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Universidade de Ponta Grossa pesquisa biocombustíveis

A Universidade Estadual de Ponta Grossa está à frente de mais uma pesquisa que deve colaborar para o melhoramento dos chamados biocombustíveis. Os estudos consistem na aplicação de óleos vegetais em motores a diesel, e posterior verificação de desempenho e desgaste dos equipamentos.

O professor Pedro Henrique Weirich Neto é coordenador da pesquisa, que envolve cerca de dez pessoas, de diferentes instituições. Ele explica que o estudo está dividido em três subprojetos de análise. O primeiro consiste no uso dos óleos vegetais em trator de pequeno porte. O segundo analisa o desempenho dos produtos em tratores de grande porte. E o terceiro observa o uso desses materiais em motor instalado sobre uma bancada, em laboratório.

A pesquisa começou em janeiro, e coloca em primeiro plano o uso dos óleos produzidos a partir do girassol e da soja. Segundo o professor Weirich Neto, a facilidade de obtenção do óleo de girassol permitiria que o pequeno agricultor obtivesse o próprio combustível para ser usado em sua área de plantio.

A soja foi escolhida, entre outros fatores, por se tratar de um cultivar muito comum nessa região do Paraná. A intenção é aplicar o óleo obtido da soja na pesquisa com três tratores de grande porte, e verificar o desgaste do motor e melhor aproveitamento do diesel alternativo em cada diferente aplicação. A cada duzentas horas, os motores devem ser abertos para que esse desempenho seja calculado.

Por meio do motor colocado sobre uma bancada, os pesquisadores esperam obter dados importantes sobre o desempenho de outros óleos, além de realizar adaptações no maquinário, e obter informações de caráter mais científico.

CONJUNTO: Recursos e pesquisadores

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) já liberou, em dezembro, R$ 100 mil para a realização da pesquisa sobre “Utilização de combustíveis a base de óleos vegetais em motores alternativos de ciclo Diesel”. Parte desses recursos servirá para a aquisição de material para as análises em laboratório, e também para a reposição dos equipamentos dos motores.

Um dos motores está sendo testado, atualmente, no campus da UEPG em Uvaranas. Outros três tratores maiores terão testes sendo realizados na região de Guarapuava. A equipe do projeto conta ainda com um pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e um do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica (Cirad/França).

Uma maneira para ganhar tempo

Outra instituição diretamente envolvida na pesquisa é o Senai. O gerente da unidade em Ponta Grossa, José Fernando Alamino, se diz satisfeito com o projeto. Segundo ele, os técnicos do Senai são os responsáveis por colocar em prática as alterações apontadas como eficientes pelos pesquisadores da UEPG.

“É algo de total interesse de nossa parte, no sentido de trabalhar em conjunto com a UEPG e estar desenvolvendo uma tecnologia inovadora e cada vez mais requisitada”, diz Alamino sobre a busca de novas alternativas.

E expectativa é que, utilizando esses combustíveis, e com pequenas alterações no equipamento, possamos ter a mesma durabilidade que tem o equipamento que usa óleo diesel originário do petróleo. Ele destaca os benefícios que isso pode trazer ao meio ambiente, e contesta a suspeita de que a produção de biocombustíveis pode prejudicar a oferta de alimentos.

“Eu acho que não tem nada a ver. Nós temos espaço no mercado e temos espaço para produção e isso não prejudica em nada. É claro que depende da política do governo, no sentido de incentivar para produzir alimento e combustível. Mas isso vem acontecendo já com a cana-de-açúcar, e ninguém deixou de trabalhar com outros produtos alimentares por causa disso”, argumenta.

O professor Pedro Henrique Weirich Neto, da UEPG, calcula que a pesquisa deve se estender por quatro ou cinco anos de trabalho, período em que algumas conclusões devem ser apresentadas em publicações científicas. Entre as experiências que devem ser feitas, o professor lembra que devem ser buscadas formas de reduzir a viscosidade desses óleos, que é algo que consiste em um problema, pois dificulta o trabalho do motor. “Vamos trabalhar com adaptações. Algo que é interessante fazer é aquecer o óleo. Isso pode reduzir a viscosidade, e melhorar o desempenho”, sugere.

LACUNA: Antes de usar o hidrogênio

Como vantagens finais da pesquisa, o uso de combustível à base de plantas deve reduzir a dependência dos derivados de petróleo, que tende a se tornar escasso nos próximos anos, e cujos preços já aumentaram consideravelmente. “Eu acho que o biocombustível vai preencher uma lacuna, mas não terá uma vida muito longa. O biocombustível vem para dar tempo de a gente produzir outra coisa – o uso do hidrogênio, por exemplo”, lembra Weirich Neto.

O professor admite que os biocombustíveis podem influenciar no aumento de preços dos alimentos. Mas destaca que eles não são os grandes vilões da economia. “O adubo foi pra 100% de aumento. Tudo isso é em função do petróleo, (…) que está mais caro, e influencia no preço dos alimentos”. Ele também destaca que a pesquisa pode até mesmo concluir que esses óleos não são os mais indicados para funcionar como combustíveis. O tempo dirá.

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