O anúncio que o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar, vinculado ao Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade da Universidade Federal do Paraná (UFPR), está prestes a liberar mais quatro variedades de cana-de-açúcar deixou o setor sucroenergético paraibano em expectativa.
Para o presidente da Associação de Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), José Inácio de Morais, a notícia foi recebida com muito entusiasmo. “A cada nova variedade, surgem novas possibilidades, de melhor adaptação ao solo, de maior produtividade e também de ampliação do teor de sacarose, de forma que notícias desta natureza sempre deixam o setor em euforia e gera grandes expectativas”, destacou o dirigente canavieiro.
Segundo divulgação da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento Sucroenergético (Ridesa), que é, atualmente, o principal núcleo de pesquisa canavieira na área do governo federal, desenvolvendo as cultivares denominadas República do Brasil (RB), desde 1992, o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar já desenvolveu 10 variedades.
Entre as vantagens das novas variedades anunciadas agora estão o elevado teor de sacarose, os diferentes ciclos de colheita e as adaptações a vários tipos de solos e ambientes.
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O coordenador do programa na UFPR, professor Ricardo Augusto de Oliveira, explica as características de cada uma delas. “Destaco o elevado teor de sacarose da RB056380 e da RB056351, sendo recomendas para cultivo em ambientes de alta a média fertilidade. Ambas possuem ciclo precoce, isto é, podem ser colhidas no início de safra. A RB006970 também tem alto teor de sacarose e apresenta um período de colheita maior, podendo ser colhida do início ao meio de safra. Ela é recomenda para cultivo em ambientes de alta a média fertilidade, com melhores resultados quando cultivada em solos com boa retenção de umidade. Já a variedade RB036152 tem resultados melhores em solos de média à baixa fertilidade. Ao longo dos cortes, ela apresenta elevados rendimentos agrícolas e possui teor de sacarose de médio a alto”, disse Ricardo.
As variedades mais cultivadas no Brasil são a RB867515, desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa, seguida pela RB966928, desenvolvida na UFPR. Essa última, liberada em 2010, está presente em 14% da área nacional cultivada com cana-de-açúcar. Ainda de acordo com divulgação da Ridesa, além das quatro variedades criadas na UFPR, a Rede pretende liberar para cultivo, ainda este ano, outras 17 variedades. No total, serão 114 qualidades de cana-de-açúcar RB desenvolvidas em 50 anos de pesquisa pelo setor público.
O que muda com o melhoramento genético de plantas
“O melhoramento genético proporciona aumento de produtividade, pois viabiliza o cultivo de plantas mais resistentes a pragas e a doenças e adaptadas para as diferentes regiões produtoras”, lembra José Inácio.
Esse processo, segundo o dirigente canavieiro, tem grande relevância para o setor agrícola e, principalmente para a sociedade, brasileira e mundial. São necessários cerca de 15 anos de estudos e pesquisas para obter uma nova variedade de cana-de-açúcar que passa por várias etapas, incluindo envios de sementes para os campos de experimentação, onde são realizadas a germinação das plântulas, a seleção de clones, os ensaios de competição de clones, a avaliação da época de maturação dos clones, a reação às pragas e doenças e depois desses estágios, que levam alguns anos, os clones são multiplicados em ensaios de validação comercial, cuja fase, dura cerca de dois anos, até que sejam comprovadas as qualidades das novas variedades em situações de manejo.
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A Ridesa é conveniada com 298 usinas no Brasil, o que representa, aproximadamente, 80% das empresas brasileiras produtoras de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade. “A Rede ainda possui diversas ações de transferência de tecnologia para pequenos produtores que geram produtos como açúcar mascavo, aguardente artesanal e alimentação animal”, destaca o coordenador.
Esse modelo de parceria com usinas e destilarias possibilita que a Rede desenvolva novas variedades e as introduza em sistemas de cultivos no Brasil para avaliá-las com base em experimentos nas empresas nacionais.
Em 2021 a Ridesa comemora 30 anos de criação e 50 anos de variedades RB. Além da liberação das 21 novas qualidades desenvolvidas em várias regiões produtoras do Brasil, haverá o lançamento de três livros abordando a temática.