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Um midas de olho no Brasil

Entre os muitos estrangeiros de olho no mercado de etanol, um dos mais entusiasmados é o indiano Vinod Khosla, bilionário radicado nos Estados Unidos e considerado um dos mais bem-sucedidos investidores de risco do mundo. Aos 51 anos, dono de um currículo que inclui a fundação da Sun Microsystems e o financiamento do Google, além de diplomas de biotecnologia e um MBA por Stanford, Khosla é uma superestrela do mundo dos negócios, reverenciado tanto em Wall Street como no Vale do Silício. Ele visitou o Brasil em abril a convite da rede de TV americana NBC para participar de um programa sobre o álcool brasileiro. Khosla aproveitou para conhecer de perto grandes empresas do setor, como a Cosan, os dois principais laboratórios de pesquisa de variedades de cana, CanaVialis e Alellyx, ambos da Votorantim, a montadora Ford e vários postos de combustível. “O Brasil é um exemplo de independência energética, não só como produtor mas também como consumidor de etanol, o que me parece bem excitante”, disse durante o programa da NBC, exibido nos Estados Unidos em horário nobre.

Khosla vai além das palavras — é um dos principais investidores privados em pesquisa de ponta no setor. Sua obsessão atual é desenvolver o chamado “etanol celulósico”, considerado por ele uma espécie de Santo Graal energético do século 21. Seu objetivo é conseguir produzir álcool com celulose, o que faria de qualquer subproduto vegetal — do papel ao capim, do bagaço de cana à casca de arroz — uma fonte potencial de energia. Dessa forma, a produtividade aumentaria exponencialmente, já que praticamente tudo que sai do campo poderia ser aproveitado na produção. “O etanol celulósico é o combustível do futuro”, disse Khosla a EXAME. O grande desafio dos pesquisadores é descobrir uma fórmula para quebrar a molécula da celulose de forma economicamente viável — ou seja, sem gasto exagerado de energia para converter o açúcar em álcool.

Por ora, o interesse de Khosla no mercado brasileiro ainda não se concretizou em nenhum negócio, embora ele admita essa possibilidade no futuro. “O Brasil oferece várias oportunidades de investimento. Estou sempre aberto a novas idéias”, diz. De concreto, há apenas uma proximidade grande com os pesquisadores da CanaVialis e da Alellyx. Os dois laboratórios da Votorantim desenvolvem por aqui uma linha de pesquisa semelhante — o desafio é fabricar álcool com celulose da cana, o que possibilitaria multiplicar por três a produção de etanol em cada hectare plantado no Brasil. “Temos interesses em comum”, diz Fernando Reinach, diretor executivo da Votorantim Novos Negócios, que acompanhou Khosla em sua recente passagem pelo Brasil. “Ele está muito entusiasmado com o que fazemos por aqui.”

Quem é Vinod Khosla

Indiano de 51 anos, casado, pai de quatro filhas, vive no Vale do Silício, na Califórnia

É considerado um dos mais bem-sucedidos capitalistas de risco dos Estados Unidos. Foi um dos fundadores da Sun Microsystems e financiou o nascimento do Google e da Genentech

É dono da própria firma de investimentos, a Khosla Ventures, e sócio da empresa de capital de risco Kleiner, Perkins, Caufield & Byers

É formado em ciências biomédicas pela Universidade Carnegie Mellon e obteve seu MBA na Universidade Stanford

Sua obsessão atual é criar o “etanol celulósico”, o álcool feito com celulose. Se bem-sucedido, será possível produzir etanol com qualquer subproduto vegetal, como papel, capim ou bagaço de cana

Apesar de seu otimismo com o futuro do etanol, Khosla sabe que o debate energético nos Estados Unidos mal começou e que não se deve subestimar a força de poderosos lobbies no Congresso americano, particularmente o das empresas de petróleo. Em um estudo recém-publicado, ele defende que as redes americanas de postos de combustível com mais de 25 filiais sejam obrigadas a oferecer etanol em pelo menos 10% das bombas. Sem uma escala dessas, afirma, torna-se impossível viabilizar a conversão dos veículos ao etanol. Khosla também pretende que o governo americano obrigue as montadoras a fabricar carros bicombustíveis. São propostas que devem enfrentar forte resistência em Washington. Por que alguém como ele, com 1 bilhão de dólares no bolso e um nome já consolidado no meio em presarial americano, resolveu comprar tamanha briga? “A esta altura da vida, estou interessado em novas tecnologias que tenham impacto social e que também sejam lucrativas”, afirma. No caso do álcool, Khosla diz ter sido atraído pelo fato de tratar-se de um combustível renovável e cuja queima libera menos poluentes do que o petróleo, atenuando o efeito estufa. Outra vantagem seria a diminuição da dependência geopolítica do Ocidente em relação ao instável Oriente Médio. Além do etanol, Khosla tem investido em novas tecnologias, como energia solar e células combustíveis de hidrogênio.

Nascido em Nova Délhi em 1955, numa família de oficiais do Exército indiano, aos 15 anos Vinod Khosla sonhava em migrar para os Estados Unidos e criar uma empresa tecnológica no Vale do Silício. Ao completar 21, mudou-se para a Califórnia e aos 25 já tinha se formado em ciências biomédicas pela Universidade Carnegie Mellon e no programa de MBA da Universidade Stanford. Quatro anos mais tarde, com outros três colegas de Stanford, Khosla fundou a Sun Microsystems, produzindo servidores e software de código aberto. Figura fundamental também na expansão da Sun, Khosla chegou ao posto de presidente da empresa que faria dele um bilionário. Sua carreira na Sun terminou em 1986, depois de atritos com os subordinados.

Desde então, Khosla é sócio da empresa de capital de risco Kleiner, Perkins, Caufield & Byers, que, entre outros sucessos, financiou a criação do Google. Foi a partir daí que sua fama de midas dos negócios ganhou corpo. Recentemente, ele abriu o próprio fundo de investimentos, o Khosla Ventures, que aposta nos projetos favoritos do dono. Hoje Khosla se diz “semi-aposentado” e com mais tempo para se dedicar à mulher, Neeru, e às quatro filhas do casal. Isso significa que o sempre turbinado Khosla trabalha “apenas” uma média de 16 horas por dia, de segunda a sexta-feira.

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