A celebração do Acordo de Paris, que traz o compromisso assumido pela maioria das nações do planeta no combate às mudanças climáticas, ao final da 21ª Conferência das Partes (COP21) em Paris (França), foi recebida com otimismo pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Ao longo de 12 dias, mais de 40 mil participantes, incluindo representantes do setor sucroenergético brasileiro representado pela entidade e algumas de suas empresas associadas, estiveram em discussões e debates sobre temas abordados no documento histórico que prevê limitar o crescimento da emissão de gases de efeito estufa, estabelecendo um teto de 1,5º C para o aquecimento global.
O Acordo também possibilita, a partir de 2020, a criação de um fundo anual de US$ 100 bilhões financiado por países desenvolvidos, que terá como objetivo incentivar programas de baixa emissão de carbono para nações em desenvolvimento. O compromisso também definiu a revisão de pontos do Acordo a cada cinco anos, o que ajudará a direcionar o cumprimento da meta de temperatura, dando transparência às ações de cada um dos 195 países membros da Convenção do Clima da ONU e a União Europeia que ratificaram o documento.
Para a presidente da Unica, Elizabeth Farina, este pacto representa um grande avanço nos esforços de diferentes agentes envolvidos com questões socioambientais. “O compromisso assumido reflete as necessidades e ideias dos mais variados agentes, com propostas ouvidas pelos participantes do mundo todo”, afirma. “Além disso, as metas podem indicar boas oportunidades para a expansão internacional do etanol”, diz a representante da entidade, que esteve na COP21.
A soma das atuais Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas (INDC, em inglês) apresentadas pelas nações envolvidas no Acordo aponta para uma emissão global de 55 gigatoneladas (Gt) de gases de efeito estufa (GEEs) em 2030.
Entretanto, para que se atinja os objetivos de redução das emissões pretendidas no Acordo, este volume não deve passar de 40 Gt. “A mistura do etanol à gasolina colabora no processo de mitigação de GEEs. A aplicação dessa medida em curto prazo, também pode ser fundamental para que os países atinjam resultados quinquenais positivos”, diz Farina.
Por fim, o documento elaborado na COP21 ressalta também a importância de matas nativas e florestas na neutralização das emissões de GEEs. “Neste ponto, a produção sucroenergética brasileira mostrará sua importância para o cumprimento das metas mundiais, por seguir boas práticas ambientais e não prejudicar a produção de alimentos, uma vez que sua expansão só acontece em solo degradado e em apenas 1% do território do País”, observa Farina.
“Se o acordo foi bem sucedido, sua implementação exigirá esforço redobrado. Cada país terá que adotar as estratégias que considerarem mais adequadas para tornar suas INDCs uma realidade. Vale lembrar ainda que o tom geral dos debates em Paris aponta para a necessidade de contar com regras estáveis para atrair investimentos necessários”, segue a presidente da Unica.
“Além disso, a eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis foi considerada urgente e necessária. É importante ressaltar ainda que mecanismos que precifiquem o carbono são necessários para viabilizar a realocação dos recursos para as energias renováveis, com investimentos em ganhos de eficiência, inovações tecnológicas e o desenvolvimento sustentável”, finaliza Elizabeth Farina.
A cana-de-açúcar nas metas brasileiras
Considerada uma das metas mais ambiciosas na COP21, a INDC do Brasil prevê, até 2030, a participação de 18% de biocombustíveis na matriz energética, e um aumento de 10% para 23% no uso de energias renováveis (solar, eólica e biomassa) na matriz elétrica. De forma geral, nos próximos 10 anos, o País deverá cortar 37% das suas emissões de GEEs – com base nos níveis de 2005 -, com reais possibilidades de ampliar esta redução para 43% até 2030.
Para cumprir sua INDC no que se refere à matriz energética, o País terá que produzir 50 bilhões de litros de etanol carburante em 2030 – atualmente, este volume é de 28 bilhões de litros. Para isso, a Unica avalia que será necessário construir aproximadamente 75 novas unidades produtoras de etanol, considerando uma moagem média, por usina, de 3,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em condições normais de cultivo.
Nos últimos oito anos, porém, o setor vem atravessando uma situação delicada, com o fechamento de usinas. Segundo a presidente da UNICA, a mudança deste cenário exige estancar a perda de capacidade e reativar o investimento por meio de regras estáveis e de longo prazo. Em linha com as propostas discutidas na COP21, são necessários mecanismos de precificação do carbono que desestimulem a utilização de combustíveis fosseis e melhorem a competitividade e atratividade das fontes renováveis.
Com a ampliação da produção para atender a INDC, a cadeia sucroenergética brasileira promoveria a criação de quase 250 mil novos postos de trabalho diretos nos próximos 15 anos, com potencial de atingir mais 500 mil empregos indiretos.
Os investimentos na ampliação da capacidade produtiva chegariam a US$ 40 bilhões, com efeito multiplicador significativo para setores correlatos e ativação do mercado de fatores em um grande número de municípios no interior. Dessa maneira, a economia de baixo carbono pode ser um fator preponderante na retomada do crescimento e desenvolvimento econômico do Brasil e também de outros países.
O etanol é uma solução testada em escala comercial como instrumento para descarbonização do setor de transporte e da matriz energética e que pode fazer a ponte entre Kyoto e Paris e as metas de 2050.