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A sinergia entre as montadoras e o setor sucroenergético

Confira opinião de Jacyr Costa

O setor sucroenergético e o automobilístico fazem parte de uma importante cadeia produtiva. Integrados, trazem benefícios não só para seus respectivos setores, como movimentam uma ‘enorme engrenagem’, que, por fim, também impacta positivamente os consumidores.

Essa parceria, que surgiu há 47 anos durante a crise do petróleo, também teve um importante aliado: a criação do PróÁlcool (Programa Nacional do Álcool). A iniciativa foi uma resposta para a grave crise de balança de pagamento que o Brasil atravessava e garantir o abastecimento da frota brasileira e, entre muitos avanços, desenvolveu uma grande e inovadora tecnologia nacional: o uso do etanol como combustível limpo e sustentável.

Vale destacar que este trabalho conjunto também foi responsável por constituir uma importante agroindústria no interior do país e desenvolver uma tecnologia automotiva ímpar no mundo.

A tecnologia e infraestrutura de distribuição de combustíveis construídas entre as décadas de 1970 e 1980 para a produção e uso do etanol como combustível trouxe frutos importantes para o país e, nos anos 2000, este trabalho foi coroado com o lançamento do carro flex fuel brasileiro.

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Rapidamente, o veículo transformou-se em uma preferência nacional, pois pela primeira vez na história mundial o consumidor ganhou a capacidade de escolha do combustível na hora do abastecimento, e não mais na compra do veículo. Este importante avanço, além de ter impulsionado significantemente a expansão do número de postos de combustíveis pelo país, atualmente são 42 mil pontos para abastecimento, hoje o Brasil conta com uma frota composta por mais de 30 milhões de carros e 5,5 milhões de motos flex.

Outro trunfo, este ainda mais importante para a Sociedade, é o protagonismo do veículo movido com o biocombustível na diminuição da emissão de GEE (Gases do Efeito Estufa).

Quando analisamos o impacto regional, também temos uma bela história para contar. Exemplo de desenvolvimento no interior do Brasil graças ao etanol, a região de São José do Rio Preto concentra desde 2004 grandes grupos sucroenergéticos, que se instalaram nos municípios localizados no entorno e têm gerado empregos, renda e desenvolvimento.

Ao todo, a grande região de Rio Preto conta com 28 unidades ativas que colaboram com o protagonismo do setor e é considerada uma das mais importantes na produção do etanol.

Jacyr Costa Filho

O Estado de São Paulo como um todo também se beneficiou. Hoje, conta com 163 usinas, das 360 em operação no país. São mais de 400 municípios do Estado envolvidos no cultivo da cana-de-açúcar em uma área de 6 milhões de hectares, que resulta em mais de 1,1 milhão de empregos diretos e indiretos no setor. Em 2019, São Paulo respondeu por 54% do volume de cana processada no Brasil.

Outro ponto de destaque foi o consumo do etanol hidratado, que representou quase 50% da demanda para veículos leves no Estado.

Todos estes dados ratificam a importância dos setores automobilístico e sucroenergético para a economia brasileira, o que nos faz refletir sobre a urgência em estarmos atentos e prontos para responder às transformações que podem ocorrer nos próximos anos.

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O mercado assiste à crescente discussão e produção, casos da Europa e da China, dos carros movidos à energia elétrica. No Brasil, a eletrificação dos veículos merece uma reflexão mais aprofundada, já que carrega questões importantes para serem debatidas e refletidas: altos investimentos em infraestrutura e a provável desindustrialização da cadeia automobilística (autopeças e montadoras), além do setor produtivo de etanol.

O custo estimado de implantação do smart grid no país, hoje, está entre US﹩ 210 e 300 bilhões, de acordo com estudos da Empresa de Estudos Energética (EPE). Um investimento alto que é desnecessário.

É preciso desmistificar o tabu de que o carro elétrico é menos poluente do que um veículo flex fuel movido à etanol. Um bom exemplo de comparação pode ser os carros europeus e chineses movidos à bateria, cuja base de produção da eletricidade é o carvão mineral, responsável pela poluição do ar, emissão de GEE e pela formação de chuvas ácidas.

Ao considerar o *ciclo total de vida, o veículo a etanol possui um nível inferior de emissão de GEE ao nível de emissão de um carro elétrico com bateria europeu e muito menor quando comparado a um chinês, pois a matriz elétrica brasileira é mais limpa.

Visando a manutenção de empregos, sempre tão importante, e a interiorização da economia promovida pelo biocombustível, é fundamental que a produção de etanol seja estimulada para ampliar o mercado, além da sua eficiência ambiental.

A boa notícia é que o etanol pode ser o combustível para o veículo mais limpo do mundo, que é o carro híbrido que produz a eletricidade a partir do etanol dentro do veículo. Como exemplo, temos o Corolla, da Toyota, primeiro carro híbrido flex do mundo, lançado em 2019 no Brasil.

Cada país deve encontrar a sua solução de melhoria ambiental mais adequada e, sem dúvida, o carro movido à etanol é a melhor saída para o Brasil, conforme disse o presidente da Volkswagen no Brasil, Pablo Di Si, em recente evento promovido jornal Valor Econômico.

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Neste ponto nosso país está um passo à frente, pois já dispõe da tecnologia, infraestrutura e indústria automobilística adaptada. O futuro é o carro híbrido e, posteriormente, o carro movido a hidrogênio a partir do etanol.

Com essa visão de futuro continuaremos a ser referência para o mundo e a sinergia dos setores automobilístico e sucroenergético continuará sendo geradora de empregos e tecnologia inovadora para impulsionar o país.

*Ciclo total de vida: estima o consumo de energia e as emissões de GEE da etapa de extração da matéria-prima e da transformação de energia na produção dos combustíveis.

*Jacyr Costa Filho é membro do Comitê Executivo do Grupo Tereos e presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp

 

 

 

 

 

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