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Uso de etanol reduz emissão de carbono na atmosfera

Sete milhões de toneladas de carbono equivalente deixaram de ser jogadas na atmosfera, graças ao uso do etanol, seja na forma de álcool hidratado, ou os 25% de anidro adicionados à gasolina. Esse número faz parte de um balanço energético desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Copersucar (CTC).

O balanço refere-se à safra brasileira de cana-de-açúcar 2002-2003 e é resultado de um complexo cálculo, que leva em conta a análise de todo o ciclo de vida do álcool — da produção agrícola às emissões veiculares – para quantificar os benefícios ambientais do combustível renovável, sempre em comparação ao uso do petróleo.

O diagnóstico foi feito a pedido da Alemanha e do Japão, revela Isaias Macedo, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp, responsável, junto com Manoel Regis Leal, do CTC, pela pesquisa, patrocinada pela União da Agroindústria Canavieira (Unica) e pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Segundo Macedo, as conclusões favoráveis ao etanol devem agilizar negociações com os dois países, empenhados em reduzir as emissões de gases geradores do aumento do efeito-estufa, antes mesmo da entrada em vigor do Protocolo de Kyoto.

O acordo internacional inspira-se nas evidências de que gases, como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), emitidos durante atividades econômicas, estão alterando a composição da atmosfera. Isso provocaria a elevação da temperatura média global, com graves conseqüências, como inundações e ondas de calor.

Entre as medidas previstas no Protocolo, estão os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, pelos quais países industrializados poderão comprar “créditos de carbono” no mercado, para financiar programas capazes de reduzir as emissões em outros países, como o Brasil. Para entrar em vigor, o protocolo precisa ser ratificado por países industrializados que, somados, gerem 55% dessas emissões.

“O estudo mostrou que, para cada unidade de energia fóssil gasta no ciclo produtivo, geram-se 8,3 de energia renovável do etanol”, enfatiza José Goldem-berg, secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, autor da apresentação do trabalho. A produção norte-americana de milho, compara, consegue uma relação desfavorável, de uma unidade de energia fóssil para produzir 1,3 de álcool.

O sucesso brasileiro, atribui o secretário, deve-se ao bom aproveitamento tecnológico de algumas qualidades da cana-de-açúcar, que o milho não tem. O bagaço de cana, por exemplo, substituiu, com menos emissões, o diesel das caldeiras das usinas.

O vinhoto, rejeito da produção do álcool que polui rios, hoje é reciclado, voltando à área agrícola como fertilizante, com a vantagem de reduzir o uso de insumos externos. Hoje, o consumo de fertilizantes minerais é menor na cultura de cana, do que na de soja.

“Nosso balanço considera toda a energia fóssil usada na produção da cana e do álcool. Por exemplo, o combustível fóssil gasto no preparo do solo, na fabricação de insumos agrícolas (como calcário ou herbicidas), ou da indústria”, diz Macedo.

Além desses fatores, também se relacionaram todas emissões de não-combustíveis, como óxido nitroso e metano emitidos na queima de cana. “Carbono equivalente é uma medida internacionalmente reconhecida, que soma os principais responsáveis pelo aumento do efeito-estufa: CO2 e esses dois gases”, explica Macedo. O balanço também mostra as emissões de gases dos motores a etanol, em relação às dos motores movidos com deri-vados de petróleo.

“Nós chegamos a dois números que permitem calcular quanto o país deixou de liberar, em CO equivalente, na safra 2002-2003. Para cada litro de álcool hidratado, deixa-se de colocar na atmosfera 0,46 kg de carbono equivalente. Já o litro de álcool anidro, que é misturado à gasolina, gera redução de 0,71 kg/litro.” Segundo Goldemberg, esses números provam ao mundo que a agroindústria canavieira é um sistema de produção sustentável de energia a partir da biomassa.

Uma das alavancas para o etanol ganhar o mercado internacional é a iminente proibição do aditivo MTBE – éter produzido a partir do metanol – , que substituiu, em muitos países, o chumbo tetraetila como antidetonante no combustível, mas se mostrou altamente poluente.

A outra alavanca está na negociação dos créditos de carbono, prevista no Protocolo de Kyoto. O anúncio do balanço das emissões do álcool, avisa Goldemberg, é mais um passo para avançar num projeto, anunciado em 2002 durante a Rio+10 (conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, realizada na África do Sul), e ainda não implementado.

Na época, o governo alemão se propôs a fornecer o equivalente a R$ 100 milhões para o Brasil aumentar em 100 mil unidades a frota de veículos movidos a álcool. O dinheiro seria transformado em descontos de R$ 1 mil para cada veículo a álcool comprado no país. Para a indústria, o governo ofereceria descontos no IPI. A indústria canavieira também seria beneficiada, com a ampliação da demanda em 430 milhões de litros de álcool por ano.

A Alemanha contabilizaria a doação como créditos de carbono, resultantes da substituição da gasolina pelo álcool. Isto a ajudaria a cumprir a cota de redução das emissões dos gases do efeito-estufa, acordada com a União Européia. Ao rodarem por dez anos, os 100 mil automóveis evitariam lançar na atmosfera cerca de 2 milhões de toneladas de carbono.

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