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Vantagem para o Equador

Ele escolheu o Brasil para sua primeira visita como chefe de governo e de Estado. Foi recebido com as honras devidas e voltou a Quito com a bagagem repleta de promessas de cooperação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu, entre outras coisas, ajudar o desenvolvimento da produção de biocombustíveis no Equador e tomar providências para aumentar as importações de produtos equatorianos, para reduzir o superávit comercial brasileiro. O visitante deixou, em troca, pouco mais que palavras simpáticas e nenhuma segurança quanto aos interesses da Petrobrás na exploração de petróleo no Equador.

Dirigentes da Petrobrás e da Petroequador assinaram um memorando de entendimento sobre a exploração do Campo de Ishpingo-Tambococha-Tiputini (ITT), na Amazônia, com reservas estimadas em 1,5 bilhão de barris de petróleo. Mas a empresa equatoriana já havia firmado memorandos semelhantes com a companhia chilena Enap e com a chinesa Sinopec, ambas estatais.

Correa disse em Brasília dar preferência à Petroequador, se a empresa tiver capacidade para desenvolver o campo. Se não tiver, haverá concorrência. Para a Petrobrás, o sinal mais animador talvez tenha sido a ausência do ministro equatoriano de Energia, Alberto Acosta, não incluído na comitiva presidencial. No fim de março, ele declarou ser contrário à participação da Petrobrás, por não ser uma companhia de propriedade exclusivamente estatal, mas de capital misto.

Mas nem a exploração do chamado bloco ITT, seja qual for a empresa escolhida, está assegurada. O campo está num parque nacional e ecologistas se opõem à mineração.

O projeto só será abandonado, segundo Correa, se o país for compensado de acordo com o valor estimado da produção anual, cerca de US$ 700 milhões.

A Petrobrás já atua em dois campos no Equador, onde investiu US$ 430 milhões nos últimos 10 anos. Sua atividade tem sido ameaçada por movimentos ambientais e sociais, especialmente indígenas.

No mês passado, numa visita preparatória da viagem do presidente Correa, a ministra de Relações Exteriores, María Fernanda Espinosa, conversou com o chanceler Celso Amorim e não deu garantia de superação desses problemas. Segundo Amorim, a Petrobrás manteria os projetos de investimento no Equador. A intenção foi reafirmada ao presidente Rafael Correa, em Brasília.

Interessado na produção de etanol e de biodiesel, o presidente equatoriano recorreu à fonte mais acessível e mais qualificada para a obtenção de tecnologia de sucesso comprovado, o Brasil. É preciso, argumentou, não ficar apenas na dependência do petróleo.

Quanto a esse ponto, Correa discorda de seu amigo e modelo venezuelano Hugo Chávez, empenhado, com apoio do ditador cubano Fidel Castro, em campanha contra o aumento da produção mundial de etanol.

Mas o presidente equatoriano defende a idéia, lançada por Chávez, da criação de um banco sul-americano – Banco do Sul – formado com reservas internacionais de vários países.

Chávez e o argentino Néstor Kirchner propuseram a formação de um banco de desenvolvimento. Correa propõe a constituição de uma instituição semelhante ao FMI, para financiar programas de ajuste. Seria uma forma, disse Correa, de evitar o vergonhoso condicionamento imposto pelo FMI. Em outras palavras: seria um meio de conseguir ajuda sem o compromisso de adotar medidas desagradáveis.

O governo brasileiro teve o bom senso, até agora, de não embarcar na proposta original de Chávez. Também não aceitou a idéia de Correa, mas não descartou formalmente nenhuma das duas possibilidades. O Brasil está aberto a qualquer tipo de proposta para o Banco do Sul, mesmo a espécie de FMIzinho defendida por Correa, disse o assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. Nós não vamos aderir a um projeto de cuja elaboração não participamos. A ressalva pode ser meramente diplomática, mas tem o defeito de manter aberta a discussão de duas propostas essencialmente ruins. Melhor seria enterrá-las definitivamente.

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