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Usineiros, uni-vos!

A associação entre a Cosan e a Shell repõe na mesa as discussões, estudos e conversas em torno do setor sucroalcooleiro. A operação entre as duas empresas é uma etapa, talvez ainda não final, da bem-sucedida estratégia de crescimento da Cosan.

Parece claro, sob a perspectiva da análise do cenário macroeconômico, que a inclusão de todas as etapas da atividade econômica sob o controle da mesma empresa ou grupo de empresas gera ganhos de escala que, no estágio atual da produção de riquezas, constituem a matriz de geração de lucros. O fenômeno tem várias faces, chamadas de verticalização, concentração ou consolidação de setor econômico, e está à vista de todos no noticiário cotidiano da construção civil, cimento, varejo e atacado, tecnologia de informação, saúde, educação, entre outras atividades.

No setor sucroalcooleiro, o processo é muito evidente, notadamente no Centro-Sul do País. Grandes empresas nacionais, multinacionais e internacionais fazem o mesmo movimento, bastando citar a ETH, já em processo de associação com a Brenco, Louis Dreyffus, Bunge, todas compradoras de usinas em passado recente, cujas iniciativas e tentativas de aquisição levaram a inúmeras operações até meados de 2008, antes da crise, o preço sendo fixado com base em múltiplo por tonelada de cana moída (capacidade de processamento instalada ou projeto já licenciado, em alguns casos), com interessantes retornos para os acionistas vendedores.

No Nordeste, a questão que se coloca é se o fenômeno da concentração ou consolidação atingirá, e em quais condições, as indústrias de produção de açúcar e álcool, participando os empresários do setor, seus colaboradores e funcionários do valor agregado criado por tal processo. É natural que se abra a reflexão, pois, em algum momento, que me parece bastante próximo, mercê do alto preço dos produtos nos mercados, as indústrias nordestinas interessarão aos consolidadores. Aliás, a discussão urge, pois não há garantias de que os preços se mantenham nos níveis atuais e não existe a menor dúvida de que os consolidadores estratégicos, eles também, têm seu apetite ditado pelos níveis de preço dos produtos.

O Nordeste tem vantagens competitivas que farão a diferença na consolidação: tem 52 milhões de habitantes (apenas atrás de EUA, restante do Brasil e México), 1,55 milhões de km² (após Canadá, EUA, restante do Brasil e Argentina) e USD 250 bilhões de PIB. O poder aquisitivo é crescente e superior à média de crescimento do resto do Brasil, mercado consumidor também crescente, portanto. As vantagens logísticas são insuperáveis, com localização privilegiada para distribuição e estrutura portuária incrementada.

A dificuldade está em como fazer os ganhos de escala. Uma estratégia de sucesso para as usinas do Nordeste passaria por uma consolidação anterior ao ingresso dos grandes consolidadores. A reunião, sob a mesma pessoa jurídica, ou joint venture, ou associação, dos campos e indústrias de unidades localizadas próximas umas das outras nas conhecidas microrregiões aumentaria a capacidade de processamento e maximizaria o valor de todas as unidades reunidas e dos ganhos de seus sócios, podendo até, quem sabe, fazer nascer outro grande consolidador.

Algumas dificuldades desse relevante processo nordestino dizem respeito diretamente à área jurídica, a exemplo da estrutura proprietária das empresas, normalmente em poder de famílias numerosas, com dezenas de herdeiros ou futuros herdeiros na linha de sucessão. É indispensável que as empresas procurem mecanismos para evitar o conflito no limiar destes novos tempos, preparando estruturas societárias que deem conforto a todos os sócios e garantam sua proporcional participação na realização desses ativos, e o fato é que tais mecanismos existem.

Nada acontecerá, todavia, se não tivermos capacidade e maturidade para vencer a maior dificuldade de todo este desafio: o desejável entendimento entre vizinhos. As indústrias das microrregiões que pretendam reunir-se para realizar seus ativos ou, melhor ainda, para se tornarem em consolidador, estarão prontas para superar essa dificuldade?

João Humberto Martorelli é advogado

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