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Usinas e fornecedores de cana se unem no combate ao fogo

Queimadas têm exigido a antecipação da renovação dos canaviais

Os incêndios criminosos ou acidentais nos canaviais são motivos de preocupação para o setor sucroenergético, pois são grandes os prejuízos financeiros e ambientais causados pelas queimadas.

A chuva, que chegou com a primavera, ajudou a amenizar os focos de incêndios, mas os danos foram enormes, sendo que mais de 11 mil hectares de cana foram atingidos pelo fogo, o equivalente a 0,2% da área de cultura no estado de São Paulo, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

Em geral, a maioria dos focos de fogo nas plantações tem origem nas áreas próximas as rodovias ou que tenham acesso fácil da população. Bitucas de cigarro, fogueiras, limpeza de terrenos, soltura de balões, latas ou vidros, até mesmo garrafas pet, que com a ação do sol podem iniciar o fogo, são as principais causas dos incêndios.

“Infelizmente o dano causado por essas ações atinge não só o produtor de forma direta, mas a perda ocorre também para a sociedade, prejudicando ainda mais a qualidade do ar, além de uma perda irreparável ao meio ambiente”, afirma a Associação Rural Vale do Rio Pardo (ASSOVALE), que atende fornecedores da região de Serrana (SP).

Em se tratando dos produtores rurais, além dos prejuízos econômicos e riscos à vida no combate aos incêndios, por diversas vezes, são acionados criminalmente, administrativamente e civilmente, até comprovarem ausência de responsabilidade na ocorrência do incêndio. Os agricultores também se tornam alvo direto de acusação por vezes infundadas, pela sociedade que desconhece os transtornos causados pelo incêndio criminoso.

Para se ter uma ideia, de acordo com um levantamento feito pelo Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) e Polícia Ambiental os focos contabilizados totalizam 12,9 mil hectares entre matas e canaviais e motivaram R$ 1,037 milhão em autos de infração.

Segundo a ASSOVALE, a maioria dos acionamentos recebidos por sua Brigada foi para atender incêndios em área com cana colhida, envolvendo assim um empenho conjunto com produtores para o controle rápido e eficaz do fogo para evitar que atingisse a vegetação nativa existente ao redor. Mas, em muitos casos, são matas fechadas que dificultam o acesso o que compromete o combate ao fogo e aceleram a sua propagação.

Como exemplo, recentemente, em um final de semana, a Brigada foi acionada para controlar o foco de incêndio próximo a Serrana, que se alastrou por áreas de associados e não associados. Mesmo com o intenso esforço para conter a queimada, por mais de 72 duas horas no seu combate, o fogo atingiu três municípios.

Queimadas exigiram a reforma de canaviais

Bonaccorsi preciso adiantar a reforma dos canaviais

Rogério Consoni Bonaccorsi, com fazenda localizada em Luiz Antonio (SP), também sofreu os impactos dos incêndios que atingiram a região. “Na minha propriedade tivemos prejuízos na brotação do canavial, portanto foi preciso antecipar a reforma de 20 hectares”, contou.

Bonaccorsi explica que o fogo atingiu sua lavoura no dia 27 de julho e a causa foi o descuido e/ou negligência de um caminhoneiro que jogou uma bituca de cigarro, embora tiveram todos os tipos de incêndios na região.

A região de Jaboticabal (SP) também foi muito afetada pelos incêndios. “Independente da causa, os prejuízos agrícolas e ambientais são enormes. Os produtores e usinas têm trabalhado muito com suas brigadas de incêndio para chegar rápido aos focos e minimizar os problemas causados por incêndios acidentais ou criminosos”, comenta Paulo Rodrigues, do Condomínio Agrícola Santa Izabel.

Para evitar maiores prejuízos, campanhas de conscientização e orientações são feitas regularmente. “Há quase uma década, a ASSOVALE orienta seus associados, enfatizando a importância da metragem e da manutenção dos aceiros, principalmente de divisa com as vegetações nativas, que devem ser superiores a seis metros. Por isso é feita periodicamente laudos periciais preventivos nas áreas dos associados objetivando documentar essas ações”, afirma a entidade.

É o caso também da campanha de Campanha de Conscientização, Prevenção e Combate aos Incêndios, uma iniciativa da ABAG/RP, Usinas e Produtores Rurais, que já está em sua 6ª edição. A iniciativa traz dessa vez, diariamente, desde julho, informações sobre as áreas mais suscetíveis aos incêndios em todo o estado de São Paulo, que são divulgações nos telejornais da EPTV, durante a previsão do tempo.

Mônika Bergamaschi ressalta importância da campanha de prevenção

O “Indicativo de Incêndios” é feito pela Somar Meteorologia para todo o território paulista. Foi desenvolvido um modelo no qual são correlacionados dados de condições observacionais, e de previsão de chuva em curto e médio prazo, além de umidade relativa, balanço hídrico, e outras variáveis meteorológicas que permitem indicar, com maior precisão, as áreas e regiões com maior potencial de risco de ocorrência e propagação de incêndios.

Neste ano, os parceiros da Campanha são: ABAG/RP; Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana); Grupo Biosev; Grupo Pedra Agroindustrial; Grupo São Martinho; Grupo Tracan; Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana); Sindicato Rural de Morro Agudo; Tereos Grupo Empresarial; Ipiranga Agroindustrial; Usina São Francisco – Grupo Econômico Balbo; Usina Santa Fé e Usina Santo Antônio – Grupo Econômico Balbo.

“A campanha é realizada durante o período mais seco do ano, quando historicamente a ocorrência de focos de incêndio é maior”, explica Mônika Bergamaschi, presidente do Conselho da ABAG/RP.

O mapa do estado com as áreas com maior suscetibilidade à ocorrência de incêndios, o “Indicativo de Incêndios”, será também divulgado no hotsite da Campanha: www.incendiosprevina.com.br, e nas mídias sociais da ABAG/RP e dos parceiros.

As diversas ocorrências de incêndios registradas durante o inverno exigiram investimentos expressivos de usinas e fornecedores de cana para proteger o canavial. Considerado o seu maior ativo, as lavouras de cana representam 60% dos custos de produção de açúcar e etanol.

De acordo com a Raízen, de forma geral, as áreas atingidas por incêndios apresentam uma perda de massa de cana (toneladas) da ordem de 15%. Isso gera uma necessidade de 1,3 a 2,3 R$/tc de custo pra repor a biomassa perdida.

Levando esses fatores em conta, a estimativa da companhia é de um prejuízo na ordem de R$ 25/toneladas de cana queimada. Na última safra, o valor do impacto na Raízen em função da perda de cana gerada pelos incêndios agrícolas superou os R$ 40mm.

Rodrigo Morales

“É importante contextualizar que esse cálculo é complexo e é impactado por diversos fatores externos que são difíceis de serem isolados do custo total de produção. Fatores como o tipo produto que a indústria está fabricando, variedade e mês de colheita da cana, idade do canavial, localização da fazenda atingida pelo incêndio e variações nos custos de insumos”, explicou Rodrigo Morales, gerente corporativo de Logística da Raízen.

A companhia faz um investimento anual em prevenção e combate a incêndios de R$ 28 milhões. Possui uma grande estrutura de brigada, com 80 caminhões pipas e 23 frotas leves para fiscalização, sendo que o plano para 2021, é ter 171 caminhões, 28 veículos e investimentos em automação.

Além disso, a empresa conta com um protocolo interno de combate a incêndios em coberturas vegetais e tem 315 colaboradores dedicados à área de proteção e combate e 1.100 brigadistas nas operações agrícolas.

Recentemente, a companhia promoveu um webinar para debater o tema com representantes da Polícia Ambiental e Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

O evento teve como objetivo discutir as melhores práticas do setor, apresentar dados do Governo do Estado no enfrentamento às queimadas e à evolução do setor em ações preventivas, como impactos ambientais e toda a cadeia sustentável do processo, além das principais técnicas de combate ao fogo, entre outros.

Na ocasião, Sérgio Marçon, coordenador de Fiscalização e Biodiversidade da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, mostrou os eixos de atuação do governo estadual e ressaltou a parceria de longa data com o setor sucroenergético.

O coordenador destacou as diretrizes do Protocolo Agroambiental Etanol Mais Verde, cujo objetivo é a produção com sustentabilidade e o comprometimento em realizar a colheita mecanizada, além de efetuar restauração de suas áreas de preservação permanente. Assim, atualmente, aproximadamente 99,6% de toda cana-de-açúcar cultivada em São Paulo é colhida sem queima.

Nesta temporada, a iniciativa conta com 1806 brigadistas, 208 caminhões-pipa, 20 PAM (Plano de Auxílio Mútuo); 2 RINEM (Rede Integrada) e Manutenção de Aceiros e comentou que desde o início do protocolo, a redução das autorizações para queima evitou a emissão de mais de 10,6 milhões de toneladas de CO2 eq e de 64 milhões de toneladas de poluentes atmosféricos.

A parceria com o setor sucroenergético na Operação Corta Fogo também foi ressaltada pelo Tenente Coronel PM Fabiano Ferreira do Nascimento, do Policiamento Ambiental no Estado de São Paulo. Ele mencionou que o trabalho conjunto com usinas na prevenção, fiscalização, conscientização e controle de incêndios florestais tem contribuído para amenizar a situação, que proporciona prejuízos imensuráveis.

Na ocasião, o Tenente Coronel falou sobre as técnicas de controle, entre elas, o “Fogo Contra Fogo”, que consiste em aceirar um trecho do canavial ou floresta e atear fogo de forma controlada na direção do incêndio para que os dois se encontrem e as chamas cessem.

Neste esforço conjunto, as usinas investem em equipes treinadas, tecnologia e equipamentos para prevenir incêndios. Como o caso da BP Bunge Bioenergia, que suas 11 unidades possuem monitoramento por imagens de satélite em tempo real. A empresa possui um Programa de Prevenção e Combate a Incêndios, com centenas de brigadistas treinados; dispõe de 108 caminhões pipas e em três unidades já foram implementados em 100% da frota caminhões equipados com jato de água automatizados, controlados pelo operador por joystick de dentro da cabine do caminhão, o que evita a exposição do brigadista

“Temos um sistema de monitoramento de incêndios por imagens de satélite, com acompanhamento em tempo real. Dispomos ainda de um projeto piloto na unidade Pedro Afonso, no Estado do Tocantins, onde instalamos torres de observação equipadas com câmeras de alta definição para monitoramento do canavial”, explica Nadia Gama, diretora de HSSE da BP Bunge Bioenergia.

Em Minas Gerais, a Usina Santo Ângelo, localizada em Pirajuba, mantém um programa permanente de Prevenção e Combate a Incêndios no canavial. Recentemente, a usina iniciou o treinamento do Senar e Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, com o objetivo de ampliar as técnicas de enfrentamento e fazer uma prevenção e combate mais rápido e eficaz.

Para o combate das ocorrências, a usina conta com equipes de brigadas com treinamentos anuais, simulados periódicos, possui caminhões pipas e equipamentos de prevenção e combate ao fogo.

“Agir de forma objetiva em situações preventivas e emergenciais, com métodos e materiais que tragam segurança aos envolvidos são fundamentais”, destaca. o coordenador de Segurança do Trabalho Agrícola da Santo Ângelo, Antônio Carlos Campos.

Campanha da Cooper-Rubi

Em Goiás, as usinas também desenvolvem uma ação com os profissionais do campo e da indústria para conscientizar todos sobre a importância de prevenir e evitar focos de incêndio para garantir a saúde do trabalhador. É o caso da CRV Industrial e Cooper-Rubi, usinas do Vale do São Patrício.

“Desenvolver um trabalho educativo com as comunidades locais próximas às áreas florestais para evitar atitudes que levem ao risco de incêndios, além disso, incentivar as denúncias às autoridades sobre atividades suspeitas é importante”, explica o engenheiro de segurança do trabalho, Valdeir Sena.

Já a Tereos, desde 2018, conta com um sistema de monitoramento feito por meio de 13 satélites meteorológicos operados por agências governamentais (entre elas a Nasa), que enviam alertas automáticos das ocorrências de incêndio diretamente à Central de Controle da empresa, o que permite respostas ágeis e controle imediato nas áreas atingidas.

Para o controle rápido de focos de incêndio, a empresa adquiriu caminhonetes leves, equipadas com todos os aparatos necessários para combater focos iniciais, e com tração nas quatro rodas, conferindo agilidade no deslocamento e em todo o processo. O Grupo implantou o aplicativo Checklist de Aceiros para monitorar e avaliar a limpeza e metragem desta barreira contra a propagação do fogo.

Webinar abordará boas práticas obtidas em parceria entre entidades, usinas e fornecedores

A próxima Quarta Estratégica JornalCana que aconteceu hoje (23), reunindo representantes de usinas e fornecedores de cana para apresentar e debater boas práticas da parceria em prol da competitividade e sustentabilidade do setor bioenergético. O evento online contou com a participação de:

  • Alexandre Lima – Presidente da Feplana
  • Christina Pacheco – Presidente do Consecana
  • Luiz Scartenizini – Diretor Agroindustrial da Zilor
  • Marcos Jorgi – Diretor Agrícola da Coruripe
  • Ricardo Berni – Diretor de Negócios Agrícolas da Raízen

Josias Messias, diretor da ProCana Brasil, apresentador do painel.

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Para garantir sua participação nos próximos webinares do JornalCana é só se inscrever no link: www.jornalcana.com.br/webinar

Assista o webinar Usinas & Fornecedores completo:

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