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Vinhaça vai virar insumo para produção de energia

O potencial da vinhaça para a produção de energia começará a ser explorado pela primeira vez em escala industrial pela Cetrel S.A. – Empresa de Proteção Ambiental, a partir de parceria com usina nordestina, segundo Suzana Domingues, gerente da área de energia da empresa, atualmente sob controle do grupo Braskem, que detém 54% de seu capital.

Subproduto do processamento da cana de açúcar utilizada na fabricação de etanol, a vinhaça (ou vinhoto) tem sido utilizada largamente em processos de fertirrigação de lavouras, principalmente de cana. Alternativamente, algumas usinas também aproveitam o resíduo para a produção, por meio de biodigestão, de vapor para movimentar caldeiras. A novidade, ressalta Suzana, é que a Cetrel decidiu adotar a vinhaça como insumo para a geração de energia.

Criada em 1978 pelo governo da Bahia para realizar o tratamento de efluentes e resíduos do Polo Industrial de Camaçari, respondendo por sua disposição final e pelo monitoramento ambiental do complexo, a Cetrel foi privatizada em 1991 e, há quatro anos, redesenhou seu planejamento estratégico, desenvolvendo um ambicioso projeto de inovação e uma plataforma de novos negócios ambientais. Segundo Suzana, reforçada pelo gerente de relações institucionais da empresa Luciano Fiúza, a empresa passa a “tratar efluentes para gerar valor”, agregando, entre outras áreas, também o setor sucroalcooleiro ao seu portfólio.

O projeto para geração de energia foi aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em 2008, num investimento total de R$ 7,5 milhões, dos quais 30% subvencionados pela instituição e 70% pela Cetrel. Com prazo de três anos, o projeto foi iniciado em janeiro do ano seguinte, co m o começo dos testes em laboratório, que incluíram, entre outras etapas, a análise das características físico-químicas da vinhaça e a montagem de um conjunto de reatores para o experimento.

No dia 24 de março, a Cetrel, em parceria com a Destilaria Japungu, da Paraíba, inaugurou oficialmente sua primeira planta piloto, que já estava em fase pré-operacional desde o começo deste ano. “Faz todo o sentido montar o piloto dentro da usina, porque isso permitirá testar diferentes configurações de reatores e avaliar todas as questões relacionadas ao processo industrial, além de analisar as flutuações na qualidade da vinhaça ao longo do ano agrícola”, observa Suzana.

A planta piloto poderá processar entre 50 e 300 litros de vinhaça por hora, já incluindo sistemas de bombeamento, tanques, estruturas analíticas e um sistema digital de controle distribuído (SDCD), que permite monitorar processos de forma automatizada. Todo o pacote foi formatado, diz Suzana, para permitir uma “operação mais robusta e segura, mais próxima do processo industrial”.

Dona da tecnologia, a Cetrel soube aproveitar as técnicas já disponíveis de biodigestão para produzir o biogás que será, por fim, destinado à geração de energia. “Usamos o conhecimento já acumulado sobre biodigestão para fazer com que este trabalhasse a nosso favor na produção de biogás de vinhaça”, reforça Suzana. O processo utiliza bactérias para transformar o conteúdo orgânico da vinhaça, medido pela demanda bioquímica de oxigênio, em metano e dióxido de carbono. O biogás obtido, composto basicamente de metano, ganhará destinação mais nobre e limpa, afirma Fiúza, passando a alimentar um motogerador ou uma turbina, que se encarregará, por sua vez, de gerar energia.

O potencial de geração, neste caso, observa Suzana, dependerá essencialmente da qualidade da vinhaça e do volume de material orgânico contido no resíduo. A produção de um litro de etanol, por exemplo, gera um volume 10 a 14 vezes maior de vinhaça. Numa estimativa aproximada, para produzir anualmente perto de 27,5 bilhões de litros de etanol, aponta Suzana, as destilarias brasileiras produzem entre 270 bilhões a 380 bilhões de litros de vinhaça, o que corresponderia a uma energia potencial equivalente a meia hidrelétrica de Jirau, que terá capacidade instalada para 3.750 megawatts. “A vinhaça pode ser aproveitada para gerar energia limpa e de forma descentralizada, o que seria uma vantagem em relação aos custos de distribuição da energia hidráulica”, ressalta Suzana.

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