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UNESP de Rio Preto pesquisa a produção de etanol a partir do bagaço da cana-de-açúcar

O aproveitamento do bagaço da cana-de-açúcar na produção de etanol é um dos maiores desafios brasileiros, uma vez que o descarte desse material representa um desperdício de 30% da energia que a cana pode gerar. A fim de estudar técnicas que tornem isso possível, há um ano, docentes da Unesp que constituem o grupo de pesquisa de Enzimas Microbianas desenvolvem um projeto que envolve diferentes etapas da produção do etanol celulósico, sob coordenação da docente Eleni Gomes, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), campus de São José do Rio Preto.

Além de Eleni, fazem parte da equipe os professores Roberto da Silva, Maurício Boscolo e Gustavo Bonilla, do Departamento de Química e Ciências Ambientais do Ibilce, João Cláudio Thoméo, do Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos do Instituto, e o docente da UNESP de Rio Claro Fernando Carlos Pagnocca, do Departamento de Bioquímica. O grupo também conta com o trabalho de uma pós-doutoranda, três mestrandos e cinco graduandos.

Segundo Eleni, a dificuldade de extrair açúcar do bagaço de cana explica-se pela sua estrutura química muito organizada e, portanto, difícil de ser quebrada por meio de processos usuais de hidrólise. “Duas etapas do projeto consistem no uso de métodos físicos para desorganizar a estrutura da parede celular do bagaço da cana. Outra frente prevê a seleção de fungos para a produção de enzimas capazes de hidrolisar a celulose e a hemicelulose, encontradas no bagaço, em moléculas de glicose e xilose, que podem ser fermentadas pelas leveduras para obtenção do etanol”, explica.

Embora os pesquisadores já tenham isolado, a partir do meio ambiente, fungos produtores de enzimas capazes de cumprir essa função, outros estudos estão sendo feitos para avaliar quais delas são as mais eficientes. “Basicamente, a melhor enzima é a mais estável nas condições de aplicação e a que apresenta menores taxas de inibição quando em contato com determinados produtos”, afirma Roberto da Silva, integrante da equipe de Microbiologia e Enzimologia.

O grupo também tem realizado, sob responsabilidade de Mauricio Boscolo, testes de vários métodos de quebra da estrutura do bagaço, como a utilização de microondas e ultra-som. Outra frente da pesquisa, desenvolvida pela equipe de João Cláudio, envolve o desenvolvimento de fermentadores, ou seja, equipamentos para produzir as enzimas e tratar o bagaço de cana. “As máquinas que precisamos não estão disponíveis no mercado, portanto a sua modelagem e construção fazem parte do projeto. Até agora, já temos dois protótipos de fermentadores”, destaca Eleni.

Benefícios – Segundo Eleni, o desenvolvimento de metodologias de aproveitamento do bagaço de cana na produção de etanol permitirá que as usinas de açúcar e álcool produzam etanol também durante a entressafra, que vai de novembro a abril. “Isso seria importante não só para a indústria, mas também para os trabalhadores, que permaneceriam empregados por todo o ano”, afirma.

Outro fator de importância é o de que, a partir do desenvolvimento de metodologias de hidrólise do bagaço de cana, será possível utilizá-las para gerar energia a partir de outros materiais, como as palhas de milho e de cana, eliminando o problema da queima de palha de cana no campo.

De acordo com a docente, a pesquisa também tem possibilitado o estudo da biodiversidade: “Nessa primeira etapa, já isolamos uma espécie de fungo que ainda não foi descrita, o que deverá ocorrer nos próximos meses”, pontua.

Premiação – O projeto “Produção de Bioetanol a Partir de Bagaço de Cana-de-Açúcar”, coordenado pela docente do Ibilce Eleni Gomes, foi um dos contemplados pelo Programa de Apoio a Projetos de Pesquisa de Docentes/Pesquisadores da Unesp em parceria com o Banco Real. O prêmio concedido ao estudo foi de R$ 200 mil.

O Programa selecionou projetos de pesquisa da Universidade que têm como objetivo contribuir com o desenvolvimento sustentável. O outro projeto contemplado é intitulado “Metabolomics in the Context of Bioenergy Production from Plant Biomass”, com coordenação do docente Vanderlan da Silva Bolzani, do Instituto de Química da Unesp de Araraquara.

Segundo Eleni, o prêmio será utilizado para adequar a infra-estrutura dos laboratórios que atendem o projeto, compra de materiais e contratação de serviços de terceiros para desenvolver os equipamentos. “Acredito que o fato de nossa pesquisa reunir diferentes especialidades foi um fator decisivo para que a Diretoria do setor de sustentabilidade do Banco Real a aprovasse”, avalia.

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