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Usinas de açúcar reduzem queimadas e consumo de água

O forte crescimento da produção de cana-de-açúcar no Brasil, puxado, em grande parte, pelo maior consumo de etanol, tem sido proporcional ao aumento da consciência ecológica e de preservação do meio ambiente nas áreas produtivas. Isso já pode ser comprovado por alguns estudos e por iniciativas dos próprios usineiros. Um dos pontos mais visíveis desse processo é a redução da queima da palha e das pontas da cana-de-açúcar durante a colheita, o que desencadeia uma série de benefícios ao meio ambiente e propicia, ainda que indiretamente, a redução do consumo de água na lavoura e na produção.

Um estudo do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) mostra uma redução drástica no consumo de água pelas usinas no Centro-Sul do país na última década. Segundo o levantamento, o consumo médio de água em 1990 era de 5,6 metros cúbicos por tonelada de cana-de-açúcar produzida. Sete anos depois, esse consumo médio estava em 5 metros cúbicos por tonelada. O dado mais recente, de 2005, revela que, na média, as usinas captam 1,8 metro cúbico de água por tonelada produzida. “Há usinas que já trabalham com 1 metro cúbico por tonelada, às vezes até menos que isso”, afirma André Elia Neto, especialista em tecnologia agroindustrial e um dos responsáveis pelo estudo do CTC.

O especialista explica que os circuitos fechados de água são os principais responsáveis pela redução no consumo por permitirem o reuso da água, ou seja, o reaproveitamento do mesmo efluente. A lavagem da cana, por exemplo, é uma das etapas da produção que consome mais água. Segundo Elia Neto, há duas maneiras de reduzir o consumo nesse caso: uma é adotar o circuito fechado. A outra é simplesmente parar de lavar a cana. Mas, para que esta segunda hipótese seja viável, é necessário um outro avanço: a eliminação gradativa da queima da palha da cana na colheita. “Não se pode lavar a cana crua porque há muita perda de açúcar no processo”, explica Elia Neto. Por isso, as usinas que já adotam a colheita da cana crua e eliminam as queimadas, além de proteger o solo e o meio ambiente de forma geral, também contribuem para a redução no uso de água na produção. “Quando se fecham os circuitos de água nas várias etapas da produção, o consumo se reduz em 90%”, afirma.

A Jalles Machado SA, de Goiás, iniciou em 2004 um programa de gerenciamento de resíduos e, desde então, já conseguiu reduzir o consumo de água em 57,76% na área agrícola e em 49,11% na área industrial. Na área agrícola, o consumo de água passou de 6,44 para 2,72 metros cúbicos de água para cada tonelada de cana moída. Na área industrial, o consumo caiu de 2,83 para 1,44 metro cúbico por tonelada. Segundo Ivan Zanatta, gestor do Sistema de Gestão Ambiental da Jalles Machado, a meta da usina é reduzir o consumo de água em 5% ao ano. “Temos um processo de melhoria contínua no gerenciamento de resíduos”, afirma. Esse processo faz parte do Sistema de Gestão Integrada da usina, que tambem é auto-suficiente em geração de energia (a partir do bagaço de cana) e já comercializa até mesmo créditos de carbono.

A usina de Goiás, em parceria com a Econergy do Brasil, iniciou o projeto de créditos de carbono em setembro de 2002, através do programa de cogeração de energia com bagaço de cana-de-açúcar. Segundo Zanatta, a capacidade de geração de energia da empresa é de 40 MWH. “No período de 2001 a 2006, deixamos de emitir 47.382 toneladas de CO2. O projeto prevê que, entre 2001 e 2012, a usina vai contribuir com uma redução de mais de 135 mil toneladas de CO2. Todo esse crédito de carbono já foi vendido ao governo holandês”, conta. Além do gerenciamento de resíduos, a usina também tem outros cuidados com o meio ambiente, como a criação de um laboratório para o controle integrado de pragas, reflorestamento de matas e aterro controlado para descarte de resíduos não-recicláveis.

Outro exemplo de produção agroecológica são as Usinas São Francisco e Santo Antônio, do Grupo Balbo, fabricante do açúcar orgânico Native. “A cultura de cana é uma das mais ecológicas que existem, é uma cultura recuperadora do solo, não o contrário”, diz Leontino Balbo Júnior, diretor comercial das usinas.

Além da redução do consumo de água, Balbo detalha a cadeia de práticas na produção da cana-de-açúcar que começa com o corte da cana crua, eliminando as queimadas, e culmina com um ganho ao meio ambiente que produz até mesmo a integração da lavoura com a fauna local. “Em nossa área própria, não queimamos mais cana desde 1995. E nos nossos fornecedores, a queima já foi eliminada em quase 60%”, conta. Quando a cana é colhida crua, fica no solo toda a palha que antes era queimada. Quando essa palha se decompõe, funciona como herbicida natural no controle de pragas. Além disso, essa palha funciona como uma camada de proteção natural à erosão do solo por proteger do impacto direto da chuva. Com isso, caminha-se para o chamado solo ideal, aquele com características de nativo. “O solo ideal deve ter 5% de matéria orgânica. Solos convencionais hoje têm 1% apenas. Na São Francisco e na Santo Antônio, já migramos para 3% nos últimos 15 anos”, afirma Balbo.

O diretor da usina conta ainda que a palha tem metade das necessidades nutricionais da cana. Portanto, reduz a necessidade de adubos e nutrientes químicos. “Já temos 278 espécies de vertebrados e 194 espécies de pássaros catalogados na propriedade”. Além do benefício ao meio ambiente, há também um ganho de produtividade.

Enquanto nos últimos três anos o Estado de São Paulo teve uma produtividade média de 86 toneladas de cana por hectare, as Usinas São Francisco e Santo Antônio têm produtividade de 104 toneladas de cana por hectare.

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