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Usinas de açúcar provam gosto amargo da retenção

As usinas de açúcar do Centro-Sul estão provando o gosto amargo de ter organizado o movimento de estocagem do produto, intensificado a partir de julho, para evitar a queda dos preços. Se em dois meses as cotações no mercado doméstico registraram valorização de 30%, batendo R$ 30 a saca de 50 quilos, o mecanismo de estocagem, conhecido como “retenção branca”, provocou estrangulamento nos armazéns de parte dessas usinas, levando-as a alugar galpões extras.

O cenário atual é de um excedente de estoques em torno de 1 milhão de toneladas entre maio e agosto deste ano, sobre o mesmo período do ano passado. Nesses quatro meses da safra 2003/04, o ritmo de comercialização no mercado interno seguiu lento, com as indústrias de alimentos e bebidas retraídas. No mercado externo, os negócios – ao contrário do projetado no início do ano – também não deram a vazão esperada.

A abrupta valorização do açúcar entre julho e agosto até impulsionou alguns negócios no exterior. Os embarques de açúcar entre janeiro e agosto somaram 7,112 milhões de toneladas, um crescimento de 3,3% sobre o mesmo período do ano anterior, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mas o próprio movimento de estocagem ajudou a derrubar as cotações. Nas duas últimas semanas, os preços no mercado doméstico acumulam queda de 13%, acompanhando o desempenho baixista do mercado internacional.

O grupo Naoum, com duas usinas no Mato Grosso e uma em Goiás, teve de alugar um depósito em Cuiabá para estocar seu açúcar excedente. A empresa tentou fechar um galpão próximo à usina Jaciara, na cidade de Jaciara, mas os preços dos armazéns da região estavam superfaturados, segundo o gerente comercial, Virgílio Mugnai.

Na usina Jalles Machado, de Goiás, não foi diferente. “Nossa capacidade de armazenagem chegou ao limite, o que nos levará a alugar um depósito extra”, diz Segundo Braios Martinez, diretor administrativo da empresa.

“Os níveis de estoques atuais são suficientes para um mês de consumo no país”, afirma Júlio Maria Martins Borges, da Job Economia e Planejamento. Segundo ele, as usinas de médio e pequeno porte são as que podem ter problemas de armazenagem.

De acordo com uma fonte do setor, o movimento físico de açúcar – sem levar em consideração os contratos antecipados – está muito lento e tem provocado esse congestionamento”. “O setor já tem tradicionalmente restrição de estocagem para açúcar”, diz. A mesma fonte garante que as algumas usinas paulistas chegam até a armazenar o produto em salões de festas de igrejas.

Preocupados com o aumento dos custos, parte dos empresário chegou a procurar o governo para pedir financiamento para estocar açúcar, como ocorre com o álcool. “Não há linhas disponíveis”, diz Ângelo Bressan, diretor de açúcar e álcool do Ministério da Agricultura. “A estocagem de álcool só é financiada porque é um produto estratégico.”

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