O consumo de etanol hidratado no mercado interno caiu a partir de outubro, por conta também do realinhamento de preços, mas ainda assim o desempenho de vendas foi espetacular.
Em novembro, foram comercializados 1,44 bilhão de litros nos postos em atuação no País, volume 15,5% inferior aos 15,5 bilhões consumidos em outubro.
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Os dados são da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), para quem do início da safra 15/16 a até novembro as usinas de cana-de-açúcar da região Centro-Sul do País fizeram 15,9 bilhões de litros de hidratado, alta de 8,6% sobre o mesmo período da safra anterior.
Mas e o etanol celulósico, por que não acompanhou esse avanço? O Portal JornalCana lista a seguir informações com o objetivo de entender a situação.
Entre os principais agentes do setor sucroenergético comprometidos com o etanol celulósico, ou 2G, falar sobre esse produto é um tabu. Ninguém se sente à vontade para abrir informações precisas sobre produção ou mesmo sobre os motivos do aparente insucesso desse biocombustível.
O Brasil tem três companhias sucroenergéticas diretamente envolvidas na produção e em projeto de fabricação do 2G. São elas:
GranBio: é controlada pela GranInvestimentos S.A., holding da família Gradin, e tem a BNDESPar, empresa de participações do BNDES, como acionista minoritário, com 15% do capital total. Possui a usina Bioflex 1, no município de São Miguel dos Campos (AL), em operação desde setembro de 2014, com capacidade para produzir 82 milhões de litros por ano. Pelos números divulgados, a unidade custou R$ 300 milhões, dos quais R$ 280 milhões foram aplicados por meio do BNDES.
A segunda companhia com unidade de etanol celulósico é a Raízen, joint-venture da Cosan e da Shell, inaugurada em julho deste ano em Piracicaba (SP), com presença da presidente Dilma Rousseff. A unidade teria custado R$ 237 milhões, dos quais R$ 207,7 milhões foram investidos através do BNDES. Conforme a divulgação, a biorrefinaria está capacitada para produzir 42 milhões de litros por ano. É preciso lembrar que a Raízen tinha projeto inicial de instalar 7 fábricas de etanol 2G no País.
Já a terceira companhia focada também no 2G é a espanhola Abengoa, com duas unidades sucroenergéticas no interior paulista. E é em uma delas, a Usina São Luiz, em Pirassununga, na qual a empresa projetou a implantação de sua unidade de 2G. Projetou, mas ficou em projeto, apesar de o BNDES ter oficialmente liberado neste ano R$ 309 milhões especialmente para a futura planta de etanol celulósico.
Ao longo de 2015, o Portal JornalCana investiu o quanto pode para apurar informações, entrevistar, entender com os agentes do setor sucroenergético sobre o 2G. Não foi fácil. As informações a seguir podem ajudar a montar o quebra-cabeças da novela do etanol celulósico brasileiro.
GranBio
Em 30/11, na capital paulista, o vice-presidente de novos negócios da GranBio, Alan Hiltner, revelou para uma seleta plateia de pouco menos de 100 pessoas, no evento World Bio Markets, promovido por empresa inglesa, que literalmente as coisas não saíram como o esperado.
Disse que neste mês de dezembro o comando dirigente da companhia teria uma reunião para avaliar o processo da Bioflex 1, a usina de 2G do grupo em operação desde setembro de 2014.
Após a palestra, a equipe do Portal JornalCana pediu entrevista a Hiltner, mas a assessoria de imprensa barrou. O executivo demonstrava interesse em falar, informado de que o leitor desse portal busca qualquer informação relacionada ao setor. Mas não foi possível.
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Raízen
Em 27/11, também na capital paulista, o presidente do Conselho de Administração da Cosan, Rubens Ometto, disse ao Portal JornalCana que o projeto de etanol celulósico segue dentro do esperado.
Já o presidente da Cosan, Marcos Lutz, informou, no mesmo dia, que a unidade 2G em Piracicaba está eficiente. “Agora a ideia é fazer essa unidade ficar muito eficiente antes de fazer [novos investimentos em plantas].” Disse mais: “Não temos hoje um planejamento específico e temos [metas] a endereçar para a planta de Piracicaba, apesar de estarmos super-otimistas.”
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Sobre investimentos nas demais plantas 2G projetadas pela Raízen, o presidente da Cosan informou ao Portal JornalCana: “A próxima planta deve ser muito barata do que a primeira, porque a primeira se faz muito mais robusta para endereçar um monte de coisa. Na primeira, se aprende. Na segunda, se pode fazer com menos ativos, analisando componentes para baratear custos.”
Bastidores
Nos bastidores de eventos sucroenergéticos realizados em 2015, a equipe do Portal JornalCana apurou pelo menos 5 informações que podem ajudar a explicar porque o 2G não deslanchou:
1 – Faltou maturar melhor os projetos antes de coloca-los em prática. O uso da palha, por exemplo, ainda é um desafio a ser conquistado
2 – Boa parte das tecnologias empregadas é cara e não se adaptou como o esperado. Como há atrelamento de contratos com fornecedores, isso prejudica
3 – A expertise de fabricação do etanol convencional fez o preço de produção do litro cair para médios R$ 1, enquanto o litro do 2G não acompanhou essa queda. Ninguém do setor fala, mas estima-se o litro do 2G não sai por menos de R$ 2
4 – Falta maior concorrência entre os fornecedores de insumos. Um exemplo está nas enzimas. A Novozymes e a DuPont são praticamente as duas fornecedoras.