O etanol de milho tem ganhado cada vez mais espaço no cenário energético brasileiro nos últimos anos. Pierre Santoul, CEO da Tereos no Brasil, destacou esse rápido crescimento durante um evento realizado na segunda-feira (16), focado nos “Desafios e Caminhos para a Descarbonização no Setor Sucroenergético”, evento promovido pela companhia. Segundo ele, ao contrário do que muitos pensam, o etanol de milho não compete com o de cana-de-açúcar, mas complementa a produção, sendo essencial para atender à demanda crescente por biocombustíveis.
“A produção de cana-de-açúcar sozinha não consegue suprir o aumento da procura por etanol. O milho tem sido um grande aliado, pois, enquanto a produtividade da cana pode ser elevada, a área cultivada não pode ser ampliada”, ressaltou Santoul. Embora o mercado de etanol de milho esteja em expansão, o executivo afirmou que a Tereos ainda não possui planos concretos de investimento nesse segmento, mas segue atenta ao desenvolvimento da indústria.
Santoul também abordou o papel do combustível sustentável de aviação (SAF), especialmente na Europa, onde a legislação atual permite a produção de SAF apenas a partir do etanol de segunda geração (E2G). “Estamos pressionando para que o etanol de primeira geração (E1G) também seja aceito, pois sem essa mudança, o mercado não alcançará seu pleno potencial”, explicou.
Outro ponto central da discussão foi o cenário legislativo no Brasil, com foco no Projeto de Lei do “Combustível do Futuro”, que visa integrar o etanol à gasolina e fomentar o desenvolvimento do biometano e do SAF. “A aprovação dessa legislação será crucial para o avanço do setor de biocombustíveis no Brasil, mas sua implementação correta é o principal desafio”, alertou Santoul.
Felipe Mendes, diretor de Sustentabilidade, Novos Negócios e Relações Institucionais da Tereos, também destacou o papel crucial do etanol na mitigação das mudanças climáticas, enfatizando a necessidade de melhorar a comunicação sobre os benefícios do produto, tanto no Brasil quanto internacionalmente. “A UNICA tem desempenhado um papel importante nesse aspecto, e já notamos uma mudança na percepção do consumidor brasileiro em relação ao etanol”, observou.
Mendes apontou ainda que o Brasil tem uma posição vantajosa em relação a outros países, como os Estados Unidos e a Europa, devido à menor emissão de carbono na produção de etanol. Ele também reforçou o potencial do SAF, mencionando que o etanol pode capturar até 25% do mercado de combustíveis de aviação. Além disso, destacou o uso crescente do metanol na Europa, onde a regulamentação para seu uso em combustíveis marítimos já foi implementada. “A mistura de metanol começou com 2% e deve chegar a 10% nos próximos três anos”, acrescentou.
Impacto das queimadas e ações sustentáveis
O evento também trouxe à tona os impactos das queimadas que atingiram o estado de São Paulo em agosto, afetando 30 mil hectares de canaviais da Tereos, o que representou 10% das áreas cultivadas pela empresa. Em termos de produção, a perda foi significativa, totalizando 1,7 milhão de toneladas de cana, o que gerou um prejuízo estimado em R$ 100 milhões.
Apesar disso, Santoul garantiu que a capacidade de moagem da empresa não será impactada, e deve se manter estável em relação ao recorde de 21 milhões de toneladas alcançado na safra anterior. Ele explicou que algumas áreas afetadas necessitarão de tratos culturais, enquanto outras apresentarão uma redução na produtividade.
Além das plantações, áreas de preservação permanente (APP) e reservas legais também foram atingidas, com 2 mil hectares de vegetação nativa destruídos. Em resposta, a Tereos reafirmou seu compromisso com a sustentabilidade, implementando medidas preventivas e de combate às queimadas. Essas ações incluem o monitoramento constante de suas áreas por satélites meteorológicos e o uso de veículos equipados para combater focos de incêndio.
A empresa também investe em programas educacionais para conscientizar colaboradores e a comunidade local sobre a importância da preservação ambiental e da prevenção de queimadas. “Somos pioneiros no uso de tecnologia de monitoramento por satélite no Brasil para acompanhar o desenvolvimento dos canaviais e detectar focos de incêndio. Nosso sistema cobre 100% das áreas próprias, de fornecedores e parceiros, com o suporte de 13 satélites meteorológicos que enviam alertas automáticos”, detalhou Santoul.
A cooperação com outras usinas e órgãos públicos tem sido vital para o sucesso nas ações de combate às queimadas. “Esse é um esforço coletivo. Trabalhamos diariamente para mitigar os danos dos incêndios e proteger nosso patrimônio e o meio ambiente”, concluiu o CEO.