Nos dias 20 e 22 de maio, comemoram-se o Dia Mundial da Abelha e o Dia Internacional da Biodiversidade, respectivamente. Ambas as datas foram estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e alertam para a necessidade de preservação dos diversos ecossistemas ao redor do globo. No Brasil, usinas de cana-de-açúcar mantém projetos especificamente voltados para a proteção desses insetos, de forma a garantir a convivência de apiários e meliponários com a produção agrícola. Esses pequenos insetos são responsáveis pela polinização de mais de 90% das plantas nativas e 75% das lavouras, garantindo conservação da biodiversidade e segurança alimentar.
A gerente de Sustentabilidade da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), Renata Camargo, explica que os projetos desenvolvidos pelas usinas não só atendem às exigências da legislação vigente, com adoção de técnicas de manejo adequadas, como vão além dessas obrigações. “Os projetos incluem ações em diferentes frentes de atuação, desde medidas de segurança na aplicação aérea de defensivos agrícolas, até o cadastramento e monitoramento dos apiários e meliponários. Com uso de tecnologia, novos recursos de comunicação e ações de responsabilidade socioambiental, as usinas estão promovendo a coexistência harmoniosa e a preservação das abelhas”, pontua.
Renata Camargo conta que, nos últimos anos, a UNICA desenvolveu ações junto às usinas associadas para incentivar a boa convivência não só com apicultores e meliponicultores, mas com produtores de alimentos orgânicos e de outras culturas no entorno das usinas. A instituição também participou diretamente da construção do regulamento das Diretivas Técnicas do Protocolo Agroambiental “Etanol Mais Verde”, elaborado em 2017, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.
“O documento estabeleceu uma série de diretivas voltadas à garantia da sustentabilidade na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, incluindo eliminação da queima como método agrícola pré-colheita e boas práticas no uso de agrotóxicos nas áreas de canaviais do estado. As usinas se adaptaram rapidamente às exigências deste protocolo e ainda foram além. Até hoje estamos colhendo os frutos. Há projetos muito importantes sendo desenvolvidos e aprimorados, que são cases de sustentabilidade, preservação da biodiversidade e convivência pacífica entre usinas e pequenos produtores do mel e derivados”, destaca a gerente de Sustentabilidade da UNICA.
Entre as iniciativas que garantem a aplicação aérea consciente de defensivos agrícolas, conciliando produção de cana-de-açúcar e a vivência protetiva com as abelhas, está o Projeto Polinizar, da COFCO International. Com uso de tecnologia de ponta, a ação visa proteger as colmeias existentes no entorno dos canaviais, além de fomentar a criação e o aumento de abelhas de espécies nativas nas comunidades próximas, garantindo assim a preservação do ecossistema local, bem como aumento de produtividade dos apicultores para produção de mel e derivados.
O Projeto Polinizar identifica e realiza o georreferenciamento dos apiários que fazem divisa agrícola com as lavouras de cana de açúcar da COFCO International. Posteriormente, é realizado um mapeamento via satélite e, depois de passarem por análise da equipe de campo, os dados são transmissão ao GPS do avião responsável pela pulverização das lavouras. As aeronaves são equipadas com uma bomba de alta precisão, que conta com sistema de travamento automático ao identificar aproximação das colmeias. Assim, não há aplicação de inseticidas em locais classificados como áreas de “restrição”.
No geral, o projeto está dividido em quatro frentes: identificação de apicultores para o georreferenciamento dos apiários; capacitação de apicultores; mapeamento das colmeias para manejo das lavouras e apiários; e treinamentos para empresas de aviação agrícola com protocolos de segurança, aplicabilidade de defensivos e desenvolvimento de novas tecnologias. Ao todo, a COFCO International já identificou 58 apiários com mais de 5.000 colmeias, em mais de 20 municípios.
Desde que o projeto foi implementado, não houve mais registros de mortandade de abelhas relacionadas às aplicações da COFCO International nas regiões próximas das usinas de açúcar e etanol da empresa, localizadas no noroeste do estado de São Paulo. O projeto ganhou reconhecimento internacional e foi apresentado, como case da UNICA, na 14ª Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP-14), promovida pela ONU, no Egito, em 2018.
Meio bilhão de abelhas salvas
A São Martinho estima que, por meio do Projeto Abelhas, que faz o monitoramento das áreas vizinhas às lavouras de cana-de-açúcar em conjunto com apicultores locais, já tenha garantido a proteção de aproximadamente meio bilhão de abelhas, desde o início da ação, em 2019. A iniciativa é desenvolvida nas quatro unidades da companhia, com 169 apicultores cadastrados e 477 apiários mapeados, sendo monitorados mais de 313 mil hectares dentro de sua área de gestão, em um raio de 6,0 km no seu entorno. A chave para o sucesso do projeto foi o investimento em novas tecnologias de comunicação.
“O Projeto Abelhas, em parceria com empresa especializada na relação da produção agrícola com criadores de abelhas, é uma ação contínua para a preservação de polinizadores no entorno das quatro unidades da São Martinho. O total controle e manejo das aplicações realizadas pela São Martinho, associados à comunicação contínua, fluida e constante do nosso corpo técnico com os apicultores da região foi fundamental para garantir a efetividade do projeto. Era preciso fazê-los entender sobre como é feito o manejo da cana-de-açúcar para que, juntos, garantíssemos a melhor gestão conjunta das atividades”, relata André Tebaldi, Assessor de Meio Ambiente da São Martinho.
A companhia identificou os apicultores de áreas vizinhas às unidades e realizou um trabalho para auxiliar a melhor distribuição espacial dos apiários pelo uso de georreferenciamento. A usina também usou tecnologia para se comunicar com os apicultores, com emissão de alertas sobre as pulverizações, informando quando as aplicações de defensivos agrícolas são programadas. Por meio de cadastro e acesso a aplicativo específico, eles recebem, com pelo menos 48 horas de antecedência, notificações de atividades que podem impactar os apiários nas regiões monitoradas.
“Desde 2019, a intensificação da gestão e comunicação junto aos apicultores da região conferiu uma melhora significativa nos indicadores, não sendo identificada qualquer tipo de mortandade de abelhas desde então. Esse projeto contribui diretamente para o equilíbrio dos ecossistemas, uma vez que as abelhas garantem uma importante variação genética ao desenvolvimento e reprodução das plantas. Dessa forma, a São Martinho também reforça o respeito e a responsabilidade social com as comunidades, contribuindo para solidificar o empreendedorismo social aponta Tebaldi.
Ganhos socioambientais
O Programa Ciclo do Mel, desenvolvido pela São Manoel em parceria com a Associação de Apicultores de Botucatu, representa um ciclo sustentável completo, uma vez que atua na preservação da biodiversidade, fortalece a atividade econômica de apicultores locais e beneficia crianças e jovens atendidos por um projeto social presente na comunidade. Atualmente, 600 caixas de abelhas estão instaladas em 535 hectares de vegetação nativa preservada pela São Manoel, sendo que, apenas no último ano, os apicultores associados produziram aproximadamente 1.8 tonelada de mel nessas áreas.
A partir da inserção de caixas de abelhas em áreas de vegetação nativa da empresa, o programa possibilitou a criação de um indicador biológico que assegura que o manejo da cana-de-açúcar seja realizado de forma responsável pela usina. “Como a espécie é muito sensível, a convivência saudável demonstra que a aplicação de defensivos agrícolas é realizada dentro da legislação, garantindo a proteção das abelhas e, consequentemente, que os níveis de polinização sejam suficientes para a permanência da biodiversidade do ecossistema”, explica Moacir Fernandes Filho, diretor da São Manoel.
Além dos benefícios ambientais, o Ciclo do Mel incentiva a apicultura regional, oferecendo apoio jurídico para formalização da atividade e acesso a crédito. Todos os apicultores associados ao programa são cadastrados na Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo e certificados com o SISP e SIPAF (selo da Agricultura Familiar), o que permite aos produtores de mel a comercialização do produto a um preço justo, além de possibilitar a ampliação para novos mercados.
Em contrapartida, a Associação de Apicultores tem o compromisso de repassar anualmente para a São Manoel o valor correspondente a 1kg de mel por colmeia instalada. A quantia é doada integralmente para a Casa Santa Maria, instituição sem fins lucrativos que atua na proteção e amparo de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social na cidade de São Manuel, ressaltando o compromisso da empresa com a comunidade em seu entorno. Dentre os beneficiários diretos do projeto estão 16 famílias de apicultores e 120 crianças que são assistidas pela Casa Santa Maria.
Preservação, capacitação e educação ambiental
A Tereos mantém, desde 2019, o Projeto Apícola, iniciativa que incentiva o respeito à apicultura e a educação ambiental. O projeto promove atividades de conscientização ambiental para crianças e adolescentes e também e realiza diversas ações com os apicultores cadastrados, como treinamentos e capacitações que buscam aumentar a qualidade e produtividade dos apiários. Desde o início do programa, foram mapeados e cadastrados mais de 430 apiários e de 50 apicultores.
Na safra 23/24, a empresa realizou uma série de oficinas sobre a importância das abelhas para a preservação da biodiversidade e proteção do meio ambiente em escolas da região onde se localizam suas unidades industriais, no entorno de São José do Rio Preto (São Paulo). As atividades, que envolveram diversas demonstrações e até degustação de mel, foram voltadas para alunos de escolas de Tanabi, Olímpia, Guaraci e Barretos em parceria com o Projeto Kombee, que roda o país em cima de uma Kombi estilizada sensibilizando a população sobre a importância das abelhas para a agricultura e o meio ambiente, utilizando abelhas nativas do Brasil e sem ferrão.
A Tereos também inaugurou na safra passada um Hotel de Abelhas no viveiro de mudas que mantém em sua unidade Cruz Alta, localizada em Olímpia (SP). Cedido pelo Programa BeeCare, plataforma global da Bayer, o hotel consiste em uma estrutura de madeira em formato de favo de mel que possui capacidade de abrigar abelhas solitárias, que não produzem mel, mas que possuem grande importância ecológica e polinizadora.
“As abelhas são fundamentais para nosso ecossistema e garantir sua preservação é de extrema importância. Mantemos contato próximo aos apicultores do entorno de nossas unidades e canaviais para levar capacitação e orientações. Também atuamos em atividades de conscientização junto a escolas de nossa comunidade, mostrando aos alunos a importância das abelhas para o meio ambiente”, comenta Rafaela Shiota, gestora de meio ambiente da Tereos e uma das líderes do projeto.