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Usinas causam guerra entre Zeca do PT e Marina

Em viagem ao Uruguai, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, evitou polemizar com o governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, sobre a instalação de usinas de álcool na região. O governador é favorável ao projeto e disse que Marina não conhece o Pantanal, pois tem uma visão amazônica do meio ambiente. A ministra insistiu que é preciso buscar uma alternativa ambientalmente correta para a implantação de projetos no Pantanal.

— Em respeito às autoridades estaduais, prefiro me ater ao mérito das questões. Temos que buscar alternativas ambientalmente sustentáveis.

O projeto de lei do governo do estado de Mato Grosso do Sul que autoriza a instalação de usinas de álcool na bacia do Alto Paraguai, no Pantanal, é criticado por ambientalistas e especialistas em meio ambiente. Para o engenheiro com especialização em saneamento ambiental e mestre em meio ambiente Plínio Sá Moreira, o projeto é “um risco muito grande e desnecessário”, já que Mato Grosso do Sul possui grande área na bacia do Rio Paraná que pode ser utilizada para o plantio da cana e construção de usinas.

— Existe a possibilidade de acidentes como o ocorrido em 2003 na usina da Pedra, em Serrana, São Paulo, quando 280 toneladas de peixe morreram. E é isso que estamos alertando — afirmou o professor.

Segundo ele, em Mato Grosso do Sul todos os rios desembocam nas bacias dos rios Paraná ou Paraguai. O problema é que neste último, a movimentação das águas é lenta, o que aumenta a gravidade de um acidente ecológico envolvendo o derramamento de vinhoto, um subproduto do beneficiamento da cana-de-açúcar pelas usinas.

Para ambientalista, não se pode ignorar riscos

Plínio Sá reconhece que esse subproduto pode ser usado para fertilizar lavouras, mas alerta que não se pode ignorar o desastre ambiental que seria um acidente com o vinhoto. Para ele, o argumento dos defensores do projeto de que não há risco de acidente ecológico pelo fato de as usinas só poderem se instalar na região norte do estado, bem distante da planície pantaneira, não tem lógica.

— Tudo que acontece nas cabeceiras dos rios vai acabar refletindo nos rios e no Pantanal — afirma o professor.

O biólogo e diretor-executivo da ONG Ecoa (Grupo Ecologia e Ação), Alcides Faria, afirma que o projeto das usinas é “um desastre, inconstitucional e mal redigido”:

— Além da poluição pelo vinhoto, há risco da morte lenta, segura e gradual do Pantanal, por causa das queimadas dos canaviais e o uso de herbicidas nas lavouras de cana.

Na mensagem que acompanha o projeto de lei, Zeca do PT diz que a instalação de novas usinas na bacia do Alto Paraguai vai permitir que o estado dobre a área plantada de cana-de-açúcar nos próximos cinco anos e gere 15 mil empregos diretos no interior. O governo alega também que não há risco de acidentes provocados pelas usinas, já que há tecnologia disponível para o controle dos poluentes.

O governador e o secretário de Produção, Dagoberto Nogueira Filho, afirmam que mesmo com a pressão dos ambientalistas e especialistas e da manifestação contrária da ministra o Executivo não vai retirar o projeto de votação. Anteontem o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Londres Machado (PL), recebeu o parecer de Marina, reafirmando que o projeto é inconstitucional, pois desde março de 1985 existe uma Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), proibindo a instalação de usinas de álcool em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Por causa do projeto, o ambientalista Francisco Anselmo de Barros suicidou-se ateando fogo ao próprio corpo, durante um protesto contra o projeto, no sábado passado, no centro de Campo Grande. O ambientalista foi internado em estado grave e acabou morrendo no domingo.

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