Em meio a tantas más notícias vindas da economia brasileira, um dado trouxe um pequeno alento aos mercados no início deste ano. Superando as previsões mais otimistas, a balança comercial do País – que mede a diferença entre exportações e importações – registrou em 2015 um superávit de US$ 19,8 bilhões, melhor resultado desde 2011.
É claro que nem tudo foram flores. Afinal, os números refletem o significativo recuo da atividade econômica no Brasil, a alta da inflação – que ultrapassou os 10% no ano passado – e a disparada do dólar – com a desvalorização de quase 50% do real. Com isso, as importações levaram um tombo de 24,3% em 2015. As exportações caíram um pouco menos (14%), o que permitiu o saldo positivo da balança comercial.
Mais uma vez os agronegócios tiveram participação de destaque no resultado. Mesmo com uma queda significativa nos preços internacionais das commodities agrícolas, o valor das exportações do segmento recuaram 9% entre 2014 e 2015, percentual menor que o tombo de 14% na média geral das vendas externas.
Mesmo com o recuo do valor obtido pelo agronegócio, a participação do segmento na composição das exportações brasileiras avançou de 29,2% em 2014 para 31,2% no ano passado, uma diferença de um ponto percentual, de acordo com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
A alta do dólar em relação ao real foi, evidentemente, um fator positivo para as exportações, que compensou parte da queda dos preços internacionais de commodities. Mas nada disso adiantaria caso a produtividade dos agronegócios nacionais tivesse recuado.
Um dado que tem influência significativa sobre os preços internacionais das commodities foi divulgado em meados deste primeiro mês de 2016: a economia chinesa cresceu apenas 6,9% no ano passado, menor patamar desde 1990. Isso significa que um dos principais motores da economia mundial, a China, está desacelerando gradativamente, o que preocupa, sem dúvidas.
Porém sabemos que os mais de 1,3 bilhão de chineses precisam continuar sendo alimentados. Pode até haver queda de preços das commodities, mas esse mercado seguirá tendo de ser atendido, e o agronegócio brasileiro está preparado para dar conta dessa demanda.
Além disso, boas perspectivas estão se abrindo em relação à nossa vizinha e parceira Argentina. O novo governo, do presidente Mauricio Macri, tem dado sinais de que as políticas restritivas ao comércio internacional adotadas pela administração anterior devem ser abandonadas ou, ao menos, abrandadas, o que pode significar uma maior abertura aos produtos brasileiros.
Sabemos que há ainda outros bons mercados estrangeiros que podem ser prospectados pelo nosso agronegócio. Talvez esse seja um dos grandes desafios para os produtores rurais, já que a exigência por qualidade e disponibilidade cresce muito quando os negócios são fechados internacionalmente. Isso sem falar da necessidade de cumprimento de regras sanitárias rígidas, que muitas vezes acabam sendo, de fato, barreiras quase que intransponíveis às exportações nacionais.
Também, o considerável estímulo dado pela alta do dólar às exportações deve seguir permitindo melhores preços para os produtos em nosso próprio mercado interno, o que garante retornos mais adequados ao agronegócio.
Na outra mão, no entanto, o segmento sofrerá com a redução na oferta de crédito à expansão agrícola, além de ser ainda mais onerado pelas altas taxas de juros cobradas atualmente pelo mercado financeiro.
Quem atua no agronegócio sabe que a atividade não é simples, e lidar com as variáveis nele envolvidas é um exercício de persistência e coragem. Depender das condições climáticas em um País com tanta variedade de climas é um dos principais desafios.
Podemos tomar como exemplo as chuvas, que faltaram em muitos lugares no início do ano passado e que agora estão castigando certas regiões. Mesmo que um segmento se beneficie desse clima, surge o desafio de escoar a produção, especialmente em estradas de terra que, em alguns casos, ficam intransitáveis devido à lama.
Afinal, sabemos bem que não é fácil viver do agronegócio. Ser um profissional do campo é um exercício de fé e de perseverança. Mas saber que a economia de todo um grande país, como o Brasil, depende dos resultados obtidos por esse segmento é sem dúvida um fator de estímulo para se apostar em seu potencial.