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Usina de etanol da Petrobras em Minas ‘patina’

Mais de cinco anos se passaram desde que a Bambuí Bioenergia começou a produzir etanol, em 2010, e a unidade, que tem como sócia a Petrobras Biocombustível, continua a processar volumes bem abaixo de sua capacidade. E esse não é o único problema. Com prejuízos sucessivos, decorrentes da baixa remuneração com o biocombustível e de perdas climáticas, a Bambuí teve que recorrer aos bancos credores para renegociar dívidas e obter crédito para se manter em operação.

Segundo fontes de mercado, esse é apenas um dos sinais que comprovam o atual desinteresse da estatal pelo segmento de etanol. Considerando a unidade mineira, a Petrobras detém, ao todo, participação em nove usinas no Centro-Sul.

Em 15 de dezembro, a Bambuí, com sede no município mineiro de mesmo nome, deverá encerrar a safra 2015/16 com moagem de 1,3 milhão de toneladas de cana, uma ociosidade de 48%. José Geraldo Ribeiro, sócio da Turdus Participações que controla a usina, disse que a unidade tem condições de moer 2,5 milhões de toneladas por ano e cogerar 30 megawatts de eletricidade a partir do bagaço. Mas a falta de investimentos dos sócios e o clima adverso vêm impedindo que a empresa alcance seu potencial. A seca no Centro-Sul no primeiro trimestre de 2014 reduziu em 30% a produtividade dos canaviais, conforme Ribeiro.

No verão deste ano, as chuvas até ajudaram, mas a falta de dinheiro para os tratos culturais reduziu a oferta do canavial a 1,3 milhão de toneladas, frente ao potencial estimado de 1,6 milhão, disse o empresário. A falta de cana também vem mantendo a cogeração em 20 MWh. “Na minha visão, a Petrobras já decidiu sair do setor de etanol. Mas ainda não formatou a maneira pela qual fará isso”, afirmou Ribeiro aoValor.

Em nota, a Petrobras Biocombustível informou que “não deliberou, em nenhuma instância”, sobre a sua saída da Bambuí Bioenergia. Afirmou, ainda, que acompanha, em “conjunto com o sócio e respeitando as regras de governança da sociedade, as melhores soluções para o negócio, considerando o atual cenário do setor de etanol”.

A percepção de desinteresse da estatal é anterior à crise atual pela qual atravessa. Por conta disso, já em 2013 Ribeiro contratou o banco Credit Suisse para assessorá-lo na venda de sua participação de 56,6% na Bambuí. Nada foi fechado. “Não era o momento. Mas ainda não desisti”, afirmou.

Nas contas do empresário, desde que o projeto foi anunciado até a construção da usina e da planta de cogeração, foram investidos R$ 550 milhões – R$ 170 milhões pela Turdus, R$ 150 milhões pela Petrobras e a diferença (R$ 230 milhões) captada com instituições financeiras.

Em 31 de março deste ano, o endividamento bancário da Bambuí era de R$ 412 milhões, sendo R$ 186 milhões de vencimento no curto prazo. A condição dos bancos credores, liderados pelo Banco do Brasil, para concluir a repactuação foi a realização de um aumento de capital pelos sócios para reduzir o endividamento em R$ 50 milhões. Esse montante foi injetado pela Turdus Participações, conforme Ribeiro, que o fez por meio de um adiantamento para futuro aumento de capital.

A Bambuí foi a primeira usina de etanol a ter uma participação da Petrobras Biocombustível no país. Pela fatia de 43,58%, a estatal aportou R$ 154,7 milhões. A aquisição, anunciada no fim de 2009, foi sucedida de outras duas parcerias da estatal no segmento sucroalcooleiro, com Guarani e São Martinho.

Nas duas companhias, a Petrobras investiu R$ 1,986 bilhão – 1,554 bilhão na Guarani e R$ 432 milhões na Nova Fronteira (joint venture com a São Martinho) – para deter participações de 42,9% e 49%, respectivamente. No dia 30 deste mês vencerá o prazo para o último aporte que a estatal fará na Guarani. Com mais R$ 250 milhões, a Petrobras Biocombustível elevará sua fatia na companhia, controlada pela Tereos Internacional, a 45,7%.

Com a São Martinho, o plano inicial da Petrobras, anunciado em 2010, era levar a moagem da única usina da Nova Fronteira, a Boa Vista, localizada em Quirinópolis (GO), para 8 milhões de toneladas. No entanto, o cenário negativo para a rentabilidade do etanol fez com que as companhias, ao fim da primeira etapa de expansão, para 4 milhões de toneladas, anunciassem o adiamento da segunda fase do projeto.

As nove usinas nas quais a Petrobras tem participação somam capacidade para produzir 1,5 bilhão de litros de etanol por ano. Em 2014/15, fabricaram 1,2 bilhão. Em 2014, a Petrobras Biocombustível informou que apenas a Nova Fonteira havia registrado lucro líquido, de R$ 70,8 milhões. A Bambuí e a Guarani registram perdas de R$ 70,8 milhões e R$ 91,3 milhões, respectivamente.

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