Mercado

Usinas ressuscitam plano de retenção

Os empresários do setor sucroalcooleiro voltaram a desengavetar o projeto de plano de retenção mundial de açúcar, que começou a ser discutido em 2001, mas não foi levado adiante. O mecanismo voltou às mesas de negociação das principais usinas do país e está na pauta do Global Alliance, que reúne os principais países exportadores de açúcar.

“A idéia é que cada país produtor faça um estoque estratégico”, disse um empresário do setor. Segundo ele, o mecanismo, se aprovado, seria acompanhado de perto por uma certificadora internacional, como a SGS, por exemplo.

“Não queremos repetir o mesmo fiasco do plano de retenção preparado para o café”, afirma a fonte. “Com o respaldo de uma auditoria internacional, poderíamos evitar que os países rompam o acordo”, afirmou.

A proposta ainda está em fase de estudos e sob consulta informal entre os principais países produtores e exportadores de açúcar, afirmou, ontem, por telefone ao Valor, o empresário Maurílio Biagi Filho, do conselho da Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP). O empresário faz parte de uma missão brasileira em Cuba, onde se discute o mercado para o álcool.

Para ser levado adiante, o plano teria de contar com a adesão dos principais produtores e exportadores mundiais de açúcar, afirmou uma fonte do setor. “Vamos amadurecer a idéia no mercado interno para ser levada aos outros países”, acrescentou. No mercado doméstico, o plano teria de contar com o comprometimento de todas as usinas.

Com as perspectivas de cenário baixista para os próximos dois anos, acentuado pela maior oferta de açúcar no mercado internacional, sobretudo do Brasil, Austrália e Tailândia, os principais players do mercado discutem mecanismos para evitar a queda os preços da commodity. O ideal é que as cotações fiquem em patamares remuneradores, entre 7 e 8 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, segundo os usineiros. “O objetivo é que durante o período de estocagem os países desenvolvam o mercado internacional de álcool, que deverá ganhar corpo a partir de 2005”, disse a fonte.

Para Júlio Maria Borges, diretor da Job Economia e Planejamento, o plano de retenção poderá não ser eficaz e trazer prejuízos ao Brasil, como ocorreu com os cafeicultores. Em 2000, o país foi o único a aderir realmente ao plano de retenção de café e acabou perdendo participação no mercado internacional, de 27% em 1999, para 21% em 2000. À época, países, como Vietnã, aproveitaram a saída do Brasil para ganhar fatia de mercado.

Há dois anos, os empresários do setor sucroalcooleiro começaram a alinhavar esse acordo. Mas o projeto não foi levado adiante porque os preços internacionais voltaram a se recuperar com a quebra da safra brasileira e, em parte, por causa da descrença dos países exportadores de que o Brasil assumiria o compromisso de estocar, afirmou Patrick du Genestoux, diretor da Ersuc, consultoria francesa de açúcar, em recente entrevista a este jornal. Genestoux informou, ontem, que não voltou a ser procurado pelos empresários. A Unica (que reúne os produtores) informou desconhecer o plano.

Banner Revistas Mobile