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Usinas podem abandonar a cana nas lavouras e atrasar safra nova

Para não pressionar o mercado internacional com uma nova safra recorde de cana-de-açúcar, já esperada para o ciclo 2004/05, os empresários do setor sucroalcooleiro do Brasil estudam abandonar parte dos canaviais e atrasar a colheita da nova safra. No acumulado do ano, os preços do açúcar no mercado interno recuaram 47% e, em Nova York, 22%.

A proposta começou a ser alinhavada há algumas semanas e já ventilava, ontem, pelos corredores do hotel Grand Hyatt, que sediou a abertura do Sugar Dinner, evento que reúne os principais produtores mundiais de açúcar e álcool e tradings. Mesmo sem uma definição do setor, a proposta foi recebida com um certo ceticismo pelo mercado.

“Se voltarmos a colher uma produção recorde de cana, os preços continuarão pressionados”, disse um empresário do setor. A mesma informação foi confirmada ao Valor por outros três empresários do setor que, juntos, respondem por quase 50% da produção de São Paulo. Procurada, a diretoria da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo – Unica, estava em reunião em Brasília.

A proposta deverá ser costurada até dezembro, quando terá a adesão de outras usinas. Segundo uma fonte do setor, cada usina poderá deixar de moer 10% de sua produção. Se confirmadas as expectativas, seriam quase 30 milhões de toneladas abandonadas nos canaviais, baseada na produção atual, de 291 milhões de toneladas, divulgadas ontem pela Unica.

Para evitar a não-adesão de parte das usinas do setor, o controle de produção seria monitorado via satélite. “Atualmente, as usinas de grande porte dispõem desse mecanismo para controlar a produção de seus canaviais”, disse um empresário paulista.

Como o ciclo da cana-de-açúcar prevê seis cortes, a produtividade seria pouco afetada, informou um empresário. O atraso da safra também é uma das estratégias dos empresários para não pressionar o mercado a partir de maio de 2004. “Podemos começar a safra com 30 dias de atraso”, disse outra fonte do setor. Ainda faz parte das propostas o programa de retenção de açúcar, em comum acordo com os principais exportadores mundiais de açúcar, para reduzir a oferta. “Temos que trabalhar o mercado de álcool”, afirmou.

Não será a primeira vez que as usinas deixarão de colher parte da produção dos canaviais. Segundo Júlio Maria Martins Borges, da Job Economia e Planejamento, nas safras 1998/99 e 1999/00, marcadas pela super oferta de cana, boa parte das usinas deixou a cana nas lavouras. “O abandono da cana nas lavouras não significa que os preços vão reagir, como algumas usinas estimam.” Segundo ele, ainda é muito cedo para fazer uma aposta nesse sentido. “A partir da safra 1999/00, os preços começaram a subir porque os canaviais foram atingidos pela estiagem.”

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