Mercado

Uso do álcool como combustível abre mercado para usinas nacionais

O plano do governo chinês no campo da energia não se limita a petróleo e gás. A China precisa de álcool, uma demanda que também abre portas para o Brasil.

Desde 2001, os chineses desenvolvem um programa de produção de álcool combustível a partir de milho, principalmente; e, em menor proporção, trigo, mandioca e batata doce. Também produzem álcool da cana, como o Brasil, “mas é pouco”, diz o consultor da União da Indústria Canavieira (Unica), Alfred Szwarc, que esteve na China no ano passado.

A cana, na China, é usada mais para produção de açúcar: são cerca de 10 milhões de toneladas anuais. O Brasil, que é o maior exportador de açúcar do mundo, produziu 23 milhões de toneladas no ano passado.

Empresários brasileiros estão se movimentando para exportar álcool à China e outros mercados. O ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e presidente da Silex Trading, Roberto Giannetti da Fonseca, coordena a criação da Ethanol Trading, que pretende reunir cerca de 200 usineiros de açúcar e álcool, espalhados nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.

Os sócios da nova trading – Copersucar, Cosan e CrystalSev entre eles – estão em entendimentos finais para a constituição da empresa. Até a Petrobras foi contactada.

A idéia, explica Giannetti da Fonseca, é levar o álcool de caminhão e trem até Paulínia (SP), onde há uma rede de dutos instalada. Um duto, a ser cedido pela Petrobras, seria usado para levar o álcool até os portos de São Sebastião (SP) e Rio de Janeiro. O ex-secretário da Camex diz que a Petrobras gosta da idéia. Ele acredita que é possível começar a operar neste ano, “em julho ou agosto.”

A demanda chinesa imediata por álcool, calcula Gianneti da Fonseca, é de 500 milhões de litros/ano. Szwarc estima que um bom contrato inicial do Brasil para a China poderia ficar entre 100 milhões e 200 milhões de litros/ano.

A China é grande fabricante de álcool para uso industrial, principalmente para bebidas, com capacidade para 3,7 bilhões de litros/ano. O Brasil, por sua vez, é capaz de produzir 14,5 bilhões de litros/ano, mas seu principal mercado é o de combustível – o álcool misturado à gasolina. E é nesse segmento que o governo chinês está ampliando o projeto-piloto deslanchado há três anos.

A idéia de usar gasolina com 10% de álcool começou a ser implantada, em 2001, em três províncias. Os resultados agradaram as autoridades, que decidiram, em janeiro, ampliar o programa para nove províncias. “A meta do governo chinês é consumir 1 bilhão de litros de álcool por ano até o fim de 2005”, diz o consultor da Unica.

Mas se a China tem milho e outras commodities para produzir álcool, por que vai se interessar pelo álcool do Brasil?

A resposta está, de novo, na extraordinária expansão econômica dos últimos anos. Quando o projeto-piloto para produzir álcool a partir do milho foi idealizado pelo governo chinês, havia grandes estoques do grão, que chegavam, às vezes, a 80% do consumo. O milho ficava impróprio para consumo humano, mas podia ser usado para produzir álcool. “Mas aí o crescimento econômico explodiu. E o milho voltou a ser usado como alimento, para frangos e porcos. Aí é que entra o Brasil”, diz o consultor da Unica.

Ele lembra que a frota de veículos na China cresce rapidamente e com ela, a demanda por combustível. E o governo chinês, diz, preocupa-se com o aumento da poluição. O uso do álcool combustível faz parte do programa de despoluição atmosférica, lançado há três anos e no qual o governo chinês está investindo o equivalente a US$ 1,5 bilhão.

“O Brasil pode ser um fornecedor complementar de álcool”, diz o consultor. O presidente da Unica, Eduardo Pereira de Carvalho, estará na China nos próximos dias. Ele integra a grande comitiva de empresários e executivos que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua visita a Pequim e Xangai, de 22 à noite a 27 à tarde, quando Lula segue para o México.

O presidente da Unica agendou um encontro na China com a Sinopec, a estatal que tem distribuído o álcool do projeto-piloto. Representantes da Petrochina também já estiveram no Brasil para conversar.

“A China tem interesse em investir no Brasil. Os chineses podem vir a participar de projetos para produzir álcool aqui e exportar para lá”, diz Szwarc.

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