JornalCana

Usineiro precisa pôr a mão no bolso, diz Biagi

O empresário Maurílio Biagi Filho prevê que o Brasil se tornará a maior potência em energia renovável do mundo. Para ele, não há problemas no horizonte, a não ser na atitude dos dirigentes das usinas. Falta unidade ao setor quando o assunto é mercado externo, imagem e pesquisa científica. “O setor precisa colocar a mão no bolso”. Para ele, as usinas não atuam na medida de sua grandeza”.

Não se pode negar que Biagi, com suas opiniões controvertidas, é ousado e visionário nos negócios. Em 1997, o empresário fez a primeira grande fusão do setor, unindo a Santa Elisa com a São Geraldo, em Sertãozinho. Em 1998, quando o setor passou pelo pior momento – o preço do álcool chegou a R$ 0,15 o litro -, Biagi, numa parceria com produtores rurais construiu a destilaria Cevasa, em Patrocínio Paulista. O que era “loucura” virou sucesso: desde então, o preço do álcool não parou de subir.

Biagi sempre acreditou na força da cana e no potencial do álcool como combustível. Tanto que, no ano passado, anunciou novos investimentos no setor. A partir da Usina Moema, de Orindiúva (SP), da qual é presidente, surgem em parceria com agricultores, cinco novas unidades. Três usinas em São Paulo: a Gariroba, no município de Pontes Gestal; a Ouroeste, na cidade de mesmo nome; e a Usina Vertente, em Guaraci. Duas em Minas: a Itapagipe e a Frutal.

Seguem-se os principais trechos da entrevista concedida por Biagi à este jornal:

Gazeta Mercantil – Pode-se dizer que agora o setor sucroalcooleiro está livre de problemas?

Maurílio Biagi Filho – As dificuldades fazem parte do negócio, mas não vejo problemas no horizonte. Produzimos um produto global. O álcool, se já não é uma commodity internacional, está chegando lá. Além disso, o cenário mudou. Está clara a importância do álcool na matriz energética brasileira. O álcool começa a ser visto como prolongamento das reservas de petróleo no mundo.

Gazeta Mercantil – O que ganha o Brasil como líder em tecnologia de álcool?

O Brasil poderia ganhar mais se concentrasse esforços em tecnologia e marketing. Mas o País tem a possibilidade de se tornar potência mundial em energia renovável. Pelo pioneirismo em álcool e, agora, com o biodiesel, nas suas mais diversas procedências. E pelo engajamento da Petrobras nos negócios de álcool e biodiesel. A Petrobras poderá representar a centralização de esforços para a conquista de novos mercados, formando com os produtores uma aliança que nenhum outro país do mundo tem.

Gazeta Mercantil – O setor é bom distribuidor de renda?

É o que mais distribui renda no agronegócio. Porque os lucros, em grande parte, são reinvestidos no negócio. O setor paga os mais altos salários do agronegócio, tanto na área industrial quanto na agrícola. Um cortador de cana não ganha menos de R$ 600 por mês. Além disso, somos os que mais pagam impostos.

Gazeta Mercantil – O senhor se preocupa com a imagem do setor. Houve avanços?

A imagem melhorou porque álcool está na moda. Poderia ser impecável. Não se deveria ligar o corte da cana à morte? Não se trata de esclarecer fatos, mas de um programa de imagem de longo prazo.

Gazeta Mercantil – O Brasil já plantados com cana 6 milhões de hectares. A área aumenta a cada ano. Não preocupa o risco dessa monocultura ser atacada por pragas?

A falta de investimento em pesquisas preocupa. Com os canaviais estão se expandindo em todo o País, as ameaças são maiores. Estamos caminhando para 20 milhões de hectares. Já gastamos mais com pesquisa no passado. Logo teremos 400 usinas. Apenas cem são filiadas ao Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Quem não é filiado não paga e se beneficia das pesquisas. Com mais consciência corporativa, os gastos por unidade seriam menores e o orçamento para pesquisa poderia triplicar. Os investimentos nesta área precisam aumentar para reduzirmos os riscos.

Gazeta Mercantil – Qual a evolução da produtividade?

Nos últimos 30 anos, aumentou a produtividade em 3% ao ano na industria e no campo. Isso contribuiu para a redução de custos, embora nos últimos anos, as despesas com insumos e mão-de-obra tenham aumentado muito. Mas o álcool, sem subsídios e com o preço liberado, tem se mostrado mais competitivo do que a gasolina.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram