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Usina sucroenergética conviverá com dólar a R$ 3,50, diz especialista

Às vésperas de iniciar a safra 15/16 na região Centro-Sul do país, o setor sucroenergético deve se preparar para conviver com um dólar de R$ 3,50 neste ano. Em até dois anos, a moeda americana valerá R$ 3,75.
A avaliação é de Samuel Levy, diretor geral da consultoria Suporte & Resistência, especializada no setor de açúcar e de etanol.
Na entrevista a seguir, Levy fala sobre o futuro do mercado mundial de açúcar no curto e longo prazos. E explica porque o setor sucroenergético voltará a ter ganhos nos próximos anos.
JornalCana – Por que o dólar vive a atual escalada de alta?
Samuel Levy – As altas recentes resultam diretamente da crise política e econômica do Brasil. Não há dúvidas disso. Outro componente importante, que muitos ignoram, é que há seis meses o dólar sobe acentuadamente no mercado internacional.
Essa alta vai parar?
Não. A alta do dólar no mercado internacional continuará impulsionando o dólar para cima no Brasil, independente de qualquer amenização ou até resolução sobre a crise política e econômica brasileira. Desde 2008, com a crise, o dólar ficou muito desvalorizado. No momento, a conjuntura internacional é tal que os EUA são o único país com crescimento sustentável e atrai capitais do mundo todo. A China desacelera e a Europa só agora emprega afrouxos monetários que os EUA já fizeram.  
Qual sua avaliação sobre a valorização do dólar?
A moeda americana continuará avançando no mercado internacional. Para este ano, a moeda valerá em torno de R$ 3,50. E no longo prazo, entre um ano e meio e dois anos, R$ 3,75. 
Isso é bom ou ruim para o setor sucroenergético?
Para o setor, implica no seguinte: o açúcar, nos contratos da bolsa de Nova York, quebrou de forma definitiva na última sexta-feira (13), quando o contrato com vencimento em maio encerrou a 12,70 centavos de dólar por libra-peso. Os 13 centavos viraram resistência importante. Difícil ir acima disso no curto prazo. E a pressão é de o preço continuar caindo. 

Levy: cenário para o açúcar melhora no segundo semestre
Levy: cenário para o açúcar melhora no segundo semestre
Por que?
Os fundamentos para o primeiro semestre de 2015 no Centro-Sul estão negativos, com chuvas boas, o que deve implicar em uma moagem maior do que a prevista, com até 590 milhões de toneladas na região. No cenário internacional de açúcar, a Índia também deve produzir acima do esperado, com pelo menos 26,5 milhões de toneladas e a Tailândia, onde houve seca em 2014, produzirá mais porque o ATR aumentou com a estiagem e com o calor, e deverá chegar a 11 milhões de toneladas, fora seu estoque, que é enorme. 
Então a desvalorização do real irá penalizar ainda mais o setor sucroenergético brasileiro?
É preciso lembrar que desvalorização do dólar tem mitigado problemas. Mesmo com o contrato a 12,70 centavos de dólar por libra-peso em NY, com o dólar a R$ 3,25 o produtor brasileiro faz R$ 950 com a tonelada, que é bem acima do custo e torna o valor remunerador em reais. 
Mas há o endividamento das unidades..
É evidente. Isso precisa ser resolvido, pode haver alguma intervenção governamental, estendendo o prazo de pagamento. Mas em termos de operacionalidade, a situação está remuneradora. 
E o que acontece com a Índia e com a Tailândia?
Enquanto o real se desvaloriza, e remunera a produção brasileira, isso não é o caso de países como a Índia e a Tailândia, onde as moedas estão estáveis e contratos a 12,70 centavos de dólar por libra-peso são extremamente prejudiciais. E nem subsídios ou incentivos tailandeses para migrar a produção do arroz para a cana não irá resolver. Na Tailândia, por exemplo, da produção de 11 milhões de toneladas de açúcar, 2,5 milhões representam a cota interna, o consumo no país. Para esse volume, o país fixa a tonelada em US$ 700, que é o dobro do preço em Londres. Assim, quem vende no mercado interno está bem. Mas e as restantes 8,5 milhões de toneladas? O prejuízo é grande. 
O mesmo acontece com a Índia?
Na Índia, o preço interno está lá embaixo porque há estoque enorme e a produção é elevada (26,5 milhões de toneladas). Com o preço internacional a 12,70, nem subsídios de US$ 0,64 por tonelada permitem a exportação. Para exportar, o preço internacional deveria ser de 14,40, com o subsídio de US$ 0,64. O produtor pode até exportar para fazer caixa, mas isso não é sustentável. O consumo interno de açúcar na Índia é de 24 milhões de toneladas, mas o país faz principalmente o cristal. O governo dá subsídios para as unidades fazerem e exportarem VHP, produto normalmente não processado. Portanto, o que se diz de que a Índia ameaça o Brasil é balela. O mercado caiu quando foram anunciados os subsídios porque a tendência era de baixa, e qualquer notícia baixista reduz ainda mais.
Há cenário positivo?
A produção de açúcar na China até agora, quando estamos na metade do ano-safra, está 21% abaixo da produção de 2014. Significa que o país irá importar açúcar branco e isso sustenta o spread das primeiras telas (julho contra maio), com apenas 7 pontos de carry. Indica uma certa força para o mercado físico. No mais, o prêmio de açúcar branco subiu de US$ 62 para US$ 83. Isso indica que há demanda por açúcar branco. Significa que também haverá para o VHP. A demanda provém da China, embora oficialmente as estatísticas não refletem isso porque há muito contrabando. Mas essa situação explica a alta do prêmio. Resumindo, estamos na fase final de baixa de longo prazo, que começou em fevereiro de 2011 quando o preço do açúcar alcançou 36,08. A boa notícia é que estamos no fim dessa fase de baixa. No segundo semestre, com tela de outubro, veremos melhoras. No ano 15/16, no Hemisfério Norte, haverá déficit porque os preços baixos irão inibir a produção mundial e, pela primeira vez, deverá haver queda mundial na produção de açúcar.  
Então o segundo semestre será bom para o setor?
Poderemos ver um início de melhoramento ou de tendência de alta de preços, que pode durar um bom tempo. Uma coisa importante é que até 2020, ou seja, daqui 5,5 anos, o mundo precisará de 20 milhões de toneladas extras de açúcar por conta do crescimento de consumo. De onde virá essa oferta? Nenhum país hoje investe em greenfield, porque os preços baixos não permitem. E só no Brasil foram fechadas 60 usinas. Eu estou otimista no longo prazo. 

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