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Usinas falham em reflorestamento

Além de desmatar segundo o Ibama foram pelo menos 85 mil hectares em cinco séculos , as usinas de Pernambuco não sabem reflorestar. Estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mostra que empresas do setor sucroalcooleiro empregam apenas 10% do número de espécies de árvores necessário à restauração do ecossistema.

As usinas, diz a pesquisa, usam em média oito tipos de plantas por hectare, quando o mínimo para a recomposição ecológica é 80. O cálculo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), virou norma. Baseado nele, o governo de São Paulo criou resolução em 2003. Para áreas com menos de um hectare, a quantidade mínima de espécies recomendada é 30.

O levantamento, de 2005, analisou florestas plantadas de 11 usinas. O trabalho, concluído recentemente, incluiu empresas de Alagoas. As usinas foram indicadas pelo Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), entidade não-governamental com sede em Maceió voltada para projetos de reflorestamento das empresas do setor.

A equipe da UFPE vistoriou, por dois meses, as 11 empresas. Além de visitas ao campo, pesquisadores levantaram dados como a área total, a reflorestada e a de mata nativa, junto à direção das usinas. O resultado é uma monografia de conclusão do curso de biologia, dividida em dois artigos científicos enviados para publicação em revistas especializadas. O trabalho, orientado pelo ecólogo da UFPE Marcelo Tabarelli, foi apresentado semana passada pelo aluno Tarciso Carneiro Leão.

Os dois Estados foram escolhidos por ocupar a área de mata atlântica do Nordeste mais rica em biodiversidade. Abrangendo ainda Paraíba e Rio Grande do Norte, a floresta abriga dois terços das espécies de aves e 8% das plantas vasculares da mata atlântica brasileira.

Chamado Centro de Endemismo Pernambuco, esse trecho da floresta costeira é o que apresenta o mais crítico estado de conservação do ecossistema. Além das várias espécies de animais e vegetais endêmicas, a região abriga enorme riqueza biológica, estimada em mais de 2.250 espécies de plantas, 124 de mamíferos, 96 de répteis e anfíbios e 434 de aves.

Isso faz desse centro de endemismo o local onde os esforços de conservação são mais urgentes, considera Tarciso Carneiro Leão. E cita estudos que reforçam a afirmação: 33,4% (196) de espécies de árvores registradas no Centro de Endemismo Pernambuco apresentam apenas uma população conhecida e a floresta remanescente está reduzida a 5% da sua área original.

A maioria dos remanescentes de mata atlântica nessa área está nas usinas, daí os esforços de reflorestamento se concentrarem no setor sucroaocooleiro. Se, no passado, as usinas destruíram a mata atlântica, hoje está nas mãos delas restauras o ecossistema, diz Tarciso Carneiro Leão. No levantamento, ele verificou que, das oito espécies mais usadas, quatro são exóticas, ou seja, não pertencem ao bioma mata atlântica.

Para o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçucar), Renato Cunha, 80 espécies é um exagero. Ninguém começa plantando tudo isso. Se usa primeiro as pioneiras, depois as outras espécies, sucessivamente.

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