JornalCana

Usinas já produzem mais álcool que açúcar no Brasil

A expansão das vendas dos veículos bicombustíveis no Brasil a um nível acima do esperado está levando o setor sucroalcooleiro a rever o porcentual da produção de cana que está sendo transformado em álcool e em açúcar. A prioridade será a produção de álcool, e a expectativa é de que a atual safra 2005/2006 seja a mais alcooleira desde a safra 1999/2000.

O consultor Plínio Nastari, que dirige a Datagro, consultoria especializada no setor sucroalcooleiro, estima que, na Região Centro-Sul, 52,2% da cana será utilizada para a produção de etanol, ante 50,40% na safra passada. Este aumento na produção de álcool será efetivado para atender basicamente ao mercado interno e ocorrerá em detrimento da produção de açúcar. Na região de Ribeirão Preto, o porcentual dedicado ao álcool já atinge 54%, diz o presidente da trading Crystalsev, João Carlos Figueiredo Ferraz.

Diante do alto preço do petróleo e da existência de álcool combustível relativamente barato no Brasil, as vendas de bicombustíveis dispararam, tendo superado a dos carros novos movidos a gasolina.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em junho foram vendidos 71.260 bicombustíveis, 51,9% de todos os carros novos vendidos. No acumulado do primeiro semestre, foram 302.435 unidades, 39,5% de todos os carros novos vendidos. Em comparação com o primeiro semestre de 2004, quando as vendas foram de 102.069 unidades, o crescimento é de 152,4%.

Nastari ressalta que esta maior produção de álcool irá reduzir a oferta de excedente exportável de açúcar. “As exportações brasileiras de açúcar na safra 2005/2006 devem permanecer estáveis em relação à safra passada porque toda a expansão registrada na produção de cana foi direcionada para a produção de álcool”, diz. A produção de cana deve atingir 402 milhões de toneladas em 2005/2006, 5% a mais que na safra anterior.

Mesmo assim, o consultor está prevendo que os estoques de passagem de álcool sejam bastante apertados no final desta safra. E, segundo ele, as exportações de álcool deverão ser prejudicadas, ficando em torno de 2,3 bilhões de litros, mesmo com a perspectiva de um crescimento na demanda internacional. Isto porque predomina no setor o sentimento de que o mercado interno de álcool deverá ter prioridade mesmo num momento de expansão da demanda externas de açúcar e álcool.

“O mercado externo de álcool será alternativo para se vender os excedentes e o setor sucroalcooleiro do Brasil não vai se apoiar nele”, diz o empresário Maurílio Biagi, presidente do recém-criado Comitê de Agroenergia e Biocombustíveis da Sociedade Rural Brasileira. Desta forma, o setor não corre o perigo das commodities exportadoras, como a soja, que têm o preço afetado quando outros países produtores, como os Estados Unidos ou a Argentina, aumentam a oferta.

Os preços do açúcar no mercado internacional também estão sendo sustentados pelo comportamento dos produtores brasileiros. “O mercado trabalha com a expectativa de que haverá o mesmo volume de açúcar disponível para exportação nesta safra ante a safra passada, mesmo com o aumento da demanda internacional”, afirma Nastari. Países exportadores como a Austrália, China, Tailândia e Cuba estão enfrentando problemas com o clima e deverão reduzir a oferta externa. “Esta alta de preços que o mercado está registrando é um sinal de que os países consumidores estão utilizando seus estoques estratégicos”, diz.

A Organização Internacional do Açúcar (OIA) informou esta semana que este processo deve reduzir os estoques mundiais de 63,3 milhões para 61,1 milhões de toneladas. Nastari acredita que os preços internacionais do açúcar podem subir no curto e médio prazos. Já em relação ao álcool combustível, ele acha que os preços devem permanecer sustentados, mas não deverão ultrapassar R$ 1 por litro.

Para atender, no mercado interno, a esta maior demanda por álcool combustível, o processamento da safra está mais acelerado no Centro-Sul. Dados da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) mostram que desde o início da safra, em abril, até 1.º de julho o processamento da cana já ultrapassou em 29,05% o registrado na safra passada, com a colheita de 107,4 milhões de toneladas. No período, a produção de açúcar está 27,25% maior e, na produção do álcool, o aumento atinge os 40%, com a obtenção um aumento de 7,89% no volume de litros de álcool por tonelada de cana.

Economia compensa investimento

O consultor e presidente da Datagro, Plinio Nastari, estima que o Brasil deixou de gastar US$ 121,26 bilhões, já incluídos os juros, entre 1976 e 2004, com o uso do álcool como combustível em substituição à gasolina – puro ou misturado. Sem os juros, o valor seria de US$ 60,74 bilhões, de acordo com Nastari, que participou da 25ª reunião do conselho da Associação Mundial dos Plantadores de Beterraba e Cana (WABCG), em Ribeirão Preto (SP).

Desde 1976, ano em que o Proálcool foi implantado e o uso do combustível foi incentivado pelo governo federal, o País substituiu 229,4 bilhões de litros, ou 1,44 bilhão de barris, de gasolina, e economizou o correspondente a 11% das reservas do combustível feito do petróleo. Sobre a safra brasileira 20052006, Nastari reapresentou no evento os números da previsão da consultoria feita em maio, de um processamento de 402 milhões de toneladas de cana e a produção de 27,5 milhões de toneladas de açúcar e 16,4 bilhões de litros de álcool no Brasil.

O presidente da Datagro disse estar satisfeito com os números da Companhia Nacional de Abastecimento, divulgados na semana passada, na sua primeira estimativa oficial para a safra de cana-de-açúcar, um processamento de 401,5 milhões de toneladas de cana. No entanto, Nastari contesta que a produção de álcool chegue a 17,5 bilhões de litros em 2005/2006, como prevê a Conab. “A diferença está na produção de álcool no Nordeste, estimada pela Conab em 2,5 bilhões de litros, que supera em 1 bilhão de litros o previsto”.

O Brasil vai ampliar a transferência de tecnologia brasileira de uso e distribuição do álcool combustível, hoje restrita à Venezuela, para a Colômbia e países da África e Ásia. Segundo o gerente de Álcool e Oxigenantes da Petrobras, Sillas Oliva Neto, serão transferidas tecnologia, por exemplo, que tornam viável o transporte de álcool por dutos.

Sem revelar quais países da África e Ásia serão atendidos pelo programa, Oliva Neto lembrou que desde março pelo menos uma delegação estrangeira visita o País por semana para conhecer a estrutura de produção e distribuição do etanol. Ele defendeu que o valor internacional de referência a ser criado após o combustível se consolidar como uma commodity deveria ser calculado tendo como parâmetro o preço da gasolina. (Tribuna do Norte)

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram