiva de longo prazo, conhecer as regras e ter certeza de que elas vão ser respeitadas é fundamental.

Mas regras existem, não?

Existem, mas muitas não estão sendo respeitadas. Existe uma clara interferência do governo. A discussão da tarifa telefônica, por exemplo, em que o ministro da época quase incitou a população a não pagar. Trata-se de um tipo de comportamento muito negativo. Então existe não só a necessidade de aprimorar as regras, como também a necessidade de mostrar que o Brasil, que o governo, vai aceitá-las e cumpri-las. Esse é o aspecto número um para os investimentos de longo prazo. O segundo é a carga tributária. Uma empresa americana olha o investimento sob a perspectiva do retorno. E o retorno tem que acontecer porque financeiramente é importante para o investidor. O investidor não tem bandeira, não tem ideologia, ele avalia as condições de aquele investimento trazer retorno, então a carga tributária entra como um fator extremamente importante. Por motivos pessoais, fiz um estudo, uma comparação entre Brasil e México. Nossa carga tributária é mais que o dobro da mexicana no nível da empresa, o que significa que, quando você pensa em fazer um investimento, o Brasil já sai atrás do ponto de vista de potencial como candidato.

Você acha que é preciso uma reforma para reduzir a carga tributária?

Não, o mais importante para reduzir a atual carga tributária é definir uma direção. Para mim, a atual carga é conseqüência e não causa, assim como acho que a taxa de juros não é causa é conseqüência. Ouvi do ex-ministro Palocci, outro dia, numa reunião que fizemos na Amcham, que ele vai trabalhar para aprovar uma lei de superávit. Isso é muito importante pois, da mesma forma que o governo FHC trouxe o conceito da responsabilidade fiscal, isso traria o conceito do superávit para um espaço real. Isso abre duas possibilidades para o Brasil. Primeiro, ter dinheiro para investir. Hoje não temos, estamos queimando investimento para pagar custeio. Segundo, abrir a possibilidade, no

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