Agro

Do backoffice ao coração do negócio: porque o agro precisa de um Procurement forte

Fortalecer a área de Procurement (ou Suprimentos) se torna uma decisão estratégica - e urgente

O agronegócio representa cerca de 24% do PIB brasileiro, segundo dados da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Com essa dimensão, eficiência, previsibilidade e controle deixam de ser diferenciais e passam a ser condições mínimas para manter a competitividade. Nesse cenário desafiador, fortalecer a área de Procurement (ou Suprimentos) se torna uma decisão estratégica — e urgente.
O papel da área de Compras vai muito além da negociação de preços.

Um Procurement estruturado atua como uma engrenagem crítica de planejamento, inteligência e resiliência. Empresas que tratam Compras apenas como backoffice perdem a oportunidade de capturar valor real em toda a cadeia de suprimentos.

Segundo estudo da McKinsey & Company, uma atuação madura de Procurement
pode gerar entre 5% e 15% de economia direta nas aquisições, além de benefícios indiretos como redução de riscos, otimização de estoques e melhoria no relacionamento com fornecedores.
No setor sucroenergético, por exemplo, o desafio se amplia. É comum encontrarmos múltiplas
unidades com cadastros duplicados, políticas de aquisição descentralizadas e critérios de
homologação inconsistentes.

Um Procurement forte padroniza materiais, consolida contratos, reduz o número de fornecedores e melhora a performance técnica e financeira da cadeia.

Isso impacta diretamente na gestão do CAPEX e do OPEX, otimizando investimentos e operações.
Além disso, o agro brasileiro é altamente dependente de logística rodoviária e sofre com gargalos estruturais.

Um Procurement preparado desenvolve rotas alternativas, garante estoques críticos com
planejamento e atua preventivamente para evitar rupturas. Isso é essencial em um setor em que as janelas operacionais são estreitas e inflexíveis.
Outro ponto central é a integração da área de Compras com os demais setores da empresa. Um Procurement moderno precisa dialogar com agrícola, manutenção, financeiro, jurídico e TI.

Esse papel integrador evita decisões isoladas, elimina retrabalho e gera alinhamento estratégico entre demanda e oferta — tanto de insumos quanto de serviços.
No cenário atual, com pressões crescentes por sustentabilidade e compliance, a responsabilidade do Procurement se amplia ainda mais.

É a área que assegura uma cadeia de suprimentos ética, legal e alinhada com critérios ESG. O não cumprimento desses princípios pode gerar prejuízos reputacionais e até impactos regulatórios.
A inovação também passa por Compras. Muitos fornecedores são fontes de novas tecnologias, materiais, automação e modelos colaborativos. Um Procurement atuante não só compra, mas cocria soluções com parceiros estratégicos. Isso é especialmente relevante no agro, onde a busca por eficiência energética, produtividade por hectare e menor uso de insumos exige soluções cada vez mais sofisticadas.
Mas nenhum sistema ou processo é eficaz sem profissionais qualificados. A contratação de bons profissionais para Compras é um investimento. O setor exige pessoas com visão sistêmica, inteligência emocional, habilidade de negociação, capacidade analítica e domínio técnico.
Profissionais assim são escassos — e fazem diferença. Treinamento e valorização constante
devem fazer parte da cultura das empresas que querem um Procurement realmente forte.
Quando a área de Compras é bem estruturada, reconhecida e integrada à estratégia da empresa, ela se torna geradora de valor — e não apenas um setor que “tira pedido”.
A boa notícia é que ainda há muito espaço para evolução. Muitas empresas do agro ainda não
exploraram todo o potencial de suas áreas de Suprimentos. E quem se antecipa nessa jornada colhe vantagens reais: melhor resultado financeiro, mais previsibilidade, maior competitividade e uma operação mais sustentável.
Porque, no agro, quem compra bem, planta melhor — e colhe com vantagem.

Juliano Braga é Superintendente de Suprimentos do Grupo Farias, Mestre em Administração e autor do livro “Procurement na Mão”