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Uma prática pouco representativa no país

A irrigação é defendida como importante ferramenta para aumentar a produção agropecuária no Brasil sem a necessidade de expandir as áreas já ocupadas. Segundo cálculo da Agência Nacional de Águas (ANA), o país poderia dobrar o volume produzido em 20 anos se irrigasse a área já ocupada por grãos e pastagens. A prática, porém, é pouco representativa na agricultura brasileira por conta de falta de conhecimento, regulação e condições favoráveis de financiamento, segundo a opinião de especialistas.

“A demanda por alimento no mundo vai crescer muito e o Brasil tem condições de atender esse mercado aumentando sua produção com a irrigação”, diz Devanir dos Santos, gerente de conservação da ANA. Porém, se seguir o ritmo atual de crescimento da área irrigada, que é de 120 mil a 150 mil hectares por ano, seriam necessários mais de 200 anos para irrigar toda a área potencial no país, segundo a Associação Brasileira da Industria d! e Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Hoje, o Brasil irriga 4 milhões hectares, mas o potencial é de 30 milhões.

Para acelerar esse ritmo, Marcelo Borges Lopes, presidente da câmara de irrigação da Abimaq, diz que é necessário haver regulamentação da atividade, além de mais oferta de crédito. “A irrigação tem um problema de representação institucional. Hoje ela é uma diretoria dentro de uma secretaria do Ministério da Integração Nacional. O agricultor que irriga tem necessidades específicas”, diz. Desde 2007 está em tramitação no Congresso um projeto de lei para a criação de um Plano Nacional de Irrigação, que estabelece instrumentos para desenvolver a agricultura irrigada no país.

Segundo o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, hoje coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, a irrigação é uma tecnologia pouco utilizada no Brasil por falta de incentivos. Entre os problemas estão o excesso de burocracia para dar o direito de uso da água para os agricultore! s, a dificuldade de obtenção de crédito e até mesmo a falta de gente especializada para trabalhar com a técnica. “A área irrigada pode aumentar muito no país, desde que haja programas adequados para financiamento, para assistência técnica.”

Além disso, afirma, hoje muitas áreas no Brasil não dependem da irrigação para produzir. “Irrigar uma plantação não é uma regra, mas pode ser positiva. Cada caso tem que ser avaliado separadamente, considerando localização da área, custo, aumento da produção”. Os locais que não precisam de água complementar no cultivo, porém, estão praticamente esgotados, segundo Rodrigues. “O setor sucroalcooleiro, por exemplo, avança em áreas onde não há chuva o suficiente para a cana. Em São Paulo, porém, é desaconselhável irrigar”, diz.

A região Sul seria um caso a ser considerado para a expansão da irrigação. A cada dez anos há seis ou sete anos de seca, o que gera grande perdas de produçã! o, como ocorrido na safra 2008/09.

A expansão da área irrigada tem impactos ambientais, já que mais água será retirada dos rios. A irrigação utiliza em média meio litro de água por segundo para cada hectare, mas segundo Santos, da ANA, isso não pode ser considerado uma perda do recurso. “A agricultura é usuária de água e não consumidora. A água vai para o solo, evapora, volta para o seu ciclo natural”, diz.

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