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Usineiros criam trading para exportar álcool

Usineiros paulistas articulam a criação da Ethanol Trading, corretora que pretende exportar 700 milhões de litros de álcool em 2004. A idéia, afirma o presidente da UDOP (Usinas e Destilarias do Oeste Paulista), Luiz Guilherme Zancaner, um dos articuladores da trading, é reunir 80% dos produtores do estado de São Paulo e formar um estoque de 1 bilhão de litros de álcool para garantir o fornecimento aos importadores.

“Temos que aglutinar e fazer um estoque grande para que o comprador tenha confiança na empresa, que vai representar um volume substancial de álcool”. De início, o álcool comercializado pela trading será destinado ao mercado asiático, especialmente à China, Japão e Coréia.

O volume de álcool que a trading manterá em estoque representa 67% do estoque de passagem, estimado em 1,5 bilhão de litros, que as usinas do Centro-Sul do país terão no início da safra 2004/2005, em maio. “Se não segurarmos essa safra antes de definirmos onde colocar esse álcool, vamos nos lembrar amargamente do ano de 2004”, afirmou Zancaner, ao comentar a possibilidade de uma supersafra e justificar a criação da trading. O empresário preside as usinas Unialco, de Guararapes, e a Alcoolvale, de Aparecida do Taboado (MS).

A iniciativa dos usineiros, além de abrir novos mercados para o álcool brasileiro, afirma, vai permitir ao setor o crescimento sustentado. “Se continuarmos com a produção desordenada sem buscar novos mercados, nós produtores, vamos dar um tiro no próprio peito”.

A corretora deve ainda ajudar o setor a recuperar os preços do álcool, acredita. “As primeiras reuniões para a criação da trading já provocaram reação no mercado”. O litro do hidratado, por exemplo, chegou a ser comercializado a R$ 0,35 na semana passada e hoje, está cotado a R$ 0,37.

FEICANA – A expectativa é de que a Ethanol Trading seja implementada em março. A intenção, diz o líder de classe, é fazer o lançamento oficial durante a Feicana (Feira de Negócios da Agroindústria Sucroalcooleira), que será realizada de 9 a 11 de março no Recinto de Exposições Clibas de Almeida Prado, em Araçatuba. O evento deverá contar com a presença do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, e da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.

A corretora terá sede em São Paulo e será administrada por Roberto Gianetti da Fonseca, ex-secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior). O executivo, afirma Zancaner, possui grande experiência no mercado internacional e se encarregará de buscar novos mercados para o álcool brasileiro. Gianetti já participou de reuniões com usineiros em Catanduva, Ribeirão Preto, Sertãozinho e Araçatuba. Hoje, participa de nova reunião, em São Paulo.

Grandes grupos já garantiram a participação na Ethanol Trading, segundo Zancaner. Ele acredita que 100 produtores devam fazer parte da corretora. “Isso não significa que são apenas 100 usinas porque alguns grupos, como o Cosan, tem 12 unidades, a Copersucar tem 30 e a Crystalsev, tem 8”.

Gás natural tira 1 bilhão de litros de álcool do mercado

O crescente uso do GNV (Gás Natural Veicular) tirou do mercado brasileiro 1 bilhão de litros de álcool no ano passado, segundo o presidente da UDOP (Usinas e Destilarias do Oeste Paulista), Luiz Guilherme Zancaner. “É um problema sério que estamos enfrentando porque o gás é importado e não gera empregos, mas mesmo assim é subsidiado pelo governo”.

Dados da Petrobras apontam que o consumo de GNV cresceu 830% nos últimos cinco anos, saltando dos 49 milhões de metros cúbicos para os 406 milhões de metros cúbicos. Atualmente, cerca de 600 mil veículos no país utilizam o GNV.

Para o líder de classe, o uso do gás deveria ser restrito às indústrias, em substituição ao óleo combustível, e ao transporte coletivo. “É um equívoco incentivar o uso do gás em veículos leves porque, ao contrário do que se diz, o GNV não é um combustível limpo”, afirmou. “O gás contribui para o aumento da camada de ozônio. Não é como o álcool, que limpa o ar”, completou.

Zancaner citou como exemplo os Estados Unidos, que possuem reserva de gás, mas não utilizam o combustível em larga escala. “Por que será que não usam? Falta segurança, talvez? Ou desempenho?”, questionou. “Alguma coisa tem”, concluiu.

O presidente da UDOP conta que se recusa a andar em táxis movidos a GNV. “Quem gosta de bomba é o Bin Laden”, disse, ao criticar os veículos a gás natural e questionar sua segurança.

O usineiro Rubens Ometto Silveira Mello, que preside o Grupo Cosan, composto de 12 usinas no estado de São Paulo, afirma que a Petrobras subsidia o GNV com o gás natural que vende para a dona de casa, utilizado na cozinha. “O metro cúbico do gás de cozinha é seis vezes mais caro do que o gás que vai no automóvel, então é um subsídio cruzado”.

A taxação do gás, continua, é muito menor que a do álcool, quando o álcool é um produto brasileiro, que gera emprego, enquanto que o gás é um produto importado que não gera quase nada de emprego”, criticou.

No Paraná, o setor sucroalcooleiro encaminhou ao governo do estado um projeto que proíbe o uso do GNV tanto em ônibus como em veículos de passeio. “Estamos otimistas com a aprovação do decreto que propomos porque se o GNV entrar na área veicular, vai substituir um produto importante, que gera mais de 22% do emprego rural no estado”, afirmou o vice-presidente da Alcopar (Associação dos Produtores de , Paulo Zanetti.

ALTERNATIVAS – Os produtores de álcool discutem alternativas para estimular o consumo de álcool, que vem perdendo espaço para o gás natural. O Sindicato dos Produtores de Álcool do Estado de São Paulo e a Amcesp (Associação dos Municípios Canavieiros do Estado) discutem uma alternativa jurídica para interpelar as autoridades responsáveis pela regulamentação do mercado de combustíveis, na tentativa de eliminar o subsídio cruzado no mercado de gás e reduzir a vantagem em relação ao álcool.

Segundo as entidades, os preços atuais provocam “concorrência predatória” do gás natural contra o álcool combustível. Outra alternativa é o aumento na mistura do álcool anidro à gasolina, hoje em 25%, e a mistura ao diesel, propostas que não têm respaldo no governo. O consumo atual do País é de 11 bilhões de litros, sendo 6,5 bilhões de álcool hidratado e 4,5 bilhões de álcool anidro (que é adicionado à gasolina). O gás veicular compete principalmente no mercado de taxistas, que usavam carros a álcool e estão optando pela conversão dos motores. A conversão custa entre R$ 1,2 mil e R$ 1,5 mil, e o retorno é mais rápido para quem roda mais.

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