JornalCana

Uma proposta concreta

Por José Américo Rubiano — diretoria@jarubiano.com.br

Retomo o tema do último artigo “As Dificuldades do Setor” para, a partir de outras experiências, tentar mostrar que é possível sim caminhar para uma solução abrangente para o setor da bioenergia da cana. É possível sim construir uma proposta concreta.

Quando da desregulamentação (despaternalização) do setor, na segunda metade da década de 90, as usinas estavam praticamente quebradas. O álcool não tinha preço que cobrisse os custos de produção. O carro a álcool havia micado. As empresas não tinham crédito. À época o João Francisco Soares, presidente da Univalem, a quem eu prestava serviço, veio ao nosso escritório. Entre um e tantos outros cafés, concluímos que era preciso atrelar uma empresa de porte que pudesse viabilizar os financiamentos do BNDES. Fomos à Petrobrás e propusemos uma venda antecipada de álcool para entrega anos à frente. Este contrato de venda serviria como garantia dos financiamentos. Era uma operação inusitada para o mercado de álcool e seria preciso estudar melhor. Havia efetivamente um risco das empresas não performarem o contrato de venda de álcool. Argumentamos que este risco seria do BNDES ou de um de seus agentes financeiros. Três meses depois de idas e vindas ao Rio de Janeiro a proposta foi aceita pela Petrobrás. O Banco ABC que já atuava com força no setor foi o agente financeiro da operação de financiamento. A J.A. Rubiano estruturou a operação. Este trabalho resultou em financiamentos para algumas unidades da região de Araçatuba. O Cláudio Marani, à época diretor da Univalem, certamente se lembrará das dificuldades dessa operação.

2010-04-23 Industria Funcionario Usina Barralcool Arte (2)
Diversos segmentos da economia que compõem o setor têm interesse na superação das dificuldades presentes

Tempos depois novamente na Petrobrás para tratar de interesses de outro grupo do setor que pretendia implantar uma nova unidade no norte fluminense, incumbiu-me verificar a possibilidade de os royaltes do petróleo de um dos municípios da região serem destinados a compor o quadro de capital da nova unidade. Durante a discussão desse tema, fui convidado para participar de um grupo de trabalho que estava discutindo o álcoolduto Senador Canedo/Paulínia. Os investimentos seriam feitos pelo consórcio Petrobrás/Mitsui e previa a construção de 20 unidades produtoras de etanol em Goiás e triângulo mineiro, ao longo do eixo do alcoolduto. Desenhado o modelo de negócio do projeto era preciso fazer um pré-lançamento para verificar a apetência dos empresários. Sugeri que fizéssemos este evento no Sifaeg, à época presidido pelo Igor Montenegro.

Esta reunião com os empresários foi um sucesso absoluto. No final da reunião o Silas Oliva que coordenava internamente este grupo de trabalho na Petrobras, solicitou que aquelas empresas que tivessem interesse que formalizassem este interesse enviando uma Carta de Intenção. Algumas cartas eu levei em mãos acompanhado de alguns empresários. Sem dúvida pela primeira vez eu estava sentindo que havia um projeto estruturado. O álcoolduto, as empresas produtoras de álcool, a Petrobrás garantindo a compra à preços de mercado, os contratos de vendas dos produtos securitizados em favor de um fundo de investimento especialmente estruturado com o objetivo de providenciar fundos para os investimentos nas unidades produtoras. Nesta reunião de Goiás participou um cidadão que não me recordo o nome, representando um grupo de investidores, convidado pela Petrobrás, interessado na estruturação financeira do projeto. Este projetado foi abortado. Por que razão?

gasoduto
Álcoolduto poderia ter sido o momento de assumir-se como segmento econômico com peso maior nas definições dos interesses das empresas que o compõe

Perdeu-se uma excelente oportunidade de completar a desregulamentação. Este projeto estruturado do alcoolduto poderia ter sido o momento do setor assumir-se como segmento econômico com peso maior nas definições dos interesses das empresas que o compõe.

Da época desses dois casos houve uma evolução importante nas ferramentas jurídicas e financeiras que certamente facilitam a estruturação de um projeto de grande envergadura não só para superar as dificuldades presentes mas, também, estruturar saltos à frente financiando os investimentos necessários para a demanda crescente de etanol e de energia elétrica.

Como está no artigo anterior os diversos segmentos da economia que compõem o setor têm interesse na superação das dificuldades presentes.

Acompanho as negociações individualizadas de empresas para resolver seu endividamento. Estas negociações serão resultantes, em um momento de preços comprimidos dos principais produtos?

Como demonstrado existem caminhos para estruturar um grande projeto para recuperar o setor que terá necessariamente que discutir a reinserção do etanol e da bioeletricidade como protagonistas da matriz energética brasileira. Este protagonismo é tema para outro artigo. Este protagonismo é necessário para viabilizar uma proposta concreta.

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