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Açúcar retoma papel de “salvador da pátria”

JOB Economia destaca preços e demanda melhor da commodity

Foto: Arquivo
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O clima no Brasil próximo do normal no Centro-Sul (CSUL) e Norte-Nordeste (NNE) possibilitou bons rendimentos agrícolas, sem expansão de área no CSUL e ligeira recuperação no NNE. “Os rendimentos industriais das últimas safras oscilam em torno dos valores adotados na previsão”, disse Julio Maria M. Borges, Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento Ltda.

De acordo com ele, não há crescimento de safra previsto entre 2019 e 2020 no Brasil e Centro-Sul, com estimativas de 647 milhões de toneladas e 594 milhões de toneladas, respectivamente.

“A mudança é a forte mudança do mix de produção a favor do açúcar. Estamos repetindo o que aconteceu em 2016/17, tanto em termos de produção como em termos de preços relativos do açúcar e etanol”, afirmou. Portanto, as unidades destinarão 48,4% da cana para a produção de açúcar em 2020/21, versus 35% na safra anterior.

Segundo a consultoria, o açúcar retoma seu papel de “salvador da pátria”, com preços e demanda melhor que o etanol, com previsão de dois recordes neste caso no Brasil: um na produção, de 41 mi t; o outro, na exportação de açúcar próxima de 30 mi t, cerca de 10 mi t a mais que na safra passada. Sendo assim, a Índia perde seu papel de maior produtor mundial da commodity. No Centro-Sul, a produção está prevista em 37,5 milhões de toneladas, versus 26,73 milhões na temporada anterior.

No caso da exportação de açúcar para a safra atual, deverá ser de 29,80 milhões de toneladas, versus 19,44 milhões de toneladas na temporada passada. 

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Esta flexibilidade relevante que o Brasil tem na produção do adoçante terá uma consequência também relevante nos preços do açúcar no mercado internacional daqui para a frente. “Sempre que o açúcar estiver remunerando o produtor melhor que etanol, o Brasil tende a produzir mais açúcar e aumentar a oferta global do produto. Aquela situação observada no passado de déficit de oferta com preços altos por duas ou três safras seguidas tende a não mais ocorrer e os preços internacionais serão relativamente mais estáveis”, ressalta Borges.

Diante deste fato, o Brasil se torna um regulador de preços no mercado internacional de açúcar e o estímulo exagerado de preços para aumento de produção em países de custo relativamente alto deixa de existir. “O mercado internacional de açúcar poderá ter uma concorrência mais justa”, avalia.

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Quanto ao etanol deve ser observada uma produção mínima necessária para viabilizar o processo de produção na usina. “O etanol mais uma vez se posiciona como produto de ajuste da safra. Convém ressaltar que esta flexibilidade na produção das usinas brasileiras tem sido de grande valia para a viabilidade econômica do negócio de cana-de-açúcar. Esperamos que o RenovaBio não seja um entrave a esta flexibilidade e seja realmente um meio de melhorar o negócio”, ressalta o consultor.

Para a Job, a produção de etanol de cana no Centro-Sul cairá para 25 bilhões de litros, ante 31,6 bilhões na safra passada. Já no Brasil, sairá de 34 bilhões em 19/20 para 26,8 bilhões de litros na safra atual.

A previsão da JOB Economia é que consumo de ciclo Otto caia nesta safra atual em 12% + 2,5%. A queda prevista na demanda de etanol combustível é de 16%. O abastecimento do mercado de ciclo Otto pelo etanol será mínimo e comparável àquele observado em 2016/2017. “Cerca de 25% do potencial de mercado do etanol será abastecido nesta safra 2020/21. Exportações e importações serão próximas daquelas da safra passada”, disse.